Londrina (RV) - Em seu mais recente artigo, intitulado “Servidores, não donos
da palavra”, Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, no Estado do Paraná, alerta
para o fato de que o ser humano é chamado a uma nova responsabilidade em relação à
Palavra de Deus, pois facilmente se torna dominador, manipulador, dono da Palavra.
Para o prelado, muitas vezes o homem domestica a Palavra conforme seus interesses,
deformando o Evangelho, torcendo, ajeitando e manipulando a mensagem. Para bem interpretar
a Palavra, explica Dom Orlando, precisamos da fé, do estudo, da luz do Espírito Santo
e do magistério da Igreja.
O arcebispo cita São Paulo, que alertou que não
devemos falsificar a Palavra, silenciá-la, emudecê-la, acorrentá-la, ocultá-la, ignorá-la.
“Não devemos pregar a nós mesmos, tornando estéril a Palavra que anunciamos, com nosso
comportamento errado e más ações. Prejudicamos a Palavra pela incoerência da vida.
Assim, a Palavra perde sua força e transforma-se em palavrório, prédica, demagogia,
lábia, som vazio, tagarelice, retórica”, afirma.
Dom Orlando lembra também
que no Evangelho de Lucas, Jesus perguntou ao seu interlocutor: “Como lês as Escrituras”?
(Lc 10,26) e em outra ocasião Jesus diz claramente: “A Escritura não pode ser anulada”
(Jo 10,35). Nas palavras do Concílio Vaticano II a Igreja precisa “ouvir piamente,
viver santamente, anunciar fielmente, porque ela ilumina a mente, fortalece a vontade
e ordena os afetos, cura as feridas”.
De acordo com o prelado, a nova responsabilidade
para com a Palavra que ele se refere quer dizer: ter bons microfones e saber usá-los,
resolver os problemas de acústica, zelar pela comunicação na liturgia, ter cuidados
com a voz, preparar os leitores, dar orientações sobre os cantos e a música, preparar
a homilia, orientar os fotógrafos, ter ministro do som, zelar pelas celebrações da
Palavra. “O destino da Palavra é o ouvido, o coração e os lábios. Ela não pode cair
no chão. Uma Palavra vivida e bem proclamada transpassa os corações. Ardia o coração
dos discípulos quando Jesus pregava a Palavra. Precisamos alcançar a meta de sermos
uma ‘religião da Palavra' e não do livro. Nossa meta é a animação bíblica de toda
a vida da Igreja”. Ele ainda faz questão de salientar que a responsabilidade para
com a Palavra significa: ouvir, silenciar, interiorizar, escutar a Palavra.
Dom
Orlando afirma que a Igreja tem que ser “mestra da escuta” para ser discípula, profética
e missionária. Sem a Palavra cai a profecia e enfraquece a missão. Por fim, o arcebispo
nos convida a dar à Palavra de Deus o primado que ela merece, pois ela vem antes do
catecismo, antes do terço, antes das devoções. E conforme dom Orlando, o grande erro
e engano é supor que o povo conhece a Palavra, pelo contrário, grande é o analfabetismo
bíblico.
“Por isso o Papa nos convida a uma redescoberta, a uma maior familiaridade
e maior amor para com a Palavra de Deus, pois, ela é o coração de toda a atividade
eclesial. Longe de nós o medo de colocar as Escrituras na mão do povo, oferecendo
estudos e incentivando a vivência da Palavra, regra suprema da fé”, conclui. (SP)