Damasco (RV) - O grave atentado perpetrado no último domingo no bairro de Bab-Touma,
em Damasco, renova nos cristãos sírios angústias e perguntas às quais somente “os
próximos dias poderão dar uma resposta”. Mas enquanto isso, “muitos já tomaram a estrada
do êxodo. Outros estão se preparando para a possibilidade de uma partida a qualquer
momento”. E uma Igreja sem fiéis é destinada a tornar-se uma “testemunha silenciosa”.
Foi o que escreveu em uma nota enviada à agência, o Arcebispo maronita de Damasco,
Dom Samir Nassar, que conta as primeiras reações registradas entre os cristãos da
capital síria após a explosão de um carro-bomba na área cristã da Cidade Velha e que
provocou a morte de 13 pessoas e dezenas de feridos.
Dom Nassar descreve cenas
de pânico que ele testemunhou, com os pais correndo aflitos “em busca de seus filhos
nas escolas do bairro”, enquanto as sirenes das ambulâncias acentuavam a sensação
insuportável de viver em uma época apocalíptica. “Alguns dos fiéis – disse o prelado
– colocaram-se de joelhos para rezar o Terço, implorando Nossa Senhora da Paz, antes
da missa, que começou com 20 minutos de atraso. Celebrei a Missa no domingo às 18h,
para apenas 23 pessoas; rezamos pelas vítimas da manhã e pelos muçulmanos que na Síria
estão se preparando para celebrar a festa de Eid al Adha, no próximo dia 26 de outubro,
na dor e no silêncio”.
O bairro de Bab-Touma é um lugar simbólico também para
o martirológio da cristandade síria. Aqui, - recorda o Arcebispo Nassar - nas mesmas
ruas que São Paulo teve que percorrer no tempo de sua conversão e do batismo recebido
de Ananias, “11 mil mártires em 1860 banharam com o seu sangue cada centímetro quadrado”.
Até agora Bab-Touma tinha sido poupada da violência que atinge a Síria desde 15 de
março de 2011. Agora – pergunta-se Dom Nassar - que mensagem se desejou dar com um
massacre planejado precisamente para o domingo, bem no centro histórico da Cidade
Velha onde estão concentradas as igrejas cristãs? “É uma violência gratuita que bate
à porta para aterrorizar os últimos cristãos já desmoralizados?"
Diante do
terror e da violência - conclui o arcebispo maronita – o anúncio cristão se manifesta
mais do que nunca como o da “Cruz redentora, do amor e do perdão”. E os cristãos de
Damasco e da Síria têm necessidade da amizade e da oração de todos para suportarem
uma condição caracterizada por uma “solidão caótica e amarga”. (SP)