Cardeal Ravasi: "é preciso uma renovação ética na economia"
Lisboa (RV) – O Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura (CPC), organismo
da Santa Sé, afirmou que a situação de crise econômico-financeira que se vive em vários
países, incluindo Portugal, só pode ser ultrapassada com uma renovação ética. “Temos
de criar uma atmosfera que não se limite às questões econômicas nem financeiras, porque
os seus problemas nasceram, em boa parte, quando se esqueceram as questões éticas,
morais”, refere o Cardeal Gianfranco Ravasi, em entrevista publicada pelo Semanário
Agência ECCLESIA.
O purpurado italiano apresentou a edição portuguesa do ‘Pátio
dos Gentios’, estrutura criada pelo Pontifício Conselho para a Cultura para promover
o diálogo entre crentes e não crentes, que vai se realizar em Guimarães e Braga nos
próximos dias 16 e 17. Segundo o Cardeal Ravasi, a escolha do tema ‘O valor da vida’
visa ultrapassar as questões mais polêmicas da bioética e abordar “as grandes coordenadas,
os grandes temas que muitas vezes não são abordados na sociedade contemporânea, que
reduz tudo às questões imediatas”.
O presidente do Pontifício Conselho para
a Cultura adianta a intenção de abordar o tema da esperança, alertando para o risco
de, num tempo de crise, as pessoas se contentarem apenas com as “pequenas coisas”.
“Fazer uma intervenção forte sobre os grandes valores, é uma forma de sacudir um pouco
as consciências e dizer: ‘Não se resolvem as coisas pequenas sem enfrentar as grandes’”,
precisa. O purpurado cita o economista e Prêmio Nobel indiano Amartya Sem para afirmar
que “a verdadeira economia é uma ciência humanista” e que a falta de moralidade no
mundo financeiro e nos mercados gerou a “miséria”. “Acredito que voltar a oferecer
ideias sobre a moral, os grandes valores, é algo precioso nesta situação”, acrescenta.
O cardeal antecipa o seu debate com o neurocirurgião João Lobo Antunes sobre
‘o valor e o sentido da vida de cada ser humano', referindo a intenção de “insistir
muito, usando textos bíblicos da categoria de ‘relação’ e, portanto, da categoria
de ‘corporeidade’”. “Também quero falar da categoria de “limite”, da finitude do ser
humano, isto é, da grandeza e da impotência: a crise, o mal, a dor, a morte e, por
outro lado, a grandeza da criatura humana na sua relação com o transcendente, com
o semelhante e com a matéria”, acrescenta.
O Pátio dos Gentios nas cidades
de Guimarães e Braga, respectivamente capitais europeias da cultura e da juventude
no ano de 2012, vai ser inaugurado pelo ensaísta Eduardo Lourenço. Essa iniciativa
já passou por várias cidades europeias depois da sua sessão inaugural em Paris, em
março de 2011; a edição portuguesa vai englobar debates sobre “estilo de vida e salvaguarda
do universo”, desde várias perspectivas, para além de momentos culturais, com concertos,
exposições e a apresentação de uma peça de teatro. (SP-ECCLESIA)