"Importar ideias de paz e criatividade em vez de armas" - Papa aos jornalistas durante
voo
No voo que o levava ao Líbano, o Papa falou com os jornalistas a bordo. Uma conversa
centrada sobre o dialogo com o islão, a primavera árabe, os temores pela situação
dos cristãos na Síria e no Médio Oriente em geral, o apoio que a Igreja católica e
os fieis do resto do mundo lhes pode dar….
Bento XVI começou por exprimir
a sua alegria por poder falar com os jornalistas para depois passar a responder a
uma pergunta relativa aos ventos que tinha havido de que poderia renunciar a esta
viagem devido à difícil situação no Médio Oriente…
“ Nunca ninguém me aconselhou
a renunciar a esta viagem e eu nunca admiti esta hipótese, porque sei que quando a
situação fica mais complicada é ainda mais necessário dar um sinal de fraternidade,
de coragem e de solidariedade. Então, o objectivo da minha viagem é convidar ao diálogo,
convidar à paz contra a violência, trabalhar juntos para encontrar a solução dos problemas.
Os meus sentimentos são sobretudo de reconhecimento por poder visitar neste momento
este grande país, um país que - como disse João Paulo II - é uma mensagem de encontro
nesta região para as três religiões (…). Sinto-me feliz e estou certo de que podemos
fazer um serviço real para o bem do homem e da paz”.
Respondendo a uma outra
pergunta sobre o imperativo do dialogo com o Islão sobretudo hoje num contexto de
crescimento do fundamentalismo, o Papa sublinhou que “o fundamentalismo é sempre
uma falsificação da religião” religião que convida, pelo contrário, à paz de Deus.
Por isso, “o empenho da Igreja e das religiões” – observou – “é o de realizar uma
purificação dessas tentações, iluminar as consciências e fazer com que cada um tenha
bem clara a imagem de Deus”.
Foi também muito incisivo o convite do Papa à
tolerância, sem a qual – disse, não há verdadeira liberdade. A propósito da primavera
árabe e das ameaças para a sobrevivência dos cristãos, minorias naquelas áreas, Bento
XVI sublinhou que o desejo duma maior democracia, liberdade, cooperação é de per si
positivo, é um “progresso”, mas só poderá crescer na partilha, na vida em conjunto
com regras. Devemos fazer todo o possível a fim de que “o conceito de liberdade, o
desejo de liberdade vá na justa direcção e não deixe de lado a tolerância, a reconciliação,
elementos fundamentais da própria liberdade”.
No que toca à situação na Síria,
Bento XVI disse aos jornalistas que é necessário promover todos os gestos possíveis,
mesmo materiais a fim de levar ao fim da guerra e da violência. É “grande”, disse,
o perigo de os cristãos se afastarem destas terras, embora – disse – mesmo os muçulmanos
estejam a fugir delas. “Uma ajuda fundamental seria, portanto, pôr fim à violência”
– rematou o Papa frisando que o papel da Igreja é difundir a mensagem da paz, esclarecer
que a violência não resolve os problemas e que importante neste sentido é também a
tarefa dos jornalistas. Daí o seu apelo:
“Em vez de importar armas, que é
um pecado grave, deveríamos importar ideias, a paz, a criatividade, aceitar os outros
na sua diversidade, tornar visível o respeito recíproco das religiões, o respeito
pelo homem como criatura de Deus, o amor do próximo como elemento fundamental para
todas as religiões.”
Interpelado sobre os passos concretos do mundo ocidental
em relação aos irmãos no Médio Oriente, o Papa afirmou que todos são chamados a contribuir.
“É necessário” – especificou - “influir sobre a opinião todos os meios e possibilidades
tendentes à paz”. “Gestos visíveis de solidariedade, jornadas de oração pública, podem
ter efeitos reais” – disse. Num certo sentido “o nosso – concluiu o Papa – “é um trabalho
extremamente necessário de advertência, de educação, de purificação.”