Cabo Verde a uma só voz para honrar a Virgem do Rosário
No dia em que afluíam, ao Vaticano, bispos de todo o mundo para o Sínodo sobre a Nova
evangelização e transmissão da fé cristã, cerca de 800 cabo-verdeanos, e seus descendentes,
congregaram-se na igreja onde, de costume, aos domingos se celebra a eucaristia em
língua portuguesa. Vierem de Roma e dos arredores da cidade eterna para viver o Dia
da comunidade que acontece em outubro, mês missionário. Assim, na tarde do domingo
7 de outubro, os cabo-verdianos emigrados em Roma desfilaram na rua para, de forma
ordenada, alegre e com postura muito orante, testemunharem a fé em Jesus Cristo e
o amor filial à Virgem do Rosário. Devoção comum a todas a ilhas do arquipélago atlântico.
O programa da Festa anual constou de procissão das velas, solene eucaristia, animada
pelo coro litúrgico, e convívio aberto a todos. A entrada da igreja foi decorada
pelos homens com um florido pórtico de entrelaçados ramos de palmeira e flores: sinal
exterior de festa. Uma “tradição da terra” que pretendia manifestar a alegria da inteira
comunidade e ser sinal de genuína “morabeza” para com o Cardeal D. Agostinho Vallini,
vigário do Papa para a cidade de Roma, que este ano presidiu à Festa da comunidade
cabo-verdiana. Foi a primeira vez, desde 1972 - ano da fundação do Centro - que o
bispo vigário do Santo Padre para Roma visitou “esta comunidade de seus diocesanos”,
como fez questão de recordar Helena Rodrigues na intervenção de agradecimento ao Cardeal
pela visita histórica. Este foi, sem dúvida, outro momento alto e inesquecível
das celebrações do Ano Jubilar, por ocasião dos 40 anos do Centro instalado na Casa
das Missionárias Cabrinianas. Significou um gesto deveras decisivo do reconhecimento,
por parte da diocese de acolhimento, da existência, história, particularidade cultural
e caminho de fé e caridade, percorrido pelo grupo de migrantes africanos, no contexto
da vida e missão da diocese de Roma. Uma comunidade mantida pelos próprios leigos
cabo-verdianos que, não tendo recebido até agora o estatuto de “capelania étnica”
- estrutura eclesial que, em geral, garante maior estabilidade, continuidade de serviço
pastoral e reciprocidade entre igrejas – apresenta, desde a sua fundação, um grande
dinamismo espiritual, associativo e missionário. “Certamente um tema a ser dialogado
num próximo encontro bilateral entre as igrejas de Cabo Verde e Itália, com vista
à continuidade do caminho de integração e participação eclesial desta comunidade romana”,
como afirma P. Rui Pedro, um dos sacerdotes colaboradores. Na Eucaristia, concelebrada
por uma dúzia de sacerdotes – entre outros, os missionários do Beato Scalabrini e
de S. Luís Orione, que apoiam espiritualmente o Centro – o cardeal D. Agostinho Vallini
pediu aos cabo-verdianos presentes “que testemunhem a fé em Cristo e a devoção à Virgem
no próprio local de trabalho, nas famílias onde a maioria exerce o serviço doméstico
ou o cuidado de idosos e doentes. Não tenhais vergonha! Falai do que acreditais, contai
a vossa experiência de fé em terra estrangeira.”. O prelado disse ainda que “hoje
Roma precisa muito do testemunho de vida cristã dos imigrantes pois, fiéis ao batismo
recebido no país de origem, vós sois novos evangelizadores e transmissores da transcendência
de Deus numa cidade sempre mais anónima, muito complexa e, de forma crescente, secularizada”.
No final da celebração, dois representantes dos jovens ofereceram, em nome da
inteira comunidade, ao Cardeal Vallini, um livro ilustrativo da história, cultura
e arte da República de Cabo Verde, e convidaram-no a visitar o arquipélago.