Bento XVI à JMJ Rio 2013: "Deixem-se atrair pelo Cristo Redentor"
Cidade do Vaticano (RV) – Foi divulgada, nesta sexta-feira (16/11), a Mensagem
de Bento XVI para XXVIII Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de
Janeiro em julho de 2013.
No texto, o Papa renova o convite aos jovens do
mundo inteiro para que participem deste importante evento. “A conhecida estátua do
Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo
eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor
reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que
Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele!”
Dividida
em oito pontos, a Mensagem ressalta que o ano de preparação para o encontro do Rio
coincide com o Ano da fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos
à «nova evangelização para a transmissão da fé cristã». “Queridos jovens, escreve
o Papa, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer
Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros.”
Bento XVI reafirma
a confiança que a Igreja deposita na juventude em todo o mundo, pedindo que os jovens
coloquem seus talentos ao serviço do anúncio do Evangelho. Pedido que, para o Pontífice,
assume uma importância especial os jovens da América Latina.
Citando a missão
continental, que os bispos lançaram na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano,
realizada em Aparecida em 2007, o Papa recorda que os jovens constituem a maioria
da população no continente – o que representam uma força importante e preciosa para
a Igreja e para a sociedade. “Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que
a Jornada Mundial da Juventude retorna à América Latina, exorto todos os jovens do
continente: transmiti aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa
fé.”
O Papa pede que esse empenho missionário se manifeste em especial em dois
âmbitos: o mundo da internet (o continente digital) e o campo da mobilidade. Quanto
ao primeiro, Bento XVI exorta os jovens a apreenderem a usar com sabedoria este meio,
levando em conta também os perigos que ele traz consigo. Quanto à mobilidade, o Pontífice
recorda que hoje são sempre mais numerosos os jovens que viajam, seja por motivos
de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas também em todos os movimentos migratórios
que levam milhões de pessoas, frequentemente jovens, a se transferir e mudar de região
ou país, por razões econômicas ou sociais. Também estes fenômenos podem se tornar
ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho.
Leia a íntegra da mensagem
de Bento XVI:
MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A XXVIII JORNADA
MUNDIAL DA JUVENTUDE NO RIO DE JANEIRO, EM JULHO DE 2013
«Ide
e fazei discípulos entre as nações!» (cf. Mt 28,19)
Queridos jovens,
Desejo
fazer chegar a todos vós minha saudação cheia de alegria e afeto. Tenho a certeza
que muitos de vós regressastes a casa da Jornada Mundial da Juventude em Madrid mais
«enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé» (cf. Col 2,7). Este ano, inspirados
pelo tema: «Alegrai-vos sempre no Senhor» (Fil 4,4) celebramos a alegria de ser cristãos
nas várias Dioceses. E agora estamo-nos preparando para a próxima Jornada Mundial,
que será celebrada no Rio de Janeiro, Brasil, em julho de 2013.
Desejo, em
primeiro lugar, renovar a vós o convite para participardes nesse importante evento.
A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira,
será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida
que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso
amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa
experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão
no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas
de que o mundo precisa.
Convido a vos preparardes para a Jornada Mundial do
Rio de Janeiro, meditando desde já sobre o tema do encontro: «Ide e fazei discípulos
entre as nações» (cf. Mt 28,19). Trata-se da grande exortação missionária que Cristo
deixou para toda a Igreja e que permanece atual ainda hoje, dois mil anos depois.
Agora este mandato deve ressoar fortemente em vosso coração. O ano de preparação para
o encontro do Rio coincide com o Ano da fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos
dedicou os seus trabalhos à «nova evangelização para a transmissão da fé cristã».
Por isso me alegro que também vós, queridos jovens, sejais envolvidos neste impulso
missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis
fazer aos outros.
1. Uma chamada urgente
A história mostra-nos
muitos jovens que, através do dom generoso de si mesmos, contribuíram grandemente
para o Reino de Deus e para o desenvolvimento deste mundo, anunciando o Evangelho.
Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com
meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia. Penso,
por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século XVI, que
partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de vinte anos e se tornou um grande
apóstolo do Novo Mundo. Mas penso também em tantos de vós que se dedicam generosamente
à missão da Igreja: disto mesmo tive um testemunho surpreendente na Jornada Mundial
de Madri, em particular na reunião com os voluntários.
Hoje, não poucos jovens
duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho.
De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam:
E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender
que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele
ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso,
deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo
enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação
e de vida nova.
A Igreja, para continuar esta missão de evangelização, conta
também convosco. Queridos jovens, vós sois os primeiros missionários no meio dos jovens
da vossa idade! No final do Concílio Ecumênico Vaticano II, cujo cinquentenário celebramos
neste ano, o Servo de Deus Paulo VI entregou aos jovens e às jovens do mundo inteiro
uma Mensagem que começava com estas palavras: «É a vós, rapazes e moças de todo o
mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher
o facho das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas
transformações da sua história, sois vós quem, recolhendo o melhor do exemplo e do
ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: salvar-vos-eis
ou perecereis com ela». E concluía com um apelo: «Construí com entusiasmo um mundo
melhor que o dos vossos antepassados!» (Mensagem aos jovens, 8 de dezembro de 1965).
Queridos
amigos, este convite é extremamente atual. Estamos passando por um período histórico
muito particular: o progresso técnico nos deu oportunidades inéditas de interação
entre os homens e entre os povos, mas a globalização destas relações só será positiva
e fará crescer o mundo em humanidade se estiver fundada não sobre o materialismo mas
sobre o amor, a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas.
Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e se torna incapaz de amar
seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam
experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós.
Qualquer pessoa que entenda essa necessidade, não poderá deixar de exclamar com São
Paulo: «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho» (1 Cor 9,16).
2. Tornai-vos
discípulos de Cristo
Esta chamada missionária vos é dirigida também por
outro motivo: é necessário para o nosso caminho de fé pessoal. O Beato João Paulo
II escrevia: «É dando a fé que ela se fortalece» (Encíclica Redemptoris missio, 2).
Ao anunciar o Evangelho, vós mesmos cresceis em um enraizamento cada vez mais profundo
em Cristo, vos tornais cristãos maduros. O compromisso missionário é uma dimensão
essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza. E o anúncio do
Evangelho não pode ser senão consequência da alegria de ter encontrado Cristo e ter
descoberto n’Ele a rocha sobre a qual construir a própria existência. Comprometendo-vos
no serviço aos demais e no anúncio do Evangelho, a vossa vida, muitas vezes fragmentada
entre tantas atividades diversas, encontrará no Senhor a sua unidade; construir-vos-eis
também a vós mesmos; crescereis e amadurecereis em humanidade.
Mas, que significa
ser missionário? Significa acima de tudo ser discípulo de Cristo e ouvir sem cessar
o convite a segui-Lo, o convite a fixar o olhar n’Ele: «Aprendei de mim, porque sou
manso e humilde de coração» (Mt 11,29). O discípulo, de fato, é uma pessoa que se
põe à escuta da Palavra de Jesus (cf. Lc 10,39), a quem reconhece como o Mestre que
nos amou até o dom de sua vida. Trata-se, portanto, de cada um de vós deixar-se plasmar
diariamente pela Palavra de Deus: ela vos transformará em amigos do Senhor Jesus,
capazes de fazer outros jovens entrar nesta mesma amizade com Ele.
Aconselho-vos
a guardar na memória os dons recebidos de Deus, para poder transmiti-los ao vosso
redor. Aprendei a reler a vossa história pessoal, tomai consciência também do maravilhoso
legado recebido das gerações que vos precederam: tantos cristãos nos transmitiram
a fé com coragem, enfrentando obstáculos e incompreensões. Não o esqueçamos jamais!
Fazemos parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que nos transmitiram a verdade
da fé e contam conosco para que outros a recebam. Ser missionário pressupõe o conhecimento
deste patrimônio recebido que é a fé da Igreja: é necessário conhecer aquilo em que
se crê, para podê-lo anunciar. Como escrevi na introdução do YouCat, o Catecismo para
jovens que vos entreguei no Encontro Mundial de Madri, «tendes de conhecer a vossa
fé como um especialista em informática domina o sistema operacional de um computador.
Tendes de compreendê-la como um bom músico entende uma partitura. Sim, tendes de estar
enraizados na fé ainda mais profundamente que a geração dos vossos pais, para enfrentar
os desafios e as tentações deste tempo com força e determinação» (Prefácio).
3.
Ide!
Jesus enviou os seus discípulos em missão com este mandato: «Ide pelo
mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será
salvo» (Mc 16,15-16). Evangelizar significa levar aos outros a Boa Nova da salvação,
e esta Boa Nova é uma pessoa: Jesus Cristo. Quando O encontro, quando descubro até
que ponto sou amado por Deus e salvo por Ele, nasce em mim não apenas o desejo, mas
a necessidade de fazê-lo conhecido pelos demais. No início do Evangelho de João, vemos
como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão
Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus:
quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse
encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto
mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele.
Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas
para Ele.
Pelo Batismo, que nos gera para a vida nova, o Espírito Santo vem
habitar em nós e inflama a nossa mente e o nosso coração: é Ele que nos guia para
conhecer a Deus e entrar em uma amizade sempre mais profunda com Cristo. É o Espírito
que nos impulsiona a fazer o bem, servindo os outros com o dom de nós mesmos. Depois,
através do sacramento da Confirmação, somos fortalecidos pelos seus dons, para testemunhar
de modo sempre mais maduro o Evangelho. Assim, o Espírito de amor é a alma da missão:
Ele nos impele a sair de nós mesmos para «ir» e evangelizar. Queridos jovens, deixai-vos
conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se
no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de
«sair» de vós mesmos para «ir» ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.
4.
Alcançai todos os povos
Cristo ressuscitado enviou os seus discípulos para
dar testemunho de sua presença salvífica a todos os povos, porque Deus, no seu amor
superabundante, quer que todos sejam salvos e ninguém se perca. Com o sacrifício de
amor na Cruz, Jesus abriu o caminho para que todo homem e toda mulher possa conhecer
a Deus e entrar em comunhão de amor com Ele. E constituiu uma comunidade de discípulos
para levar o anúncio salvífico do Evangelho até os confins da terra, a fim de alcançar
os homens e as mulheres de todos os lugares e de todos os tempos. Façamos nosso esse
desejo de Deus!
Queridos amigos, estendei o olhar e vede ao vosso redor: tantos
jovens perderam o sentido da sua existência. Ide! Cristo precisa de também de vós.
Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance
a todos, especialmente aos «afastados». Alguns encontram-se geograficamente distantes,
enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda
não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido,
vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos
entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade
verdadeira, dará seus frutos. Os «povos», aos quais somos enviados, não são apenas
os outros Países do mundo, mas também os diversos âmbitos de vida: as famílias, os
bairros, os ambientes de estudo ou de trabalho, os grupos de amigos e os locais de
lazer. O jubiloso anúncio do Evangelho se destina a todos os âmbitos da nossa vida,
sem exceção.
Gostaria de destacar dois campos, nos quais deve fazer-se ainda
mais solícito o vosso empenho missionário. O primeiro é o das comunicações sociais,
em particular o mundo da internet. Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos
jovens, «senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador
e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! [...] A vós, jovens,
que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação,
compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital”» (Mensagem
para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2009). Aprendei,
portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele
traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com
o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos
na rede. O segundo campo é o da mobilidade. Hoje são sempre mais numerosos os jovens
que viajam, seja por motivos de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas penso
também em todos os movimentos migratórios, que levam milhões de pessoas, frequentemente
jovens, a se transferir e mudar de Região ou País, por razões econômicas ou sociais.
Também estes fenômenos podem se tornar ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho.
Queridos jovens, não tenhais medo de testemunhar a vossa fé também nesses contextos:
para aqueles com quem vos deparareis, é um dom precioso a comunicação da alegria do
encontro com Cristo.
5. Fazei discípulos!
Penso que já várias
vezes experimentastes a dificuldade de envolver os jovens da vossa idade na experiência
da fé. Frequentemente tereis constatado que em muitos deles, especialmente em certas
fases do caminho da vida, existe o desejo de conhecer a Cristo e viver os valores
do Evangelho, mas tal desejo é acompanhado pela sensação de ser inadequados e incapazes.
Que fazer? Em primeiro lugar, a vossa solicitude e a simplicidade do vosso testemunho
serão um canal através do qual Deus poderá tocar seu coração. O anúncio de Cristo
não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se
em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós;
por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o bom Samaritano,
devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e
ajudar, para conduzir, quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus
que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. Lc 10,29-37). Queridos amigos, nunca
esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte
da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. Aos seus apóstolos, Jesus ordena:
«Fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei» (Mt 28,19-20).
Os
meios que temos para «fazer discípulos» são principalmente o Batismo e a catequese.
Isto significa que devemos conduzir as pessoas que estamos evangelizando ao encontro
com Cristo vivo, particularmente na sua Palavra e nos Sacramentos: assim poderão crer
n’Ele, conhecerão a Deus e viverão da sua graça. Gostaria que cada um de vós se perguntasse:
Alguma vez tive a coragem de propor o Batismo a jovens que ainda não o receberam?
Convidei alguém a seguir um caminho de descoberta da fé cristã? Queridos amigos, não
tenhais medo de propor aos jovens da vossa idade o encontro com Cristo. Invocai o
Espírito Santo: Ele vos guiará para entrardes sempre mais no conhecimento e no amor
de Cristo, e vos tornará criativos na transmissão do Evangelho.
6. Firmes
na fé
Diante das dificuldades na missão de evangelizar, às vezes sereis
tentados a dizer como o profeta Jeremias: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou
muito novo». Mas, também a vós, Deus responde: «Não digas que és muito novo; a todos
a quem eu te enviar, irás» (Jr 1,6-7). Quando vos sentirdes inadequados, incapazes
e frágeis para anunciar e testemunhar a fé, não tenhais medo. A evangelização não
é uma iniciativa nossa nem depende primariamente dos nossos talentos, mas é uma resposta
confiante e obediente à chamada de Deus, e portanto não se baseia sobre a nossa força,
mas na d’Ele. Isso mesmo experimentou o apóstolo Paulo: «Trazemos esse tesouro em
vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus
e não de nós» (2 Cor 4,7).
Por isso convido-vos a enraizar-vos na oração e
nos sacramentos. A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por
esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos
ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração;
pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas;
pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do
seu amor. E, de modo mais geral, rezamos pela missão de toda a Igreja, de acordo com
a ordem explícita de Jesus: «Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores
para a sua colheita!» (Mt 9,38). Sabei encontrar na Eucaristia a fonte da vossa vida
de fé e do vosso testemunho cristão, participando com fidelidade na Missa ao domingo
e sempre que possível também durante a semana. Recorrei frequentemente ao sacramento
da Reconciliação: é um encontro precioso com a misericórdia de Deus que nos acolhe,
perdoa e renova os nossos corações na caridade. E, se ainda não o recebestes, não
hesiteis em receber o sacramento da Confirmação ou Crisma preparando-vos com cuidado
e solicitude. Junto com a Eucaristia, esse é o sacramento da missão, porque nos dá
a força e o amor do Espírito Santo para professar sem medo a fé. Encorajo-vos ainda
à prática da adoração eucarística: permanecer à escuta e em diálogo com Jesus presente
no Santíssimo Sacramento, torna-se ponto de partida para um renovado impulso missionário.
Se
seguirdes este caminho, o próprio Cristo vos dará a capacidade de ser plenamente fiéis
à sua Palavra e de testemunhá-Lo com lealdade e coragem. Algumas vezes sereis chamados
a dar provas de perseverança, particularmente quando a Palavra de Deus suscitar reservas
ou oposições. Em certas regiões do mundo, alguns de vós sofrem por não poder testemunhar
publicamente a fé em Cristo, por falta de liberdade religiosa. E há quem já tenha
pagado com a vida o preço da própria pertença à Igreja. Encorajo-vos a permanecer
firmes na fé, certos de que Cristo está ao vosso lado em todas as provas. Ele vos
repete: «Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,
disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque
será grande a vossa recompensa nos céus» (Mt 5,11-12).
7. Com toda a Igreja
Queridos
jovens, para permanecer firmes na confissão da fé cristã nos vários lugares onde sois
enviados, precisais da Igreja. Ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus
enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato «fazei discípulos» é formulado
no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso
testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja:
seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos
uns com os outros (cf. Jo 13,35).
Agradeço ao Senhor pela preciosa obra de
evangelização que realizam as nossas comunidades cristãs, as nossas paróquias, os
nossos movimentos eclesiais. Os frutos desta evangelização pertencem a toda a Igreja:
«um é o que semeia e outro o que colhe», dizia Jesus (Jo 4,37). A propósito, não
posso deixar de dar graças pelo grande dom dos missionários, que dedicam toda a sua
vida ao anúncio do Evangelho até os confins da terra. Do mesmo modo bendigo o Senhor
pelos sacerdotes e os consagrados, que ofertam inteiramente as suas vidas para que
Jesus Cristo seja anunciado e amado. Desejo aqui encorajar os jovens chamados por
Deus a alguma dessas vocações, para que se comprometam com entusiasmo: «Há mais alegria
em dar do que em receber!» (At 20,35). Àqueles que deixam tudo para segui-Lo, Jesus
prometeu o cêntuplo e a vida eterna (cf. Mt 19,29).
Dou graças também por todos
os fiéis leigos que se empenham por viver o seu dia-a-dia como missão, nos diversos
lugares onde se encontram, tanto em família como no trabalho, para que Cristo seja
amado e cresça o Reino de Deus. Penso particularmente em quantos atuam no campo da
educação, da saúde, do mundo empresarial, da política e da economia, e em tantos outros
âmbitos do apostolado dos leigos. Cristo precisa do vosso empenho e do vosso testemunho.
Que nada – nem as dificuldades, nem as incompreensões – vos faça renunciar a levar
o Evangelho de Cristo aos lugares onde vos encontrais: cada um de vós é precioso no
grande mosaico da evangelização!
8. «Aqui estou, Senhor!»
Em
suma, queridos jovens, queria vos convidar a escutar no íntimo de vós mesmos a chamada
de Jesus para anunciar o seu Evangelho. Como mostra a grande estátua do Cristo Redentor,
no Rio de Janeiro, o seu coração está aberto para amar a todos sem distinção, e seus
braços estendidos para alcançar a cada um. Sede vós o coração e os braços de Jesus.
Ide testemunhar o seu amor, sede os novos missionários animados pelo seu amor e acolhimento.
Segui o exemplo dos grandes missionários da Igreja, como São Francisco Xavier
e muitos outros. No final da Jornada Mundial da Juventude em Madrid, dei a bênção
a alguns jovens de diferentes continentes que partiam em missão. Representavam a multidão
de jovens que, fazendo eco às palavras do profeta Isaías, diziam ao Senhor: «Aqui
estou! Envia-me» (Is 6,8). A Igreja tem confiança em vós e vos está profundamente
grata pela alegria e o dinamismo que trazeis: usai os vossos talentos generosamente
ao serviço do anúncio do Evangelho. Sabemos que o Espírito Santo se dá a quantos,
com humildade de coração, se tornam disponíveis para tal anúncio. E não tenhais medo!
Jesus, Salvador do mundo, está conosco todos os dias, até o fim dos tempos (cf. Mt
28,20).
Dirigido aos jovens de toda a terra, este apelo assume uma importância
particular para vós, queridos jovens da América Latina. De fato, na V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Aparecida, no ano de 2007, os bispos
lançaram uma «missão continental». E os jovens, que constituem a maioria da população
naquele continente, representam uma força importante e preciosa para a Igreja e para
a sociedade. Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que a Jornada Mundial
da Juventude retorna à América Latina, exorto todos os jovens do continente: transmiti
aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa fé.
A Virgem Maria,
Estrela da Nova Evangelização, também invocada sob os títulos de Nossa Senhora Aparecida
e Nossa Senhora de Guadalupe, acompanhe cada um de vós em vossa missão de testemunhas
do amor de Deus. A todos, com especial carinho, concedo a minha Bênção Apostólica.