2012-10-18 11:49:45

Ruas de Jerusalém vão ganhar nomes


Jerusalém (RV) - Em princípio, no fim do ano, todas as ruas de Jerusalém terão um nome. E no ano de 2013 a cada casa será dado um número. Dito isto, batizar na cidade antiga é um assunto delicado.

Se Jerusalém não tem necessidade de se “fazer um nome”, mais de mil das suas ruas saem, pouco a pouco do anonimato. Com efeito, a Comissão de finanças da municipalidade de Jerusalém, sob a égide do Presidente da Câmara, Nir Barkat, destinou um orçamento inicial de cerca de 1 milhão de Shekels (mais ou menos 200 mil euros) para pôr em prática o seu projeto de dar um nome às ruas e números às casas em Jerusalém do Leste. Foi durante uma reunião do tribunal Supremo de Israel, em 9 de novembro de 2011, que a municipalidade de Jerusalém decidiu a dar, até ao fim de 2012, a todas as ruas e ruelas um nome. O plano da numeração, por seu lado, deveria acontecer em 2013. Concretamente, o plano foi tornado possível graças à ajuda de fotografias aéreas e de mapas de satélites. O estaleiro começou primeiro nos bairros de Choufatat e de Beit Hanina e em seguida de Tsur Baher e de Jabak Moukaber.

O que está por trás das placas

À primeira vista, é um atraso que é assim colmatado. Desde há dezenas de anos, os habitantes do Leste de Jerusalém, por falta de toponímia, e apesar dos impostos municipais pagos, não podiam receber o seu correio em casa. Para isso tinham de ir às mercearias do bairro ou às raras agências dos correios de Jerusalém Leste (9 agências contra 42 em Jerusalém Oeste). Inútil de dizer que a distribuição de cartas e encomendas sem morada é uma missão impossível. Dir-se-á mesmo, irracional. É portanto uma boa notícia para facilitar a vida quotidiana do bairro oriental, que seja para os moradores, os carteiros, entregas no domicílio, canalizadores, electricistas ou outros técnicos …mas também para os serviços de socorros de urgência (bombeiros, médicos…).

A uma segunda observação, pode-se esconder por trás deste projeto de números e letras, um caso de memória, logo um caso político. A escolha do nome das ruas, – privilégio da municipalidade – quer-se geralmente como uma vitrine de uma cidade (a sua história política, a sua história religiosa, a sua história cultural….), numa palavra o seu bilhete de identidade no esmalte de milhares de placas. Entre outros, seguramente. Compreende-se, portanto, que para a cidade três vezes santa, o que está em jogo se transforma num verdadeiro quebra-cabeças, quando se sabe que o estatuto da cidade é discutido desde 1967 na cena internacional. De uma maneira geral, cada cidade defende, pelas suas placas toponímicas, a imagem que ela quer dar de si mesma. Mas Jerusalém cristaliza entre os seus muros e no coração dos seus habitantes uma mistura de subjectividades e de heranças muitas vezes controversas.

A questão que se esconde é crucial: o nome de uma rua representa um patrimônio imaterial. Como evitar o perigo de fazer desaparecer a identidade do bairro acrescentando nomes que não têm uma ligação direta e/ou positiva com moradores?

Para Mgr. Shomali, vigário patriarcal em Jerusalém, “dar um nome a uma rua é tomar uma posição: é dar um sinal de autoridade”. Face ao “embaraço da escolha dos nomes em razão da história tripla de Jerusalém (judaica, cristã e muçulmana) “, o bispo auxiliar espera que “os nomes das ruas respeitem as heranças de Jerusalém”. E Mgr. Shomali continua, dizendo que “se derem às ruas o nome de personalidades que fizeram bem à cidade (para lá da sua pertença religiosa) não há problema”.

Teoricamente, os residentes e as associações locais em Jerusalém Leste (maioritariamente de língua árabe) foram consultados para proporem nomes para as ruas. Na realidade, a municipalidade apelou aos cidadãos para se absterem de todas as propostas “provocadoras”, por exemplo de autores de atentados. Os nomes foram submetidos à aprovação de uma primeira comissão especial, depois a uma segunda presidida por um juiz do Supremo Tribunal como é o caso de Jerusalém Oeste. Entre a lista de nomes, os dos escritores libanês Khalil e egípcio Taha Hussein foram apresentados. O nome de uma ex-cantora vedeta egípcia Oum Kalthoum foi atribuído a uma rua de Jerusalém Leste.

(RB - Patriarcado Latino de Jerusalém)








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