Apresentados ontem em Roma dois livros sobre relações entre o Benin e a Santa Sé.
Reportagem
“A Igreja em África
precisa de seguir Cristo para poder estar de pé com dignidade”. Foi em torno desta
forte convicção que o Cardeal Robert Sarah, centrou segunda-feira à tarde a sua ampla
intervenção sobre o continente africano. Foi na apresentação de dois livros, em francês,
promovidos pela Embaixada do Benin junto da Santa Sé: “O Benin e a Santa” e “O Papa
Bento XVI no Benin”. O encontro teve lugar na Pontifícia Universidade Lateranense,
em Roma, por iniciativa da Livraria Editora Vaticana, do Centro Interdisciplinar para
o desenvolvimento da Cultura Africana da Lateranense e da referida Embaixada. Presentes
para além do Reitor, do Director do Centro e Prof. beninês, Albert Teveodjiré, o cardeal
Giuseppe Bertello, Presidente do Governatorato da Cidade do Vaticano e ex-Núncio Aostólico
no Benin. Ele pôs em realce o facto de, nos três dias que esteve no Benin, o Papa
ter falado a todos os sectores da sociedade do país e da África em geral. Auspiciou,
por isso, que o livro “Bento XVI no Benin”, que reúne os discursos do Papa e os que
lhe formam dirigidos naquela ocasião, tenha uma ampla difusão.
Mas foi ao
cardeal Robert Sarah, originário da Guiné Conacri, Presidente de Cor Unum e do próprio
Centro de investigações africanas na Universidade do Latrão, que coube traçar uma
ampla panorâmica sobre a África de hoje. Ele chamou a atenção para a crise económica
espiritual e antropológica que atravessa o mundo de hoje e que não poupa a África.
Mas sublinhou também as esperanças e os progressos deste continente, ao ponto de ser
hoje meta de emigração para cidadãos de países europeus em dificuldades; caso, por
ex., de portugueses que estão a ir para Angola e Moçambique. A África disse, não deve,
portanto, correr, atrás de modelos de desenvolvimento doutros países, mas ter a coragem
de ser si própria, e de procurar a sua própria via, seguindo com confiança e convicção
o modelo de Cristo – disse o Cardeal…
“Eu penso que a África poderá sair
das suas dificuldades só ajudada por Cristo, porque Ele venceu o mal e o mal está
a destruir a África: as guerras, as doenças, o poder que não olha para a miséria do
povo... Só o Evangelho poderá ajudar-nos a ter olhos de Deus para ver o irmão que
sofre, para partilhar o seu sofrimento e para partilhar também os bens que o Senhor
nos deu, porque a África é rica, mas explorada de forma vergonhosa, antes de mais
pelos próprios africanos, mas também por estrangeiros. Por isso, acho que, com serenidade,
temos de abrir os olhos, os ouvidos para ouvir o Senhor que venceu o mal e poderá,
portanto, ajudar-nos a estar de pé e a começar realmente a desenvolver os países para
o bem de todo o povo africano; não só o bem matérial, mas também o bem espiritual.
Deus serve-se sempre dos mais pequenos, do nada. Hoje a África é vista como nada:
economicamente não conta, politicamente não conta. Deus usa, porém, o que é nada para
salvar… Acho que Deus iniciou a aliança partindo do Egipto. Pediu à África para O
ajudar a levar a cruz, como aliás, disse o Prof. Teveodjiré. A África salvou o menino
Jesus que estava ameaçado pelo rei Herodes. Diria, portanto, que porque a África é
pequena, porque é nada, Deus quer usá-la para salvar o mundo. A partir do nada, Deus
pode fazer muito”.
Já o Prof. Albert Teveodjiré - renomado intelectual do
Benin e com vários cargos políticos, universitários, internacionais no curriculum
- frisou que a África deve purificar a razão. E explicou:
“Em vez de privilégios
é preciso direitos. É preciso purificar a vida económica; em vez de açambarcamento,
é necessário a partilha; é necessário purificar a razão social: é preciso um contrato
de solidariedade”.
O Prof. Albert Teveodjiré é autor de várias obras, entre
as quais o famoso livro dos anos 80 “A pobreza riqueza dos povos”. Uma mensagem que
conserva toda a sua actualidade – disse, acrescentando que não perde, todavia a esperança
que um dia seja ouvida.
“C’est toujour actuel, mas je ne desespere pas!”
Quanto
ao Embaixador do Benin junto da Sé, a quem se deve a elaboração das duas obras apresentadas
- “O Benin e a Santa Sé” e “O Papa Bento XVI no Benin” – explicou que, inicialmente
havia sobretudo da parte da oposição no Benin, muito cepticismo acerca da real importância
de relações diplomáticas com a Santa Sé. Perante isso, ele aproveitava para explicar,
também aos jornalistas, que a cooperação com a Santa Sé é centrada sobretudo na dignidade
humana, no progresso da humanidade. Agora que essa missão diplomática já existe, é
preciso ter documentação que permita ter acesso a essa relação entre o Benin e o Vaticano,
cujos embriões remontam ao tempo do Papa João XXIII. E também porque no Benin há boas
relações entre o Estado e a Igreja e quando há um problema a Igreja é sempre chamada
a dizer uma palavra. “É preciso que tudo isso esteja consignado numa obra. Esta a
razão de ser – disse - do primeiro livro. Quanto ao segundo, surgiu na sequência
da visita do Papa ao Benin.
“Muitas vezes, depois da visita as pessoas festejam
e a seguir esquecem tudo. Por isso, é bem que toda essa mensagem esteja reunida num
livro para recordar o essencial a toda a gente. Quando se fale de socialização
politica em África, entende-se sobretudo os valores que devem estar na base de tudo
o que fazemos todos os dias. E se essas duas obras forem lidas, pelo menos no Benin
fica-se a saber que as relações diplomáticas com a Santa Sé são muito importantes,
aliás, são essenciais. Não é por acaso que se diz que a Santa Sé é o lugar mais alto
da diplomacia, porque nas outras relações diplomaticas, são os interesses particulares
dos governos que prevalecem, mas aqui o interesse é o progresso da humanidade”.
O
subtítulo do livro “O Papa Bento XVI no Benin é: “A pastoral da socialização política
em África” – quer isto dizer que a obra é endereçada particularmente aos políticos?
“É endereçada a todos, a todos. Antes de mais, aos políticos, claro, porque
as pessoas, na realidade não sabem o que é a política. Há a politica entendida como
a maneira de gerir a sociedade, as pessoas, e há a cena política com tudo o que de
mau se vê nela: por isso, diria que a mensagem é dirigida antes de mais aos políticos,
mas também a todas as pessoas porque cada um deve contribuir para o melhoramento da
vida política. Não é tarefa só dos políticos, mas de todos” .
O Dr. Théodore
Loko a propósito da apresentação, segunda-feira à tarde, na PUL de Roma, de dois volumes
relacionados com as relações diplomáticas entre o Benin e a Santa Sé e a visita de
Bento XVI ao Benin em Novembro do ano passado. Livros em francês, elaborados pela
Embaixada do Benin junto da Santa Sé e publicados pela Livraria Editora Vaticana.