Papa pede solução política para Síria, "antes que seja tarde demais". Na sua catequese,
Bento XVI fala de educar o desejo, via para Deus
A situação de violência que se vive na Síria foi recordada pelo Santo Padre no final
da audiência desta quarta-feira, na Praça de São Pedro, lançando um apelo às partes
envolvidas a não pouparem esforços para que se chegue à uma solução política do conflito,
pois nunca é tarde demais para lutar pela paz. Continuo a seguir com particular
apreensão a trágica situação de violência na Síria, onde não cessa o ruído das armas
e aumenta em cada dia o número das vítimas e dos sofrimentos da população, particularmente
de todos aqueles que tiveram que deixar as suas casas. Para manifestar
a sua solidariedade à população da Síria e a proximidade espiritual de toda a Igreja
às comunidades do país (recordou o Papa), era seu desejo enviar uma delegação de Padres
Sinodais a Damasco. Como infelizmente, diversas circunstâncias não permitem concretizar
a iniciativa, o Santo Padre decidiu enviar em missão especial o Cardeal Robert Sarah,
Presidente do Conselho Pontifício Cor Unum. Este está a partir de hoje
e até ao próximo dia 10 no Líbano onde encontrará pastores e fieis das igrejas presentes
na Síria; visitará alguns refugiados sírios e presidirá a uma reunião da coordenação
das instituições caritativas católicas às quais a Santa Sé pediu um reforço na ajuda
à, população síria. A concluir, o apelo: Enquanto elevo a minha
oração a Deus, renovo o convite às partes em conflito e a todos os que têm no coração
o bem da Síria para que não poupem esforços na procura da paz e persigam, através
do diálogo, os caminhos que levam a uma justa convivência, com vista a uma adequada
solução política do conflito.
Segundo informou, entretanto, Padre
Lombardi, diretor da Sala da Imprensa da Santa Sé, o cardeal Sarah é portador da oferta
monetária recolhida entre os Padres Sinodais a que o Santo Padre juntou um seu consistente
contributo. A soma, destinada às organizações católicas da região, que procuram prestar
assistência aos refugiados sírios, totaliza um milhão de dólares americanos
O
desejo de Deus, profundo, misterioso, que cada um leva em si – foi o tema desenvolvido
pelo Papa na catequese desta audiência, prosseguindo a reflexão em curso sobre o Ano
da Fé. Bento XVI fez notar que a primeira afirmação do Catecismo da Igreja Católica
sublinha precisamente esta aspiração humana: “O desejo de Deus está inscrito no coração
do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair
a si o homem. Apenas em Deus o homem encontrará a verdade e a felicidade que procura
sem cessar”. Embora em muitos contextos culturais, esta afirmação seja partilhada
pela maioria das pessoas (observou), no âmbito da cultura ocidental secularizada,
pelo contrário, pode parecer uma provocação: muitos contemporâneos não advertem este
desejo de Deus. Para muita gente, Deus já não é o desejado. Aparece como uma realidade
que deixa indiferente. E contudo – fez notar o Papa – existe sempre, no coração
de cada um, o desejo de bens concretos. Subsiste uma interrogação, uma aspiração que
se deseja saciar, um desejo que o ultrapassa. Como disse Pascal: “O homem ultrapassa
infinitamente o homem”. Na experiência do amor conjugal, da amizade, do gosto de conhecer,
na experiência da beleza sob qualquer forma, o homem experimenta o mistério em que
se encontra envolvido…
“Cada desejo que emerge no coração humano faz eco a
um desejo fundamental nunca plenamente saciado.”
É verdade que a partir deste
desejo profundo, em si enigmático, não se consegue chegar diretamente à fé – reconheceu
o Papa. Como sem a luz, não conseguimos ver os objetos, também para a fé ocorre uma
luz especial. Para tal, há que abrir o caminho a um autêntico sentido religioso da
vida, para chegar à percepção de que a fé não é absurda, irracional – observou Bento
XVI, que convidou a “promover uma espécie de pedagogia do desejo”.Para tal, indicou
duas pistas concretas. Antes de mais – disse - aprender (ou reaprender) o gosto das
autênticas alegrias da vida.
“Educar desde a mais tenra idade a saborear
as verdadeiras alegrias, em todos os âmbitos da existência – família, amizade, solidariedade
com quem sofre, renúncia ao próprio eu para servir os outros, amor pelo conhecimento,
pela arte, pela belezas da criação – tudo isto significa exercer o gosto interior
e produzir anti-corpos eficazes contra a banalização hoje difundida”. E também
os adultos têm necessidade de redescobrir estas alegrias, de desejar realidades autênticas,
purificando-se da mediocridade em que se podem encontrar enredados – observou o Papa,
que sugeriu um segundo aspeto concreto, ligado ao primeiro: “nunca se contentar com
aquilo que se alcançou”. “São precisamente as alegrias mais verdadeiras as que
são capazes de libertar em nós aquela sã inquietação que nos leva a ser mais exigentes
– querer um bem mais alto, mais profundo – e ao mesmo tempo advertir com cada vez
maior clareza que nada de finito pode satisfazer plenamente o nosso coração. Não
se trata, portanto, de “sufocar o desejo que existe no coração do homem, mas sim de
o libertar”, conscientes de sermos todos “peregrinos em direção àquele bem pleno,
eterno, que nada no-lo poderá arrancar”: “Nesta peregrinação, sintamo-nos irmãos de
todos os homens, companheiros de viagem mesmo daqueles que não crêem, de quem se encontra
à busca, de quem se deixa interrogar com sinceridade da parte do dinamismo do próprio
desejo de verdade e de bem. Rezemos, neste Ano da Fé, para que Deus mostre o seu rosto
a todos os que o procuram de coração sincero”.
Mas ouçamos o resumo que desta
catequese o Santo Padre formulou na nossa língua: “Queridos
irmãos e irmãs, O homem traz dentro de si um misterioso desejo de
Deus. E embora muitos dos nossos contemporâneos possam objectar que não sentem tal
desejo, este não desapareceu completamente do seu coração. Na verdade, por detrás
dos mais diversos desejos que o movem, esconde-se um desejo fundamental que nunca
está plenamente saciado. O homem conhece bem aquilo que não o sacia, mas não pode
imaginar nem definir o que lhe faria experimentar aquela felicidade de que sente nostalgia
no coração. O homem é um «mendigo de Deus» e, só em Deus, encontra
a verdade e a felicidade que procura sem descanso. Por isso, não se trata de sufocar
o desejo que está no coração do homem mas de o libertar, a fim de que possa alcançar
a sua verdadeira altura. Saúdo cordialmente todos os peregrinos
de língua portuguesa, em particular os fiéis brasileiros da paróquia Nossa Senhora
da Penha e o grupo da diocese de Porto Alegre, para todos implorando uma vontade que
procure a Deus, uma sabedoria que O encontre e uma vida que Lhe agrade. São os meus
votos e também a minha Bênção.”