Bento XVI em colóquio com jornalistas durante voo para o Líbano: fundamentalismo é
falsificação da religião
Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI iniciou nesta sexta-feira a 24ª viagem
apostólica internacional de seu Pontificado, viagem esta que o levou ao Líbano. Durante
o voo para o País dos Cedros, num Airbus A320 da Alitalia, o Santo Padre deteve-se
com os jornalistas a bordo para a tradicional coletiva de imprensa.
Na coletiva,
o Papa tratou de temas fortes como o diálogo com o Islã, a primavera árabe, os temores
pela situação dos cristãos na Síria e na área do Oriente Médio, e sobre a ajuda que
as Igrejas e os católicos do Ocidente podem lhes dar.
"Ninguém jamais me aconselhou
a renunciar a esta viagem e jamais contemplei essa hipótese, porque sei que quando
a situação se complica ainda mais, é aí então que se faz mais necessário um sinal
de fraternidade, de encorajamento e de solidariedade."
Com essas palavras –
respondendo em francês e em italiano às perguntas dos jornalistas –, Bento XVI resumiu
os sentimentos com os quais faz essa viagem apostólica ao Líbano, cujo objetivo, acrescentou,
num país que já representa uma mensagem de encontro inter-religioso, é, portanto,
"convidar ao diálogo, à paz contra a violência, a caminhar juntos para encontrar a
solução dos problemas".
Respondendo a uma pergunta sobre o imperativo do diálogo
com o Islã, hoje num momento de crescimento do extremismo, o Papa ressaltou que "o
fundamentalismo é sempre uma falsificação da religião" que, ao invés, convida a difundir
a paz de Deus.
Portanto, "o empenho da Igreja e das religiões", observou, "é
realizar uma purificação dessas tentações, iluminar as consciências e fazer de modo
que cada um tenha uma imagem clara de Deus". Em seguida, fez um premente convite ao
respeito recíproco, vez que cada um é "imagem de Deus".
Foi igualmente incisivo
o convite do Pontífice à tolerância, sem a qual, disse, não há verdadeira liberdade.
A
propósito da primavera árabe e da questão da sobrevivência dos cristãos, minorias
naquelas áreas, Bento XVI quis ressaltar que um desejo de maior democracia, de liberdade,
de cooperação é por si positivo, é um "progresso", mas que se pode crescer somente
na partilha, no viver juntos com determinadas regras.
Devemos fazer tudo o
que for possível para que "o conceito de liberdade, o desejo de liberdade caminhe
na direção justa e não se esqueça a tolerância e a reconciliação, que são elementos
fundamentais da própria liberdade", observou.
Em relação à situação na Síria,
o Papa ressaltou que é necessário promover todos os gestos possíveis, inclusive materiais,
para favorecer o fim da guerra e da violência.
O perigo de os cristãos irem
embora destas terras é "grande", observou, embora fujam também muçulmanos. Nesse sentido,
"o cessar das violências seria a ajuda essencial", acrescentou.
O Papa afirmou
reiteradas vezes que o papel da Igreja é a difusão da mensagem da paz, o empenho em
evidenciar que a violência não resolve os problemas, e nesse sentido também a tarefa
dos jornalistas é importante, ponderou.
Em seguida, o Santo Padre fez um apelo:
"ao invés de importar armas, que é um pecado grave, devemos importar as ideias, a
paz, a criatividade, aceitar os outros nas adversidades, tornar visível o respeito
recíproco das religiões, o respeito pelo homem como criatura de Deus, o amor pelo
próximo como elemento fundamental para todas as religiões".
Respondendo à pergunta
de um dos jornalistas sobre os passos concretos do Ocidente em favor dos irmãos do
Oriente Médio, o Papa afirmou que todos devem contribuir.
É necessário "influenciar
a opinião pública", "convidar os políticos a realmente se empenharem, com todas as
forças e com todas as possibilidades, em favor da paz". "Gestos visíveis de solidariedade
e dias de oração pública podem ter efeitos reais.
Num certo sentido, concluiu
Bento XVI, o nosso trabalho "é um trabalho de admoestação, de educação e de purificação
muito necessário". (RL)