Belo Horizonte (RV) - Às vésperas das eleições municipais é oportuno ecoar
o sentido e o alcance da ida às urnas como compromisso cidadão. Trata-se de um dever
com determinante importância nos rumos dos municípios no próximo quadriênio. Um tempo
que não é longo, mas, se for perdido, por incompetências ou por falta de envergadura
moral, contabiliza prejuízos que se desdobram durante décadas.
Não se pode
arriscar entregando governos municipais e responsabilidades de vereança a quem carece
de competências para fazer avançar cada um dos municípios. A campanha eleitoral foi
oportunidade para todos acompanharem as propostas, os programas de governo e os compromissos.
Sabe-se, contudo, que o acompanhamento da campanha eleitoral, especialmente pelos
meios de comunicação, embora muito importante, não tem a força necessária para o adequado
discernimento nas escolhas dos candidatos.
Muitos eleitores estão indecisos,
outros já planejam votar em determinado candidato, mas ainda há tempo de confrontar
suas escolhas a partir de critérios éticos. Ressalvada a sua importância, o ideário
partidário não é suficiente para decidir em quem votar. Na verdade, às vésperas das
eleições, cessada a campanha eleitoral, por dispositivo legal e controle das instâncias
competentes, é importante deixar ecoar os critérios éticos e morais para balizar escolhas
adequadas. Já não é mais, portanto, campanha eleitoral, mas o início daquela etapa
em que o eleitor é chamado a recolher-se no mais recôndito de sua consciência.
Nesse
exercício, o cidadão deve sopesar critérios éticos e morais, necessidades e competências,
além de avaliar, no seu município, o que está em andamento, o que é necessário e urgente,
para escolher bons candidatos. O voto secreto, além do respeito à liberdade e autonomia
de cada pessoa na sua escolha, é também referência ao confidencial da consciência,
que precisa ser iluminada suficientemente para não se escolher por razões frágeis.
No horizonte, deve sempre estar a importância do compromisso cidadão, sua repercussão
na vida da sociedade e de cada pessoa.
Esse momento tem, portanto, grande importância
no fortalecimento da democracia brasileira, e incidência determinante na vida cotidiana.
Não se pode entregar a responsabilidade de governar a quem não consegue corresponder
às exigências próprias dessa missão. É preciso escolher aqueles que estão verdadeiramente
comprometidos com a tarefa de construir uma sociedade mais justa. O executivo municipal
tem que ser caracterizado pela rapidez nos encaminhamentos e respostas e não por discursos
repetitivos, retóricos e estéreis. Deve buscar, criativamente, o uso de recursos,
parcerias e projetos que debelem atrasos históricos na solução de questões habitacionais,
educacionais, saúde, transportes e outras. Também não se pode arriscar na formação
de uma câmara municipal que burocratiza, emperra processos ou funcione na estreiteza
das dinâmicas cartoriais.
Mais importante do que o partidário é considerar
a força da ética e da moral no processo eletivo. É indispensável avaliar a condição
moral de cada candidato. Não é por simples moralismo. Ora, sem autoridade moral a
competência pode resvalar em direções contrárias ao bem comum. A autoridade a ser
exercida num cargo político também não pode ancorar-se apenas na competência técnica.
Mais importante é deixar-se guiar pela ordenação moral. Uma ordem que é sustentadora
e tem a força para promover o desenvolvimento de competências técnicas e fidelidades
partidárias.
A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
em nota, sublinha que “o político deve cumprir seu mandato, no Executivo ou no Legislativo,
para todos, independentemente das opções ideológicas e partidárias.” Incentiva, também,
“a sociedade organizada e cada eleitor em particular, passadas as eleições, a acompanharem
a gestão dos eleitos, mantendo o controle social sobre seus mandatos e cobrando deles
o cumprimento das propostas apresentadas durante a campanha. Quanto mais se intensifica
a participação popular na gestão pública, tanto mais se assegura a construção de uma
sociedade democrática.” As eleições são uma festa da democracia. Que esta festa seja
vivida com a mais lúcida consciência deste compromisso cidadão, construindo um tempo
mais promissor nas cidades.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano
de Belo Horizonte