Cidade do Vaticano (RV) - Neste domingo, dia 07 de outubro iremos, uma vez
mais, às urnas escolher nossos governantes municipais. É uma eleição muito importante,
porque iremos eleger o Prefeito e os cidadãos e cidadãs que irão compor a Câmara Municipal.
A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro já emitiu um boletim para toda a
população sobre as eleições, que foi distribuído na semana passada em nossas paróquias.
Além disso, um texto mais amplo e com detalhes foi entregue aos vigários episcopais
para divulgarem nas paróquias, e ambos foram postados em nosso site oficial. Tudo
acerca das eleições municipais. Além das reflexões já divulgadas, creio que seria
importante repassar alguns princípios que nortearam nossas orientações.
Todos
sabem que não temos candidato oficial e tampouco partido político. Não autorizamos
nenhum sacerdote de nossa Arquidiocese, seja ele secular ou religioso, a se candidatar
a cargos político-partidários. Fiéis à tradição da Igreja e ao Magistério Pontifício
indicamos princípios norteadores, pelos quais os católicos devem pautar para a escolha
de seus candidatos a Prefeito e a Vereador.
No final da Semana Nacional da
Vida e às vésperas do Dia do Nascituro, é bom refletir que o primeiro e mais importante
direito humano é a própria vida. Por isso, o primeiro e mais importante compromisso
de um homem público é com a defesa da vida em todas as suas fases, desde a concepção
até o seu termo natural, passando pelos direitos a saúde, trabalho, educação, habitação,
lazer, locomoção para as crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, pessoas
com deficiência. Nós vivemos, infelizmente, em um ambiente em que a vida humana não
está sendo valorizada. Muitas vezes a luta pela natureza vegetal e pelos animais supera
a luta pela dignidade humana. A todo momento, deparamo-nos com o desejo de se instituir
em nosso país o aborto e também a eutanásia. Nem sempre estas propostas emergem com
a devida clareza para que possamos com elas dialogar, mostrando o valor da vida em
todas as suas instâncias. Devemos, portanto, ter bastante clareza diante de propostas
que, alegando defender a pessoa, na verdade pregam a rejeição à vida. Em nome todas
as vidas inocentes ameaçadas de morte, não podemos aceitar tais propostas. Não podemos
apoiar quem não é favorável à vida humana. A vida, direito natural primário, deve
ser tutelada desde a concepção até o seu termo natural, e para isso não se faz concessões
em hipótese alguma.
Outra questão é sobre a biografia do candidato. Devemos
conhecer o que pensa, quais são suas propostas e qual é a sua vida. O futuro da humanidade
passa pela família! Que valores o candidato acredita e defende? Quais são as suas
concepções de família, estado, liberdade, meio ambiente, desenvolvimento e da missão
que pretende exercer? Ele acredita na democracia representativa a que está se candidatando?
Também tem importância a vida profissional do candidato. Não podemos votar em políticos
que buscam o cargo para resolverem seu problema profissional ou financeiro, ou, como
se costuma dizer, “gente que quer viver de ser político”. Infelizmente sabemos que
a corrupção, que não é exclusividade dos políticos, tem sido quase que uma “cultura”
paralela em nosso país.
A Igreja do Brasil trabalhou muito em busca de assinaturas
para que se pudesse votar e implantar a lei da assim chamada “ficha limpa”. Essa tem
sido muito elogiada pelos que querem bem o nosso país. Portanto, temos que ver também
o compromisso do candidato com a moralidade e a ética. Não podemos votar em candidato
“ficha suja”, candidato que esteja condenado, com trânsito em julgado. A juventude
não pode desacreditar do poder político devido aos maus exemplos. O homem público
veio para servir à causa pública e não se servir da coisa pública. A cada eleição
iremos definindo o futuro da nação pelas opções que fazemos. Essa é a grande responsabilidade
que pesa sobre nós ao darmos o nosso voto a um candidato que irá nos representar na
câmara ou coordenar os caminhos de nossa cidade.
É necessário que se tenha
bem claro a missão que se pretende assumir: executivo ou legislativo. É necessário
ter clara qual a responsabilidade de cada um. É importante saber o papel do vereador,
que é de legislar, de propor e discutir leis que sejam de fato importantes e decisivas
para o futuro da cidade. O Vereador legisla e fiscaliza o cumprimento da missão do
Executivo. Devemos fazer com que a Câmara Municipal seja o foro apropriado para a
discussão das leis necessárias para o crescimento e o desenvolvimento da cidade que
queremos para todos nós. É importante também saber quais são as obrigações que ele
tem para com o programa do seu partido e o que esse partido propõe como orientação
política. A fidelidade partidária obriga o candidato a muitos posicionamentos que
nem sempre correspondem ao que esperamos do mesmo. Que possamos ver nos eleitos
pessoas comprometidas com a pessoa humana, com a dignidade, com a construção da paz
em nossa cidade (e aqui temos uma grande missão!), com a superação das barreiras da
segregação e com a inclusão de políticas que sejam para todos. O sonho de uma cidade
onde todos vivam em paz e sem violência, tendo seus direitos respeitados, deve estar
no pano de fundo de nossa opção nas eleições.
Que não votemos por conveniências
ou apenas em busca de favores lembrando que o “voto não tem preço, tem consequências”.
Lembremo-nos da lei 9840 que foi um grande avanço para a melhoria das eleições em
nosso país. Que tenhamos a convicção de que o nosso voto será responsável pela escolha
do que queremos para os próximos quatro anos para a cidade que amamos, na qual vivemos
e que queremos que seja sempre a cidade de todos!
+ Orani João Tempesta, O.
Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ