"Recebemos o dom de uma vida longa. Viver é belo mesmo na nossa idade": Bento XVI
visita Lar da Terceira Idade
No âmbito do Ano europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre as gerações,
Bento XVI realizou nesta segunda de manhã, em Roma, perto do Vaticano, uma visita
a um Lar da Terceira Idade criado e animado pela Comunidade de Santo Egídio. Para
além do contacto direto com os idosos, hóspedes da casa, Bento XVI dirigiu-lhes a
palavra, alargando o seu horizonte a todas as pessoas de idade, sublinhando que são
um valor para a sociedade:
“Esta visita coloca-se no Ano Europeu do envelhecimento
ativo e da solidariedade entre as gerações. Precisamente neste contexto, desejo reafirmar
que os idosos são um valor para a sociedade, sobretudo para os jovens”. “Não pode
haver verdadeiro crescimento humano e educação sem um contacto fecundo com os idosos,
porque a sua própria existência é como um livro aberto no qual as jovens gerações
podem encontrar preciosas indicações para o caminho da vida”.
“Esta manhã,
dirigindo-me idealmente a todos os idosos, embora consciente das dificuldades que
a nossa idade comporta, quereria dizer-vos com profunda convicção: é belo sermos idosos.
(…) Recebemos o dom de uma vida longa. Viver é bel também na nossa idade, não obstante
algum “achaque” e alguma limitação. Que no vosso rosto haja sempre a alegria de nos
sentirmos amados por Deus, nunca a tristeza”. “A qualidade de uma sociedade,
gostaria de dizer de uma civilização, julga-se também pela forma como os idosos são
tratados e pelo lugar que lhes é reservado na vida em comum. Quem dá espaço aos idosos
dá espaço à vida”, advertiu o Papa, com 85 anos de idade, nos jardins da residência,
perante hóspedes, voluntários e membros da comunidade.
Bento XVI deixou votos
de que as famílias e instituições públicas façam mais para que os idosos “possam permanecer
nas suas próprias casas”, defendendo que os mais velhos representam “uma grande riqueza”
por causa da sua sabedoria de vida. “Conheço bem as dificuldades, os problemas e limites
desta idade e sei que estas dificuldades, para muitos, são agravados pela crise económica”,
precisou. O Papa lamentou que numa sociedade “dominada pela lógica da eficiência
e do lucro” não se saiba acolher os idosos, considerados como “não produtivos, inúteis”.
“Muitas vezes, sente-se o sofrimento de quem é marginalizado, vive longe da sua própria
casa ou está na solidão”, prosseguiu.
Logo no princípio da visita, numa residência
localizada na colina do Janículo, muito perto do Vaticano, Bento XVI passou pelos
vários mini-apartamentos de que se compõe a casa, encontrando-se com grupos de residentes,
ao longo de quase meia hora. O Papa foi saudado por Marco Impagliazzo, presidente
de Santo Egídio, e por uma das residentes, de 91 anos, na presença, entre outros,
do fundador desta comunidade, Andrea Riccardi, de um bispo auxiliar de Roma, D. Matteo
Zuppi, e de D. Vincenzo Paglia, Presidente do Conselho Pontifício para a Família,
ambos ligados desde sempre à mesma comunidade de Santo Egídio.
Entre os presentes
estavam idosos do Haiti, que ficaram sem casa após o sismo de 2010. Bento XVI apresentou-se
como bispo de Roma mas também como “um idoso” que visita pessoas da sua idade. “Por
vezes, numa certa idade, volta-se o olhar para o passado, lamentando o tempo em que
se era jovem, se tinha energia fresca, se faziam planos para o futuro. Assim, o olhar
turva-se de tristeza, considerando esta fase da vida como o tempo do entardecer”,
observou o Papa, que lembrou que na Bíblia a longevidade era considerada “uma bênção
de Deus” que hoje tem de se “apreciar e valorizar”. “Caras irmãs e irmãos idosos,
por vezes os dias parecem longos e vazios, com dificuldades, poucos compromissos e
encontros: nunca percais a coragem, vós sois uma riqueza para a sociedade, também
no sofrimento e na doença. E esta fase da vida é um dom também para aprofundar a relação
com Deus. O exemplo do Beato João Paulo II foi e é ainda iluminante para todos nós.”