Cidade do Vaticano
(RV) - No Evangelho, Jesus nos fala das bem-aventuranças, da sorte daqueles que
vivem, que praticam sua palavra. Ele identifica essas pessoas como pobres em espírito
e perseguidas por causa da justiça. Ele diz que delas é o reino do céu. Jesus constata
que elas, onde estejam, já vivem e já realizam o Reino.
Mas quem são pobres
em espírito de que fala Jesus? São aqueles que abriram mão de bens deste mundo para
poderem construir uma nova sociedade, de acordo com o projeto de Deus. Uma sociedade
de justiça, de partilha, de paz.
Quem são os perseguidos por causa da justiça?
São
esses pobres que fizeram opção por uma sociedade justa, fraterna, caracterizada pela
partilha e comunhão de bens. São perseguidos porque esse modo livre de viver não é
suportado por aqueles que são escravos dos bens materiais, do poder econômico, da
divisão em classes sociais, que não acreditam em um outro mundo, mas que aqui na terra
têm o seu paraíso.
Os santos são esses cidadãos que trabalham pela realização
do Reino, já aqui neste mundo. Por isso são rechaçados, martirizados, desprezado pelos
filhos deste mundo que, naturalmente, não podem se identificar com eles. Por isso,
São João na segunda leitura de hoje nos diz que “Por isso o mundo não nos conhece..”
Mais adiante do trecho escolhido para a liturgia de hoje, São João nos diz que “aquele
que pratica a justiça é justo, como também Jesus é justo”. E Jesus é o Santo, por
excelência! Portanto se praticamos a justiça, assemelhamo-nos a ele, o Santo e, consequentemente,
somos santos.
Contudo, sabemos que no dia a dia, não é fácil viver a santidade.
Vários fatores corroboram para isso. Desde a atitude desafiadora da sociedade paganizada,
de estruturas tirânicas, passando por nossa fragilidade e caminhando em meio a atitudes
agressivas de muitos de nossos contemporâneos, temos a experiência, muitas vezes amarga,
de como é difícil ser santo. Para nos encorajar, nos dar alento na luta pela santidade,
a liturgia nos oferece a leitura do Apocalipse, livro que foi escrito com o objetivo
de nos animar dentro desse ambiente opressor.
O versículo 14 dá a chave para
a manutenção da luta: “Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as
suas vestes e as alvejaram no sangue do cordeiro.” Deus, que desde o Antigo Testamento,
defendeu o povo judeu oprimido pelos egípcios, libertando-os da escravidão, também
agora, através de Jesus Cristo, nos livra da opressão e nos liberta, para sempre,
do mal. Não significa que não teremos adversidades, mas que seremos libertos, salvos,
dentro delas. Deus não nos livra dos sofrimentos, mas nos liberta nos sofrimentos.
Ser
santo é viver o batismo através de gestos concretos de promoção da justiça e da paz,
mesmo que isso nos leve a beber o cálice que Jesus, na agonia no horto das oliveiras,
pediu ao Pai que afastasse, mas logo acrescentou; “ ...não se faça o que eu quero,
mas, sim, o que tu queres.” Ser santo é colocar em prática o conselho mariano: “Faz
tudo o que ele mandar”. Ser santo é deixar-se conduzir por Deus, plenamente!