Átrio dos Gentios em Portugal: O dueto entre o Cardeal Ravasi e o Neurocirurgião João
Lobo Antunes
Foi em Guimarães o primeiro diálogo nesta edição portuguesa do Átrio dos Gentios.
Em dueto o cardeal Gianfranco Ravasi e o neurocirurgião João Lobo Antunes. - O cardeal
Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), disse hoje
em Guimarães que a sociedade tem de voltar às grandes questões sobre a vida e o mundo
num tempo cheio de “banalidade”. “Uma das grandes tragédias do nosso tempo é que
as grandes perguntas já não se coloquem”, disse o membro da Cúria Romana no Auditório
Nobre da Universidade do Minho. “Nós procuramos algo que nos supera”, referiu. O Cardeal
Ravasi considerou que existem mais concordâncias do que discordâncias no que diz respeito
ao tema escolhido para a edição portuguesa, ‘O Valor da Vida’, destacando, a este
respeito, o papel da Bíblia como “léxico” comum da cultura. Segundo este responsável,
o que constitui a humanização definitiva é quando se “encontra o outro”, porque “a
vida precisa de relação”, de amor, incluindo “o sexo, a corporeidade, a matéria”.
“Somos seres simbólicos, não somos só um monte de células”, complementou, alertando
para o facto de os jovens estarem a “perder uma componente fundamental, o diálogo
dos rostos”. O Cardeal Ravasi evocou ainda o “sabor amargo da dor, o isolamento, a
solidão” que muitas pessoas sentem, na sua fragilidade. João Lobo Antunes, por
sua vez, lamentou a existência de uma cultura do “ruído”, que retira espaço ao silêncio.
O vencedor do Prémio Pessoa em 1996 falou sobre “qual a razão” para que as pessoas
sejam colocadas no mundo e referiu uma conversa, com um neto de 13 anos, sobre o “sentido
da vida”. “Disse que para mim, a vida só fazia sentido se fosse digna de ser vivida”,
revelou, antes de acrescentar que “a vida não tem preço”. João Lobo Antunes apresentou-se
como ‘gentio’ e destacou a importância do “funcionamento harmónico” de corpo e espírito
para compreender o sentido e a dignidade da vida. “A maneira como cada um encara a
dignidade da vida e do morrer é pessoal”, observou. Lobo Antunes retomou o seu conceito
de “compaixão ontológica” e apelou à recusa do outro como “simplesmente um meio para
obter um fim”. De um ponto de vista pessoal, o neurocirurgião disse que a sua fé “partiu
e deixou no seu lugar uma angústia metafísica”. Antes deste diálogo foi Marcelo
Rebelo de Sousa que deu início ao evento com uma conferência sobre "A identidade e
o valor da vida" tendo afirmado que “uma identidade é inseparável de um sentido de
vida, exige mais do que passado, convoca para o futuro, baseado inevitavelmente nos
valores”. Considerou ainda que o maior défice de Portugal é o valor da vida, lamentando
que se verifique nos últimos tempos um esbatimento da dimensão religiosa. No dia
de sábado decorrem em Braga debates sobre várias áreas como por exemplo o sofrimento
humano, o sentido do universo, genética e bioética o valor do corpo ente outras temáticas.
Ao mesmo tempo decorrerão exposições, apresentação de livros, uma peça de teatro e
ainda um concerto que aqui destacamos: A Missa Brevis de João Gil (Trovante) apresentada
na Sé Catedral de Braga na noite de sábado.A ministra Assunção Cristas, o antigo candidato
presidencial Fernando Nobre e a presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares,
Isabel Jonet, são alguns dos conferencistas convidados, juntando-se à coreógrafa Olga
Roriz, aos escritores Vasco Graça Moura e Valter Hugo Mãe, à poetisa Ana Luísa Amaral
e ao padre e poeta Tolentino Mendonça, entre outros.