Beirute (RV) – Leia a íntegra do discurso pronunciado por Bento XVI na cerimônia
de boas-vindas do Aeroporto Rafiq Hariri, de Beirute, esta sexta-feira.
Senhor
Presidente da República, Senhores Presidentes do Parlamento e do Conselho de Ministros,
Amadas Beatitudes, Membros do Corpo Diplomático, Ilustres Autoridades civis e religiosas
presentes, Queridos amigos!
Tenho a alegria, Senhor Presidente,
de responder ao amável convite que me fez para visitar o vosso país, e também ao convite
recebido dos Patriarcas e Bispos católicos do Líbano. Este duplo convite bastaria,
se fosse necessário, para manifestar a dupla finalidade da minha visita ao vosso país.
Esta sublinha as excelentes relações que sempre existiram entre o Líbano e a Santa
Sé, e pretende contribuir para as reforçar. Com esta visita, desejo também retribuir
as que o Senhor Presidente me fez ao Vaticano em Novembro de 2008 e, mais recentemente,
em Fevereiro de 2011, seguida nove meses mais tarde pela visita do Senhor Primeiro-Ministro. Foi
durante o segundo dos nossos encontros que a majestosa estátua de São Maron foi abençoada.
A sua presença silenciosa numa parede lateral da Basílica de São Pedro lembra, de
forma permanente, o Líbano no próprio lugar onde foi sepultado o apóstolo Pedro. Manifesta
um património espiritual secular, confirmando a veneração dos libaneses pelo primeiro
dos Apóstolos e seus sucessores. Precisamente para ressaltar a sua grande devoção
a Simão Pedro é que os Patriarcas Maronitas acrescentam ao seu nome o de Boutros.
É bom ver como do santuário petrino, São Maron intercede continuamente pelo vosso
país e por todo o Médio Oriente. Desde já lhe agradeço, Senhor Presidente, por todos
os esforços realizados para o bom êxito da minha estadia entre vós. Outro motivo
da minha visita é a assinatura e entrega da Exortação apostólica pós-sinodal da Assembleia
Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, Ecclesia in Medio Oriente; trata-se
dum importante evento eclesial. Agradeço a todos os Patriarcas católicos que aqui
se encontram, e de modo particular ao Patriarca emérito, o amado Cardeal Nasrallah
Boutros Sfeir, e ao seu sucessor, o Patriarca Bechara Boutros Raï. Saúdo fraternalmente
todos os Bispos do Líbano, bem como aqueles que vieram para rezar comigo e receber
das mãos do Papa este documento. Através deles, saúdo com paterno afecto todos os
cristãos do Médio Oriente. Destinada ao mundo inteiro, a Exortação propõe-se ser para
eles um roteiro para os anos futuros. Alegro-me também por poder encontrar, durante
estes dias, numerosas representações das comunidades católicas do vosso país, por
podermos celebrar e rezar juntos. A sua presença, o seu compromisso e o seu testemunho
são um contributo reconhecido e muito apreciado na vida diária de todos os habitantes
do vosso amado país. Desejo saudar também, com grande deferência, os Patriarcas
e Bispos ortodoxos que me vieram receber, bem como os representantes das várias comunidades
religiosas do Líbano. A vossa presença, queridos amigos, demonstra a estima e colaboração
que, no respeito mútuo, desejais promover entre todos. Agradeço-vos pelos vossos esforços
e tenho a certeza de que continuareis a procurar caminhos de unidade e concórdia.
Não esqueço os acontecimentos tristes e dolorosos que, durante longos anos, atormentaram
o vosso lindo país. A convivência feliz de todos os libaneses deve demonstrar a todo
o Médio Oriente e ao resto do mundo que, dentro duma nação, pode haver colaboração
entre as diversas Igrejas – todas elas membros da única Igreja Católica – num espírito
de comunhão fraterna com os outros cristãos e, ao mesmo tempo, a convivência e o diálogo
respeitoso entre os cristãos e os seus irmãos de outras religiões. Vós sabeis, tão
bem como eu, que este equilíbrio, que é apresentado em toda a parte como um exemplo,
é extremamente delicado. Por vezes ameaça romper-se, quando está esticado como um
arco ou sujeito a pressões que são muitas vezes de parte ou interessadas, contrárias
e estranhas à harmonia e suavidade libanesas. Então é preciso dar provas de real moderação
e grande sabedoria; e a razão deve prevalecer sobre a paixão unilateral para favorecer
o bem comum de todos. Porventura o grande rei Salomão, que conhecia o rei Hiram de
Tiro, não considerava a sabedoria como sendo a virtude suprema!? Por isso a pediu
com insistência a Deus, que lhe deu um coração sábio e inteligente (cf. 1 Rs 3, 9-12). Venho
também para vos dizer como é importante a presença de Deus na vida de cada um e como
a forma de viver juntos – esta convivência de que o vosso país quer dar testemunho
– só será profunda se estiver fundada sobre uma visão acolhedora e uma atitude de
benevolência para com o outro, se estiver enraizada em Deus que deseja que todos os
homens sejam irmãos. O famoso equilíbrio libanês, que quer continuar a ser efectivo,
pode-se prolongar graças à boa vontade e ao compromisso de todos os libaneses. Só
então será um modelo para os habitantes de toda a região e para o mundo inteiro. Não
se trata duma obra meramente humana, mas dum dom de Deus que é preciso pedir com insistência,
preservar a todo custo e consolidar resolutamente. Os laços entre o Líbano e o
Sucessor de Pedro são históricos e profundos. Senhor Presidente e queridos amigos,
venho ao Líbano como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo dos homens.
«Salami ō-tīkum – dou-vos a minha paz», diz Jesus Cristo (Jo 14, 27). E hoje, além
do vosso país, dirijo-me em espírito também a todos os países do Médio Oriente como
peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo de todos os habitantes de todos
os países da região, independentemente da sua filiação e da sua crença. Também a eles
Jesus Cristo diz: «Salami ō-tīkum». As vossas alegrias e as vossas tribulações estão
continuamente presentes na oração do Papa, pedindo a Deus que vos acompanhe e console.
Posso assegurar-vos que rezo de maneira particular por todos os que sofrem nesta região,
e são tantos! A estátua de São Maron recorda-me aquilo que vós viveis e suportais. Senhor
Presidente, o seu país preparou-me uma recepção calorosa, um magnífico acolhimento
– o acolhimento que se reserva a um irmão amado e respeitado. Verdadeiramente digno
é o seu país do «Ahlan wa Sahlan» libanês; já o é agora e sê-lo-á ainda mais daqui
para diante. Estou feliz por estar com todos vós. Que Deus vos abençoe a todos (Lè
yo barèk al-Rab jami’a kôm!). Obrigado.