Papa aos líderes políticos e religiosos do Líbano: A liberdade religiosa tem uma dimensão
social e política indispensável para a paz
Baabda (RV) - Bento XVI encontra-se, no Líbano, em sua 24ª viagem apostólica
internacional.
Na manhã deste sábado, o pontífice encontrou-se no Palácio
Presidencial, em Baabda, com os líderes das comunidades religiosas muçulmanas, e a
seguir, com os membros do Governo e das Instituições da República, com o Corpo Diplomático,
com os líderes religiosos e representantes do mundo da cultura.
O Santo Padre
pediu a bênção de Deus para o Líbano e toda a região "que viu nascer grandes religiões
e nobres culturas". Segundo o Papa, o que faz rico um país são as pessoas que nele
vivem. "De cada uma e todas juntas, depende o seu futuro e a sua capacidade de se
comprometer pela paz. Tal compromisso só será possível numa sociedade unida. No entanto,
a unidade não é a uniformidade. O que assegura a coesão da sociedade é o respeito
constante pela dignidade de cada pessoa e a participação responsável de cada um segundo
as próprias capacidades, pondo a render o que há em si de melhor. A fim de assegurar
o dinamismo necessário para construir e consolidar a paz, é preciso retornar incansavelmente
aos fundamentos do ser humano. A dignidade do homem é inseparável do caráter sagrado
da vida, que o Criador lhe deu" – sublinhou.
O Papa frisou que "no desígnio
de Deus, cada pessoa é única e insubstituível". "Vem ao mundo numa família, que é
o seu primeiro lugar de humanização e sobretudo a primeira educadora para a paz. Por
isso, para construir a paz, a nossa atenção deve fixar-se sobre a família a fim de
facilitar a sua tarefa, para assim a apoiar e consequentemente promover por toda a
parte uma cultura da vida. A eficácia do compromisso a favor da paz depende do conceito
que o mundo possa ter da vida humana. Se queremos a paz, defendamos a vida. Esta lógica
desabona não só a guerra e as ações terroristas, mas também qualquer atentado contra
a vida do ser humano, criatura querida por Deus".
O Papa abordou temas como
o desemprego, a pobreza, a corrupção, a exploração, os tráficos ilícitos de toda a
espécie e o terrorismo que causam sofrimento e enfraquece o potencial humano.
"A
lógica econômica e financeira quer continuamente impor-nos o seu jugo e fazer prevalecer
o ter sobre o ser. Mas cada vida humana que se perde é uma perda para a humanidade
inteira. Esta é uma grande família, da qual todos somos responsáveis. O único antídoto
para tudo isto é uma solidariedade efetiva: solidariedade para rejeitar o que impede
o respeito por todo o ser humano, solidariedade para apoiar as políticas e iniciativas
que visam unir os povos de forma honesta e justa. É bom ver as ações de cooperação
e de verdadeiro diálogo que constroem uma nova maneira de viver juntos" – destacou
Bento XVI.
O Papa destacou a importância de educar as novas gerações a um futuro
de paz, educar para a paz, construir uma cultura de paz. "A educação, na família ou
na escola, deve ser, antes de mais nada, educação para os valores espirituais que
conferem à transmissão do saber e das tradições duma cultura o seu sentido e a sua
força. A consolidação duma cultura de paz tem este preço. Pensamentos de paz, palavras
de paz e gestos de paz criam uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade,
onde os erros e as ofensas podem ser reconhecidos com verdade, para avançar juntos
rumo à reconciliação. Peço aos estadistas e aos responsáveis religiosos que reflitam
nisto" – disse o pontífice.
Enfim, o Papa recordou que a liberdade religiosa
é um direito fundamental. "Para toda e qualquer pessoa deve ser possível professar
e viver livremente a própria religião sem pôr em perigo a sua vida e liberdade. A
liberdade religiosa tem uma dimensão social e política indispensável para a paz: promove
uma coexistência e uma vida harmoniosas através do compromisso comum ao serviço de
causas nobres e na busca da verdade que não se impõe pela violência, mas pela «sua
própria força», aquela Verdade que é Deus" – disse ainda.
"Estas breves reflexões
sobre a paz, a sociedade, a dignidade da pessoa, sobre os valores da família e da
vida, sobre o diálogo e a solidariedade não podem permanecer ideais simplesmente enunciados;
podem e devem ser vividos. Estamos no Líbano e é aqui que devem ser vividos. O Líbano
é chamado, agora mais do que nunca, a ser um exemplo" – concluiu Bento XVI. (MJ)