Rio de Janeiro (RV) - O início do mês de novembro traz à tona algumas reflexões
importantíssimas para a nossa vida. Qual o sentido da vida humana, o que nos faz ser
realmente humanos, para onde iremos após o tempo em que passamos aqui nesta Terra?
Chegando ao final do ano litúrgico, (já estamos na 31ª semana do Tempo Comum) a comemoração
de todos os fiéis defuntos (que chamamos Dia de Finados) e a grande solenidade de
Todos os Santos colocam diante de nossos olhos esses questionamentos profundos do
ser humano. Mesmo para os que não professam uma fé específica, estas perguntas estão
no profundo do ser de cada pessoa. Ainda mais: o Ano da Fé, que iniciamos, é uma
oportunidade importantíssima de aprofundar o que a Igreja catalogou no decorrer de
sua história como consequência da revelação cristã sobre esses assuntos. Na primeira
parte do Catecismo da Igreja Católica, nos artigos sobre a Profissão de Fé iremos
encontrar no “creio na vida eterna” as orientações claras sobre em que acreditamos,
sobre o porvir de nossa vida, e também no “nossa vocação à bem-aventurança” o anúncio
do chamado à felicidade eterna. A esperança cristã está solidificada na pessoa
de Jesus Cristo. O homem espera pela lógica da confiança, olha para o futuro e espera
o seu cumprimento em uma eternidade feliz. Sua esperança é de fato ancorada em Deus.
Os Santos são pessoas felizes, bem-aventurados porque iluminados pela ação do Espírito
Santo. São também a melhor forma de evangelizar! É a vida que anuncia o Evangelho
que, como consequência, deverá ser explicitado e proclamado ao mundo. Todas as
suas esperanças em Deus – que se tornou para eles tudo – tanto na vida quanto na morte,
sempre os aproximaram dos irmãos vendo neles, pela fé, o próprio Deus humanado, Jesus
Cristo. Viver a vocação à santidade é mergulhar ainda mais na vida humana, encontrando
Cristo nos irmãos e irmãs. Basta ler e conhecer a vida dos santos de ontem e de hoje.
São belíssimos exemplos da gratuidade do dom de Deus e a alegre correspondência humana
a esse dom que leva a pessoa ao encontro com o seu irmão. O caminho para a sua total
confiança em Cristo os fez, por meio do sofrimento físico e espiritual, libertos na
experiência mística da noite escura para a luz eterna. O chamado à santidade,
a viver a vida batismal, a conversão constante manifestam a sua confiança em Deus
e a alegria de servi-Lo na vida de oração e no serviço aos irmãos. Os santos estavam
sempre cheios de confiança em Deus. Cada santo tinha, no seu silêncio, um profundo
diálogo com Deus através da oração: orar e trabalhar pelo Reino de Deus! Sempre tiveram
um enorme fascínio pelo mistério da santa Eucaristia. A Eucaristia é o centro e o
ápice da vida cristã. Por isso, os santos gastam todos os seus momentos mais importantes
aos pés do Santíssimo, em adoração, para depois se dirigirem aos irmãos, alimentados
pela fé e testemunhas de servos de Jesus Cristo. Assim, a contemplação junto à Eucaristia
não se encerra apenas no altar, mas se estende aos irmãos. Ali é a continuidade da
santidade que cada um é convidado a revelar e manifestar, já que convive com Cristo
na Eucaristia, que contempla e recebe em cada santa missa. E nisto se dá o testemunho
contínuo do aúncio da Ressurreição de Jesus Cristo. Por isso, a Eucaristia é o dom
precioso que hoje continua santificando os fiéis, fazendo com que todos sejam Santos
com os Santos! Sentimos também a necessidade de contemplar nesse dia aquela que
soube ouvir a voz de Deus e correspondeu ao chamado: Maria, a Mãe do Senhor! Ela,
na sua humildade, acolheu o convite de Deus para ser a Mãe do Salvador. Maria foi
a Santa fiel que nos convida à fidelidade ao projeto de Deus. A XIII Assembléia
Ordinária Geral do Sínodo dos Bispos, que no último dia 28 de outubro foi encerrada
pelo Papa Bento XVI, em Roma, tratou da nova evangelização para a transmissão da fé
cristã. Sermos testemunhas credíveis do Evangelho de Jesus Cristo foi uma manifestação
unânime das intervenções. O Papa Bento XVI, no dia 21 de outubro passado, dentro
do âmbito do Ano da Fé e do Sínodo da Nova Evangelização, proclamou sete novos santos,
como modelos de santidade para a nova Evangelização. Dos sete santos está representada
toda a Igreja em suas categorias de servidores, como sacerdotes, religiosos, religiosas,
leigos e leigas. Homens e mulheres. Viveram na Europa, Ásia, África, América e Oceania.
Do jesuíta missionário em terras longínquas que morre mártir em Madagáscar, ao sacerdote
educador e formador de jovens em dificuldades, à doente que desenvolve durante décadas
na sua cama a preciosíssima missão espiritual do sofrimento. Do jovem catequista leigo
filipino, também ele mártir, até a religiosa dedicada ao cuidado dos leprosos e aquela
que se consome pela educação de crianças, jovens e operários. Nesse clima de nova
evangelização e de caminhada para a Jornada Mundial da Juventude, contemplamos com
carinho a jovem Catarina Tekakwita, fruto extraordinário do primeiro anúncio da fé
entre as tribos dos índios da América. Por isso mesmo os santos são, desde sempre,
as testemunhas mais credíveis da fé cristã, da presença viva e operante do Espírito
de Jesus Ressuscitado, da transformação da humanidade graças à potência misteriosa
do Evangelho. Assiste-nos na nova evangelização o Santo Espírito Paráclito. Sem
o Espírito Santo a Igreja não vive, muito menos difunde eficazmente o Evangelho num
mundo que, com a mudança de época, de cultura e de mentalidade, apresenta dificuldades
em aceitar Jesus Cristo, mas que tem uma imensa necessidade de encontrar gratuidade
de amor, alegria e esperança. É a busca do sentido da vida. Esse desejo de infinito
do coração humano só tem uma resposta: a eternidade de Deus! A vida cristã somente
tem sentido se caminharmos na acolhida do dom da santidade. Portanto, celebrar o Dia
de todos os Santos é para nós celebrar a oportunidade de reconhecer nosso convite
à vida oferecido por Deus, nosso batismo e vocação à santidade. A santidade começa
agora com o nosso sim e a vida de conversão. Vida batismal vivida com todas as consequências
de que se deixa conduzir pelo Espírito Santo. É o grande sinal que o mundo necessita.
É a melhor maneira de evangelizar! É a razão primeira e última de nossa vida! É hoje,
portanto, a nossa resposta! Feliz Dia de Todos os Santos! Não tenhamos medo de
abrir nossos corações para a feliz aventura da santidade!
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ