Cidade do Vaticano (RV) - *O perfil do Pontífice idoso se delinea na noite
de 11 de outubro, na moldura da janela mais popular no mundo, em um momento grandioso
e emocionante. Ele sabe bem que os olhos e o coração de todos esperam uma palavra
que se aproxime de um dos discursos improvisados mais famosos de todos os tempos,
o "da lua" de seu inesquecível antecessor, João XXIII. A aparência e estilo são muito
diferentes, mas a mensagem não é menos intensa e profunda.
50 anos atrás, o
jovem Ratzinger, coração sacerdotal puro e inteligência apaixonada, também olhava
da Praça para a janela, tomado de ardor ideal. Agora o olhar de Bento parece lançar-se
mais para cima, em vez da multidão, porque ele penetra no mistério de Deus. Deus,
primeira prioridade do pontificado, primeira referência de que o Concílio que ele
nos convida a assumir como nosso na sua mais profunda e verdadeira intenção.
Deus
e nossa história, Deus e a história da Igreja. "As alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias dos homens, são também as dos discípulos de Cristo ..." assim se abre
o último documento conciliar. História para ser lida à luz das parábolas evangélicas,
como as das cizânias e da rede. História do pecado traiçoeiro e terrível, cristalizado
em suas "estruturas" de pecado pessoal que fere e avilta a experiência de cada um
de nós. Mas também história da graça que trabalha silenciosamente e se manifesta em
"pequenas chamas de bondade, amor, verdade", como aqueles que pontuaram numeráveis
e iluminaram a Praça nesta noite sem lua. Por esta razão alegria sóbria, alegria humilde;
mas alegria verdadeira, consciente da presença e da ação do Espírito do Senhor que
está conosco - apesar de tudo - e é forte e fiel.
Alegria humilde, pequenas
chamas de bondade e verdade, que transformam e dão calor. Quem pensava que o Ano da
Fé fosse se manifestar com uma série de eventos triunfais não entendeu bem. O Papa
Bento olha em outra direção. E voltando a olhar para os fiéis na Praça conclui fazendo
eco ao Papa João: "Ao voltar para casa, deem um beijo nas crianças, e digam-lhes
que é do Papa." Um simples beijo suave, cheio de amor de Deus. O Ano da Fé começa
assim.