Brasileiros no Japão inovam e inculturam festas juninas
Tóquio (RV)
- É com imensa alegria que saúdo os ouvintes do Programa Brasileiro.
O povo
tem a capacidade de integrar, em suas festas, os elementos que fazem parte de sua
experiência diária. O tom humorístico e, diria até gozador, do brasileiro, faz com
que situações da vida sejam usadas como divertimento, sempre com a marca da irreverência.
As festas juninas podem ser uma boa amostragem dessa característica, quando se encena
o “casamento na roça”. Religião, leis, costumes, relacionamentos e comunidade são
expostos ao ridículo, provocando o riso dos espectadores.
Os migrantes brasileiros
trouxeram ao Japão, entre outros elementos culturais, também as festas juninas. Aqui,
montam seus arraiais com criatividade. Contudo, não passa pela mente pensar que sejam
uma cópia fiel das festas do país de origem. Para começar, a estação do ano é diferente.
Embora aconteçam em junho, o clima aqui é de calor e chuva, ao contrário do Brasil,
com seu friozinho suave, convidando a um gole de quentão ou vinho quente. Na verdade,
essas bebidas não são vistas por aqui.
Todavia, as novidades continuam. Junho
é apenas o primeiro mês das festas. Elas continuarão até meados de setembro. Apesar
da mudança no nome dos meses, são sempre chamadas de “juninas”. Com raras exceções,
acontecem durante o dia. A tradicional fogueira de São João é impensável aqui.
A
música típica, embalada ao som do acordeão, pode ser intercalada com a sertaneja ou
mesmo rock, executada por instrumentos eletrônicos.
Quanto às danças, o estilo
caipira, bem caracterizado na quadrilha, começa a abrir alas para as danças dos festivais
da milenar cultura japonesa, como o “bon- oodori”, por exemplo, uma dança para homenagear
os espíritos dos antepassados.
Na culinária, o churrasquinho continua sendo
a estrela. Mas diversas comidas típicas passam por transformações ou são substituídas.
Até mesmo, as delícias japonesas, como onigiris e yakissobas, já fazem parte do cardápio
das festas juninas.
Mas as inovações não param por aí. Em muitos lugares, a
abertura dos festejos é marcada com a celebração da missa. Apesar de não serem permitidas
atividades religiosas, em locais públicos, as autoridades japonesas adotaram o “jeitinho”
brasileiro para driblar a lei. A missa é caracterizada como “evento cultural”, podendo
ser celebrada livremente, presidida pelo bispo e até contando com a presença do prefeito
da cidade que, gentilmente, lê uma saudação em português para o pessoal.
Assim
é o migrante brasileiro: versátil, criativo, irreverente, informal, sempre aberto
a fatores novos que possam ser meios para se ter mais alegria de viver.
Missionário
Pe. Olmes Milani CS. Do Japão para a Rádio Vaticano.