Cidade do Vaticano (RV) - A segunda leitura
de hoje, tirada da Carta de São Tiago, nos questiona quanto ao nosso relacionamento
com as pessoas que são ricas, bonitas, inteligentes, realizadas profissionalmente,
afetivamente, enfim, como nos portamos diante das pessoas bem sucedidas de acordo
com o critério mundanos. Ao mesmo tempo, São Tiago também analisa nosso comportamento
em relação ao pobre, ao deficiente, ao feio, ao menos inteligente, ao desempregado,
ao sem teto, enfim aos marginalizados em nossa sociedade.
Se somos batizados,
se fizemos a profissão de fé cristã e a renovamos a cada domingo no momento do Credo,
deveremos agir como Jesus Cristo e ter um especial carinho pelos pobres e oprimidos
já que eles mereceram uma atenção especial de Jesus e continuam sendo os filhos queridos
do Pai.
Contudo, deixamos a carne falar mais forte e agimos de acordo com os
critérios humanos, mesmo sabendo que fazemos algo errado. O belo, o aceito socialmente
nos atrai tanto, na mesma proporção em que repugnamos o feio. Ao mesmo tempo demonstramos
também nossa fragilidade, temendo a reação do mundo, em não sermos aceitos por causa
de nossa postura socialmente incorreta diante dos códigos sociais elitistas. Aí renegamos
o Cristo crucificado, que está no marginalizado, e abraçamos as pompas e as obras
que o crucificaram.
Muitas vezes conseguimos ter atitudes cristãs dentro das
igrejas, na hora da missa, mas tal não consegue resistir a um confronto em um ambiente
extra eclesial. É na sociedade, nos casamentos, nas festas, no trabalho, na rua, nos
hospitais, que somos chamados a sermos sal da terra e luz do mundo. É aí que deveremos
fazer a diferença.
Criticamos muito os nossos políticos e deveremos continuar
criticando-os quando não fazem o que prometeram em época de eleições. Alguns até se
deixam subornar por dinheiro ou por acordos partidários. Mas atenção, não só os políticos
corruptos são coniventes com os erros denunciados por uma frase do livro do Eclesiastes
(13,3), mas também nós: "O rico comete uma injustiça e ainda se mostra altivo, o pobre
é injustiçado e ainda se desculpa”. Concordaremos com isso ou vamos lutar pela justiça,
evitando discriminação? Se cremos em Deus, nossas relações serão marcadas pela justiça
e pela caridade.
No Evangelho Jesus curou um surdo que, por causa dessa deficiência,
falava com dificuldade. O Senhor o levou para fora da multidão, tocou-o em seu ouvido
e língua e disse sobre ele: "Abre-te!" O surdo, como não escuta, não sabe o que passa
ao seu redor e geralmente, como no relato de hoje, tem dificuldade em se expressar
e, por tudo isso se sente e é marginalizado. Jesus o retirou dessa situação, devolvendo-o
capacitado. A ação cristã o reintegrou à sociedade.
Ao mesmo tempo o Senhor
recomenda silêncio em relação ao seu feito. Perguntamo-nos o por quê? Porque Ele sabe
que o testemunho dado só será possível quando as pessoas passarem, como ele Jesus
passou, pela cruz e ressurreição. É no Calvário que surge o homem novo, o homem que
supera os contra valores mundanos e revela a fé autêntica, a entrega radical ao querer
do Pai, isto é, à prática da justiça.
Se Deus privilegia os pobres, que lugar
ocupam os carentes em minha vida? Até onde pratico e luto por uma justiça social?