Florianópolis (RV) – “Deus nos abençoe e nos proteja”. A frase encerra um comunicado
afixado no mural do Santuário Sagrado Coração de Jesus, igreja localizada na Vila
dos Ingleses, bairro de classe média ao norte de Florianópolis. As missas no local
foram suspensas na última quarta-feira (14), por conta da onda de violência que atinge
Santa Catarina, e devem ser retomadas na noite deste domingo (18). Os suspeitos dos
atos de violência têm agido em ao menos 15 cidades de Santa Catarina principalmente
por meio de ataques a ônibus do transporte coletivo e a prédios de órgãos ligados
a segurança pública.
Um desses casos foi justamente em frente à igreja, na
quarta, quando um ônibus que transportava fiéis foi tomado e incendiado por dois adolescentes
minutos antes da missa das 20h. O cancelamento das missas também acabou deixando para
o ano que vem o Cerco de Jericó, evento anual que atrai católicos da capital catarinense
e de outras cidades do Estado ao santuário.
Com quatro missas diárias ao longo
de oito noites - às 3h, 9h, 15h e 20h -, o encerramento do Cerco seria neste domingo
após meses de preparação, dizem os organizadores. De acordo com o Padre Mário José
Raimonde, responsável pelo santuário e por uma comunidade eclesiástica de cerca de
60 mil pessoas, a decisão de suspender as missas ocorreu no mesmo dia do ataque que
antecedeu a celebração.
“Só não foi pior”, lembra ele, “porque os bandidos
atearam fogo no ônibus no lado da rua oposto à igreja. Se é do nosso lado, acabava
a energia e seria um pânico generalizado. Imagina mais de 2.000 pessoas em uma situação
dessas?”, argumenta. O incêndio citado pelo religioso foi o segundo e último registrado
no bairro, que é marcado pela atividade turística pujante, na parte mais próxima das
praias, e pela presença de moradias mais simples, ruas estreitas e mesmo uma favela
na parte mais interna, favela do Siri, onde policiais realizaram uma operação logo
após os primeiros ataques. Ao todo, dois ônibus foram incendiados na Vila dos Ingleses
desde a última terça (13).
“As autoridades dizem que as coisas estão se normalizando,
mas o que vemos no bairro são pessoas ainda com muito medo. Temos que ter cautela,
sim, mas também discernimento de ver que, de fato, o cenário não está assim tão calmo”,
afirmou o religioso. O fogo no ônibus, citou, acabou atingindo também dois carros
e uma moto de fiéis que estavam na igreja e estacionaram na rua. Apesar da sensação
de insegurança gerada pelo ataque ao coletivo, Raimonde se diz “otimista” para que
a situação na cidade se normalize “em um curto prazo”. “Essa onda de violência nos
foi algo surpreendente. Talvez por isso mesmo, tenho esperanças de que ela termine
logo”, afirma. (SP)