2012-11-07 09:52:43

Transmitir razões para acreditar (Editorial Europeu, de Pietro Cocco, jornalista da RV)


“Transmitir razões para crer” é o título que o colega italiano Pietro Cocco deu ao Editorial Europeu que lhe tocou preparar, para os Programas do Velho Continente…

"No merecido final de cada duro dia, queres dizer-nos, Senhor, que significa tudo isto? E que tu possas encontrar uma qualquer razão para acreditar?"
Assim, se exprime o músico norte-americano, Bruce Springsteen, num dos seus albuns mais sofridos sobre a condição humana e social do seu país.

As suas palavras superam as fronteiras geográficas. Estas questões constituem também aqui na Europa um dos problemas de fundo da cultura contemporânea, a braços com a crise económica e com a incompreensão que muitos experimentam entre aquilo que vivem e a possibilidade de que haja um sentido.
É claro, para os crentes, que se pode falar de crise de fé e de exclusão de Deus do horizonte da vida, mas há também um outro aspeto que vem antes. Trata-se da possibilidade de transmitir o próprio sentido, de partilhar a fé. É muito profunda a sensação que muitas pessoas experimentam de vazio, de isolamento, de perda de identidade.

Qual é o terreno comum de pensamento, sentimento, confiança recíproca, expectativas, para poder transmitir alguma razão para acreditar?

Para poder transmitir algo, somos chamados a uma nova obra de inculturação do pensamento e da fé, para que as palavras e os horizontes de significado exprimam a carne e o sangue dos homens e das mulheres de hoje, de todos. Há que usar a inteligência e o coração, como repete incansavelmente Bento XVI, de modo a retomar uma narrativa comum e, para todos aqueles que tiverem esse dom, abri-la a Deus.

Para esta obra, requerem-se pessoas dotadas de uma inteligência que saiba fazer memória. Porque, repete profeticamente Bento XVI, uma razão abstrata, anti-histórica - no sentido de julgar poder dominar tudo, emancipando-se de todas as tradições e valores culturais - torna a vida invivível, tira o terreno debaixo dos pés, extingue o fogo que aquece a convivência humana.

Este trabalho de inculturação, de transmissão de valores, de diálogo entre culturas e diferentes convicções religiosas, faz apelo ao coração das pessoas, ou seja, à capacidade de viver a dimensão relacional e comunitária.

De facto, só um coração livre nos permite reconhecer o outro como irmão. Só assim poderemos superar as fragilidades que vivemos, sanar as injustiças e as solidões que afetam boa parte da humanidade, a começar pelas nossas cidades.
Poderemos, assim, encontrar as razões para acreditar... ao concluir mais um duro dia.







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