Nesta quarta feira de manhã, os Padres sinodais reuniram-se pela primeira vez por
grupos linguísticos, em coincidência com a ausência do Papa devido à audiência geral
na Praça de São Pedro. Os trabalhos em plenária, com a presença de Bento XVi, retomarão
esta tarde, a partir das 16.30, contando com a intervenção do arcebispo de Cantuária,
doutor Rowan Williams, com o qual o Santo Padre terá um colóquio pessoal, em instalações
anexas à Aula sinodal.
Mas voltemos aos trabalhos de terça-feira. A sessão
da manhã de terça-feira do Sínodo dos bispos teve início com um apelo à paz na Síria.
Na presença do Papa, os bispos de todo o mundo convidaram também à valorização dos
migrantes e a um exame de consciência da parte da própria Igreja sobre o modo como
vive a fé. Paz e solidariedade para com as vítimas do conflito na Síria: os padres
sinodais não esquecem o mundo externo e rezam pela estabilidade em Damasco. Depois
alargaram o olhar aos desafios da nova evangelização que tem, entre os seus objectivos,
valorizar os migrantes, cujo tesouro principal é a fé que levam consigo por todo o
mundo, transformando-se em verdadeiros evangelizadores. A Igreja deve, portanto, apoiá-los,
e protegê-los de certas discriminações da sociedade, ajudando-os a integrar-se, sem
os privar da própria identidade.
Mas os padres sinodais fizeram também auto-critica
e exprimiram o desejo de que se faça um exame de consciência sobre a forma como a
Igreja vive e dá testemunho da fé: o risco de burocratizar a vida sacramental pode
levar a uma perda de credibilidade – foi dito – e isto significaria esquecer que,
para evangelizar, é necessário, antes de mais, ser evangelizados.
Daí o forte
apelo ao sacramento da penitência, que praticamente já não se pratica nalgumas regiões
do mundo. Forte também o apelo à humildade na Igreja, por forma a que não se feche
em debates intra-eclesiais, mas saiba propor o Evangelho com humildade, na óptica
de uma nova caridade. Importante, pois, é evitar o repetir-se de escândalos na vida
sacerdotal e enfrentar a emergência educativa porque, disseram os bispos, não se pode
evangelizar bem se não se educar bem e vice-versa.
Talvez, afirmaram os padres
sinodais, “a chave” da nova evangelização seja precisamente passar de uma pastoral
passiva e de mera conservação a uma pastoral intrépida, de missão permanente, em que
o padre dê testemunho, com entusiasmo, da Boa Nova.
Além disso, algumas reflexões
dos padres sinodais, esta terça de manhã, exprimam o desejo duma consagração do mundo
ao Espírito Santo. Indicaram Nossa Senhora como a primeira leiga evangelizadora e
apontaram o dialogo entre a beleza da arte e da fé como instrumento de nova evangelização.
Interessante foi o testemunho da Igreja nos Estados Unidos que introduziu o rito da
bênção da criança no seio materno: um modo – explicaram os padres sinodais – para
aproximar toda a família do nascituro aos sacramentos, especialmente ao sacramento
do baptismo. Depois, a sugestão de valorizar ulteriormente a pastoral dos militares,
por sua natureza, ligada à paz e à promoção do bem dos povos.
No final dos
trabalhos da manhã, os Padres sinodais escutaram a intervenção do delegado fraterno
Simo Peura, luterano, e do enviado especial, Lamar Vest, Presidente da “Sociedade
Americana da Bíblia”, à qual, pela primeira vez em 20 anos de acção, foi dada esta
oportunidade. Simo Peura centrou a sua reflexão sobre a valorização do baptismo e
de uma Igreja missionária, que dê testemunho de Cristo na promoção da justiça. Por
seu lado, Lamar Vest chamou a atenção para a importância e frescura da Bíblia, que
permanece sempre a mesma não obstante as mutações mundiais.
Na tarde de segunda-feira
a Assembleia sinodal acolheu a apresentação dos relatórios dos cinco continentes,
para ilustrar a recepção que o tema da nova evangelização teve nas igrejas particulares
em todo o mundo. Denominador comum das cinco intervenções foi o desafio da globalização
que tende a transformar as culturas locais, fazendo desmoronar valores tradicionais
como a família.