Maputo
(RV) - Neste dia 4 de outubro, em Moçambique, celebram-se 20 anos de paz. Trata-se
de um aniversário histórico: de fato, em 1992 foi assinado em Roma o Acordo Geral
de Paz de Moçambique, que pôs fim a dezesseis anos de guerra. O acordo foi alcançado
com a mediação decisiva da Comunidade de Santo Egídio e negociado nos locais do antigo
mosteiro que lhe dá o nome.
A guerra em Moçambique custou quase um milhão
de mortos, cerca de dois milhões de refugiados no estrangeiro e cerca de quatro milhões
de deslocados no interior, além da destruição de muitas infra-estruturas do país.
200.000 crianças ficaram órfãs ou abandonadas dando origem a uma elevada mortalidade
infantil. Foi o drama de mais vastas proporções que abalou a história do país.
A
Comunidade de Sant Egídio encontrou Moçambique, nos finais dos anos ’70, através do
então Bispo de Beira, Dom Jaime Gonçalves. Depois de ter enviado ajudas humanitárias,
a Comunidade descobriu que “a guerra é mãe de todas as pobrezas”, e que tudo parecia
engolido pelos eventos bélicos que cancelavam todas as tentativas de reconstruir o
futuro do país. Progressivamente tornou-se clara a necessidade de encarar o problema
prioritário, o problema da reconciliação entre FRELIMO e RENAMO.
Devia-se
determinar uma vontade de paz nos ambientes do governo e também no da guerrilha. Sem
essa vontade, a paz não podia ser imposta por nenhum país, nem mesmo pelas grandes
potências. Havia muitos obstáculos a ultrapassar como, por exemplo, a convicção, de
ambos os lados, que se pudesse chegar à paz somente com a vitória militar. Depois
de algumas tentativas de ter um apoio institucional, a Comunidade de Santo Egídio
se propôs diretamente como “mediadora”.
Juntos com o então Bispo da Beira,
Dom Jaime Gonçalves e com o representante do Governo Italiano, Mário Raffaelli, o
Professor Andrea Riccardi (fundador da Comunidade de Santo Egídio) e Dom Matteo Zuppi
(assistente eclesiástico da mesma comunidade) abriram as negociações em julho de 1990,
na sede da Comunidade, em Trastevere. Naquela ocasião, Andrea Riccardi dirigiu às
duas delegações (chefiada por Armando Emílio Guebuza a da Frelimo e por Raul Domingos
a da Renamo) um discurso que pôs as bases do “método” das conversações.
Nesta
quarta-feira, na Catedral de Maputo, realizou-se uma vigília de oração presidida pelo
arcebispo dessa cidade, Dom Francisco Chimoio. Esta quinta-feira, a capital moçambicana
acolheu a marcha pela paz que partiu da Praça da Independência até a Praça da Paz,
onde foi celebrada uma cerimônia ecumênica.
Dulce Araújo do Programa Português
de nossa emissora conversou com o maçambicano Pe. Bernardo Suate sobre a marcha da
paz e os anos da guerra civil nesse país. (CM/MJ)