Leigos sejam protagonistas da Nova Evangelização, pedem os Padres sinodais
Cidade do Vaticano (RV) - Formar adequadamente os leigos, apoiar a família,
promover o diálogo ecumênico e inter-religioso: foram esses os "instrumentos" da nova
evangelização evidenciados na manhã desta segunda-feira pelo Sínodo dos Bispos, em
andamento no Vaticano.
Esteve no centro da 11º Congregação – realizada na presença
do Papa – também um apelo em favor da paz e do diálogo na República do Mali.
O
país africano está vivendo um "tempo de inquietude": o Sínodo descreve as dificuldades
sociais e políticas, bem como eclesiais, ligadas aos obstáculos da evangelização num
contexto em que os confrontos entre rebeldes e governo provisório são uma ameaça para
a religião. Diante dessa realidade, os Padres sinodais invocam a paz e reiteram a
importância do diálogo.
Mas além das crises africanas, também são sombrias
as páginas européias, em que a globalização cria novas formas de martírio, incruentas,
mas sofridas; a intolerância em relação aos cristãos é indolente, mas contínua; Deus
não é somente negado, mas desconhecido.
Diante de tal realidade, a nova evangelização
pode depositar sua confiança em três "instrumentos", afirma o Sínodo: os leigos, as
famílias, e o diálogo ecumênico e inter-religioso.
Portanto, os leigos devem
ser formados de modo adequado, sólido, intenso – quem sabe também mediante Sínodos
locais que os envolvam diretamente –, de forma que sejam capazes de não ceder às ilusões
do mundo e de dar testemunho dos valores autênticos, não baseados no conformismo da
fé.
O Sínodo ressalta que não se pode ser ou membros da Igreja ou cidadãos
do mundo: as duas dimensões caminham juntas. Os leigos devem "formar redes" nas dioceses,
afirmam os bispos, mesmo porque se a Igreja se distanciar da sociedade, a nova evangelização
não produzirá frutos.
Em seguida, o Sínodo destaca o grande desafio da família,
Igreja doméstica, sujeito de evangelização: deflagrada a causa da história ocidental
baseada na libertação de todo e qualquer laço, hoje a questão familiar se apresenta
como o problema número um da sociedade – evidencia a Assembléia sinodal –, tanto que
se acredita mais na fidelidade ao time de futebol do que no matrimônio.
E a
Igreja não pode calar-se, não porque conservadora de um instituto obsoleto, mas porque
está em jogo a estabilidade da própria sociedade.
Daí, o convite a colocar
a família no centro da política, da economia e da cultura, bem como o auspício de
que a Igreja saiba tornar-se "família das famílias", inclusive das famílias feridas.
No
fundo - e aí a pergunta dos Padres sinodais se torna autocrítica –, hoje a Igreja
não é, talvez, mais uma instituição do que uma família?
Em seguida, os Padres
sinodais abordaram a questão do diálogo, outro caminho necessário para a nova evangelização.
É claro, do ponto de vista inter-religioso existe a dificuldade, em alguns países,
de um diálogo com o Islã, como no Paquistão, onde vigora a lei da blasfêmia, ou no
Oriente Médio, onde os cristãos são cada vez menos.
O que fazer? O Sínodo aposta
nos jovens muçulmanos, sempre mais atraídos pelo Evangelho no qual encontram alegria,
liberdade e amor. Relançando o significado profundo da Boa Nova – explicam os bispos
– se poderá evitar também a confusão entre a secularização e o cristianismo, tão freqüente
no mundo muçulmano.
Nessa ótica, insere-se também uma escola de catequese para
adultos, que cada vez mais abandonam o papel de educadores, preocupando-se com os
jovens, mas não cuidando deles suficientemente.
Os catequistas adultos podem
tornar-se testemunhas e portadores de fé, obtendo, por vezes, resultados melhores
do que os próprios sacerdotes, afirmam os Padres sinodais.
No campo ecumênico
o desafio não é menor: a divisão entre cristãos é, sem dúvida, o grande obstáculo
da nova evangelização, divisão essa que não é inócua em relação à descristianização
da Europa e da sua atual fraqueza política e cultural.
Nesse sentido, uma maior
cooperação e uma estratégia pastoral concordada entre católicos e ortodoxos seria
um baluarte contra a secularização, bem como um sinal forte em relação ao Islã.
Dentre
outras sugestões feitas no Sínodo em favor da nova evangelização encontra-se a promoção
de peregrinações, como momento de renovação da fé e de "sintonia" da Igreja com as
interrogações presentes no coração do homem, de modo que compreenda a meta de seu
caminho.
Por fim, ao término dos trabalhos da tarde desta segunda-feira, os
Padres sinodais assistem, à noite, ao filme "Os sinos da Europa". Produzido pelo Centro
Televisivo Vaticano – junto com outras instituições –, o filme é uma viagem da fé
pela Europa e traz muitas entrevistas inéditas, dentre elas uma também com Bento XVI.
(RL)