Bento XVI proclama neste domingo dois novos Doutores da Igreja: Santa Hildegarda de
Bingen e São João de Ávila. Entrevista ao cardeal Amato
Na celebração eucarística deste domingo, 7, Bento XVI proclamará Doutores da Igreja
Hildegarda de Bingen, Abadessa beneditina (1078-1179) e o padre espanhol João de Ávila
(1500-1569). A Rádio Vaticano entrevistou o card. Amato, Prefeito da Congregação para
as causas dos santos. - O título de
Doutor da Igreja Universal é conferido àqueles santos e santas, como precisamente
Santa Hildegarda de Bingen e São João D'Ávila, que, com a sua eminente doutrina,
contribuiram ao aprofundamento do conhecimento da Revelação Divina , enriquecendo
o património teológico da Igreja e ajudando os fieis a crescerem na fé e na caridade. De
um ponto de vista teológico, os Doutores da Igreja evidenciam aspectos inéditos da
verdade evangélica. De um ponto de vista pastoral, suscitam nos fieis um renovado
apelo à coerência de vida. - Pode dizer alguma coisa sobre a "eminente doutrina"
de Hildegarda de Bingen? - A benedetina alemã Hildegarda de Bingen, fundadora
e abadesa de dois mosteiros, nas suas obras enuncia uma doutrina exímia por profundidade,
originalidade e fidelidade à revelação. Animada por uma autêntica caridade intelectual,
ela ilustra com densidade de conteúdo e frescura de linguagem o mistério de Deus Trindade,
da Encarnação, da Igreja, da Humanidade. Para Hildegarda, por exemplo, o ser humano
é visto como uma unidade corpo-alma com uma admiração positiva da corporeidade por
ordem de mérito. Que o corpo não tenha sido concedido ao Homem apenas como um peso
demonstra-nos o facto que as almas dos santos desejam ardentemente a reunificação
com o seu corpo mortal. Por consequência, o cumprimento escatológico significa uma
transformação e uma ressurreição do corpo para a vida eterna. E o que nos pode
dizer de São João D'Ávila? O espanhol São João D'Ávila, que viveu entre os
anos 1500 e 1569, foi um dos mestres espirituais mais prestigiados e consultados do
seu tempo. Recorreram à sua sabedoria para uma orientação da vida, entre outros, Santo
Inácio de Loyola, São João de Deus, São Francisco de Borja, São Tomás de Vilanova,
São Pedro de Alcântara, São João de Ribera, Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz.
Era também um excelente catequista e pregador e não deixou de fazer um uso magistral
da escrita para expor os seus ensinamentos. Qual a sua principal obra e que
influência pode ter nos dias de hoje? A sua obra principal Audi Filia,
é um clássico da espiritualidade católica. Outros escritos excelentes são La Doctrina
Cristiana, síntese pedagógica para a instrução da fé; o Tratado del Amor de
Dios, uma jóia literária, que aprofunda com sabedoria o mistério de Cristo Redentor
e ainda o Tratado sobre el Sacerdocio. Uma sua peculiaridade é a afirmação
da sua chamada universal à santidade para todos os batizados, sobretudo para os sacerdotes.
Ao longo dos séculos os seus escritos foram de grande inspiração para a formação dos
sacerdotes e para a educação dos leigos. Como se chega a Doutor da Igreja? São
principalmente os pastores e os fieis da solicitar ao Santo Padre o cumprimento deste
passo. Naquilo que diz respeito Hildegarda de Bingen, por exemplo, em uma das últimas
petições datada de 1979, os bispos católicos pediam com insistência o doutoramento
para a santa abadesa beneditina. Entre os assinantes da súplica em terceiro lugar
está a assinatura do então Cardeal Joseph Ratzinger. Obviamente, a parte da santidade,
o critério principal para ser doutor da Igreja é a avaliação da eminens doctrina. E no caso de São João d'Ávila? O movimento para a sua promoção a Doutor
da Igreja começou logo na altura da sua canonização, em 1970. O título de Mestre,
atribuído tradicionalmente ao Santo, motivava hipóteses de vir a ser doutor, proposta
promovida sobretudo pela Conferência Episcopal Espanhola. Era evidenciado o carisma
de sabedoria a ele conferido pelo Espírito Santo para o bem da Igreja e a influência
benéfica dos seus ensinamentos no povo de Deus e sobretudo nos sacerdotes.