Tóquio (RV)
- Aos ouvintes da Rádio Vaticano vai minha saudação fraterna No Brasil,em 1822,
a mão de obra escrava havia sido abolida, sendo substituída com escasso sucesso por
mão de obra europeia. Capatazes e administradores de fazendas, em geral, transferiram
o tratamento que davam aos escravos, para os imigrantes, o que levou a maioria a abandonar
o trabalho nas fazendas, e também, o país. Com a escassez de mão de
obra, os fazendeiros, especialmente, faziam pressão sobre o governo brasileiro para
que permitisse o ingresso de asiáticos, com certa simpatia pelos japoneses.
No final de 1.800 e no início de 1.900, o governo do Japão era pressionado pela superpopulação,
vivendo na miséria e de olho na industrialização que vinha sendo introduzida às custas
da agricultura. Para ter espaço para a expansão industrial, optou-se por encontrar
formas pelas quais os agricultores desocupassem suas terras e deixassem o país. A
emigração foi a estratégia adotada, sendo confiada às Companhias de Emigração. Estas,
por sua vez, procuravam recrutar emigrantes com anúncios enganosos, apresentando o
país de destino como um “paraíso” e ocultando informações importantes sobre o clima,
sistema de trabalho e salários. A decepção dos imigrantes japoneses é descrita
pelo escritor Tomoo Handa, no livro Migrante Japonês:
“Mentiu quem disse que
o Brasil era bom, mentiu a Companhia de Emigração No lado oposto da terra cheguei, fiado
no Paraíso para ver o Inferno.
Do jeito que vão as coisas não passa de puro
sonho o dia do retorno glorioso. Já que o fim é a morte por inanição, melhor
então é ser comido por onça, por bicho qualquer.”
Os
decasséguis que, a partir da década de 90, sentindo-se pressionados pela crise econômica
do Brasil e pela indústria do Japão, que era carente de mão de obra, foram atraídos
pela oferta de trabalho bem remunerado, se comparado com os salários no Brasil e pela
ideia de ganhar muito dinheiro e voltar, tendo feito o “pé de meia”. Levando-se em
conta que a maioria é composta de mão de obra não qualificada, portanto, mal paga,
a promessa de salário bem melhor é um atrativo importante. Entraram
em cena as empreiteiras, recrutando quem quisesse dar seu trabalho para a indústria
nipônica. Na verdade, as pequenas e médias empresas, interessadas no trabalho dos
decasséguis, estavam terceirizando o emprego, eximindo-se, também, de responsabilidades
trabalhistas, assistência com a viagem até o oriente, previdência e contribuições
para aposentadoria, entre outras.
Os anúncios de oferta de emprego,
no Japão, para os nikkeis eram de um otimismo exagerado, dando a entender que em pouco
tempo os trabalhadores nadariam em dinheiro e que poderiam regressar com os bolsos
cheios. Contudo, não se mencionam o alto custo de vida no Japão, remuneração inferior,
por executar o mesmo trabalho de um cidadão japonês e que, apesar de ganharem mais
do que no Brasil, aqui pertencem à classe pobre do país. Outro engano
frequente, refere-se ao fato de que, ao chegar ao Japão, o trabalho e o salário não
são os mesmos prometidos antes de viajar. Ao migrar, os trabalhadores poderiam
lembrar que alguém disse: “Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.
Missionário
Pe. Olmes Milani CS Do Japão para a Rádio Vaticano