Direito à terra em Moçambique avança, mas ainda deve evoluir, diz chefe de agência
norte-americana
Roma
(RV) - Este 4 de outubro marca os 20 anos da paz em Moçambique, após a guerra
que devastou o país de 1976 a 1992. O chefe da divisão de Posse da Terra e Direitos
de Propriedade da agência USaid norte-americana para ajuda internacional, Gregory
Myers, viveu o período do final do conflito e também alguns anos após o armistício
em Moçambique, onde trabalhou em projetos para estabelecer novas leis de posse da
terra, um problema ainda recorrente no País.
Myers ressalta que um dos principais
problemas daquele período era a questão da posse da terra, já que milhares de pessoas
tiveram que abandonar suas propriedades.
“Após o período de guerra era muito
normal haver múltiplos pedidos de reconhecimento do mesmo pedaço de terra por diversas
pessoas”.
Quando isso acontece, é preciso desenvolver novas políticas e leis
para a posse da terra, recorda Myers, e foi exatamente isso que o USAid promoveu em
Moçambique durante o período de 1990 até 1995.
“Ajudei a criar uma nova regulamentação
para a posse da terra e a escrever uma nova lei para a propriedade além de uma Comissão
para a terra, que também foi desenvolvida para tentar resolver essa confusão”.
Um
dos maiores benefícios da lei foi o fato de que as pessoas puderam começar a demarcar
as suas próprias terras e registrá-las. Contudo, o governo de Moçambique desde a independência,
em 1975, nacionalizou as terras e, mais tarde, decretou moratória sobre as evoluções
que estavam sendo promovidas pela iniciativa internacional.
“Eu tenho esperanças
de que isso mude em breve. Que as pessoas possam se mover e demarcar as suas próprias
terras”.
Talvez isso possa acontecer com a adoção das Diretrizes Voluntárias
da FAO para políticas responsáveis na posse da terra, pesca e florestas, aprovadas
em maio deste ano, negociadas pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação com mais de 96 países durante três anos – dentro os quais Moçambique
- e que tiveram como interlocutor Dr. Myers.
"Acredito que a criação desse
acordo político, dessa plataforma política seja , talvez, o êxito mais tangível das
negociações. Nada como isso [diretrizes voluntárias] existe em outro lugar. Isso permite
que possamos ir adiante em alguns países que no passado não tiveram a oportunidade
de tratar sobre a questão da posse da terra transformando ações em realidade, seja
por meio da FAO ou dos países doadores”.