Mensagem do Sínodo ao Povo de Deus: os Padres sinodais olham com optimismo para o
mundo e para a tarefa da nova evangelização
Os 261 bispos e cardeais do mundo inteiro que participam, desde há três semanas, na
Assembleia ordinária do Sínodo episcopal sobre “A Nova Evangelização para a transmissão
da Fé” acolheram nesta sexta-feira de manhã, com um longo e caloroso aplauso “A Mensagem
ao Povo de Deus” que resume o conteúdo dos trabalhos. O documento foi lido, na presença
do Santo Padre, em cinco línguas: italiano, francês, espanhol, inglês e alemão. O
texto volta a sublinhar que a nova evangelização é uma urgência para o mundo de hoje
e convida os cristãos a anunciar o Evangelho com serenidade e coragem, vencendo o
medo com a fé. * Foi um aplauso prolongado o que ressoou na Aula do Sínodo
no final da leitura feita por vários bispos e em várias línguas, da “Mensagem ao Povo
de Deus”. E o povo de Deus – definido muitas vezes como distraído e confuso, correndo
o risco de ruinosas desilusões – é apresentado como a samaritana junto do poço narrada
por São João no seu Evangelho como trazendo uma ânfora vazia. Esse povo tem sede e
nostalgia de Deus e a Igreja deve ir ao seu encontro para lhe apresentar o Senhor.
E tal como a samaritana – diz a mensagem do Sínodo – quem encontra Jesus não pode
não tornar-se testemunho do anuncio da salvação e da esperança do Evangelho: conduzir
a humanidade contemporânea a Jesus é uma urgência em todo o mundo.
No entanto,
a Igreja insiste que para evangelizar é necessário ser antes de mais evangelizado,
e lança um apelo – a começar por si própria – à conversão, porque a fraqueza e os
pecados pessoais dos discípulos de Jesus pesam sobre a credibilidade da missão. Mas
os cristãos são chamados a vencer o medo com a fé e olham para o mundo com serenidade
e coragem porque, embora cheio de contradição e de desafio, o mundo continua, contudo,
a ser um mundo amado por Deus.
Nada de péssimos, portanto: globalização, secularização,
migrações, ateísmo, crise da hegemonia política e do Estado, mesmo com os sofrimentos
e dificuldades que comportam, devem ser visos como uma oportunidade de evangelização,
pois que não se trata de encontrar novas estratégias para difundir o Evangelho como
um produto de mercado, mas sim de redescobrir os modos como as pessoas se aproximam
de Jesus.
Por isso, a mensagem do Sínodo olha para a família como um lugar
natural de evangelização e volta a frisar que deve ser apoiada pela Igreja, pela política
e pela sociedade. A mensagem sublinha o papel especial da mulher no seio da família,
volta a pôr em realce a responsabilidade da figura paterna e recorda a situação dolorosa
dos conviventes, dos divorciados e dos que voltaram a casar-se Embora reconfirmando
a disciplina do acesso aos sacramentos, a Mensagem recorda que essas pessoas não são
abandonadas pelo Senhor e que a Igreja continua a ser uma casa acolhedora para todos.
O documento sinodal refere-se depois às paróquias como lugares indispensáveis
de evangelização e recorda a importância da vida consagrada e da formação permanente
para os sacerdotes e os religiosos, convidando também os leigos ao anuncio do Evangelho,
em comunhão com a Igreja. Particular atenção é dada aos jovens – presente e futuro
da humanidade e da Igreja – numa perspectiva de escuta e de dialogo a fim de resgatar,
e não de mortificar, o seu entusiasmo.
A nova evangelização olha para o mundo
com uma larga visão – diz em os Padres sinodais. Daí a grande importância do diálogo
com vários sectores da sociedade: com a cultura, que tem necessidade duma nova aliança
entre fé e razão; com a educação, para uma formação integral da pessoa humana; com
a comunicação social, lugar onde muitas vezes se formam as consciências e que oferecem
oportunidades novas para atingir o coração do homem; com a ciência que, quando não
encerra o homem no materialismo, torna-se numa aliada na humanização da vida.
Central
também na Mensagem o dialogo com a arte que exprime a espiritualidade através da beleza;
com o mundo da economia e do trabalho, a fim de que este último não seja um peso insuportável
ou uma perspectiva incerta, mas promova o desenvolvimento humano; com a política,
à qual se pede uma atenção desinteressada e transparente do bem comum, no respeito
da dignidade da pessoa, da família, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher,
da liberdade educativa e religiosa, na remoção das causas de injustiças e desigualdades.
Fundamental também o dialogo inter-religioso que contribui para a paz, recusa o fundamentalismo
e denuncia a violência contra os crentes, grave violação dos direitos humanos.
Além
disso, a Mensagem põe ainda em evidência duas expressões da vida de fé particularmente
significativas para a nova evangelização: a contemplação, onde o silêncio permite
acolher da melhor forma a Palavra de Deus, e o serviço aos pobres na linha do reconhecimento
de Cristo nos seus rostos.
Na última parte, a Mensagem olha para a Igreja
nas diversas regiões do mundo e a cada uma delas dirige uma palavra de encorajamento
a praticar a fé em condições de paz e de liberdade religiosa; à Igreja da África,
pede que desenvolva a evangelização no encontro com as antigas e novas culturas, e
lança um apelo aos governos africanos no sentido de pôr termo aos conflitos e às violências.
Quanto aos cristãos da América do Norte, que vivem numa cultura com muitas
expressões longe do Evangelho, devem olhar para a conversão e ser abertos ao acolhimento
de migrantes e refugiados. A América Latina é convidada a viver a missão permanente
para enfrentar os desafios do presente como a pobreza, a violência, também nas novas
condições de pluralismo religioso. A Igreja da Ásia, embora composta duma pequena
minoria, muitas vezes marginalizada e perseguida, é encorajada e exortada a reforçar
a fé. Os bispos exprimem a sua aproximação aos cristãos do continente, onde (na Terra
Santa) Jesus nasceu, morreu e ressuscitou.
A Europa, marcada por uma secularização
mesmo agressiva e ferida por décadas de regimes e ideologias inimigas de Deus e do
homem, criou, no entanto – refere a Mensagem dos Padres Sinodais – uma cultura humanística
capaz de dar um rosto à dignidade e à construção do bem comum; as dificuldade do presente
não devem, por isso, desencorajar os cristãos europeus, mas sim ser vistas como um
desafio.
Por fim, à Oceânia, pede-se que sinta ainda vivo o empenho de pregar
o Evangelho.
A mensagem conclui-se confiando os anseios da Igreja a Nossa
Senhora, Estrela da Nova Evangelização.