Jales (RV)* - O final de agosto nos leva, direto, para a Semana da Pátria.
Será sempre importante cultivar nossa identidade de brasileiros, a partir da esplêndida
realidade com que fomos agraciados pela natureza e pela história. Pois a Pátria não
é só o que a natureza nos regala em sua generosidade. A Pátria é também o fazemos
dela. Aí começa nosso desafio. Que Pátria queremos construir. Esta questão
vai tomando mais consistência, na medida em que nos damos conta das diversas dimensões
de nossa vida que precisam ser assumidas, definidas e trabalhadas. Tempos
atrás, no processo das “Semanas Sociais Brasileiras”, que agora está sendo retomado
com vigor, chegamos a definir um sonho de Brasil que gostaríamos de ver realizado.
Foi então que aos poucos foram sendo alinhados diversos adjetivos para desenhar “O
Brasil que a gente quer”, “O Brasil que nós queremos”. A série começava
pela dimensão política. E de fato, a política é imprescindível para a definição da
convivência entre cidadãos duma mesma Pátria. Contanto que a política seja exercida
democraticamente. Assim se firmava a primeira referência da Pátria que sonhamos. Queremos
um Brasil “politicamente democrático”. Em seguida, pelas inúmeras implicações
da economia na vida dos cidadãos, se defendia com firmeza que o Brasil precisava ser
“economicamente justo”. Como a economia é tão complexa na sua dinâmica, todos se davam
conta que esta dimensão precisa ser assumida com critérios políticos e com competência
profissional. Não é espontaneamente que a economia de um país é justa. A economia
não está imune a exigências de ordem política e social. Ela não está acima dos valores
que compõem o sonho de uma Pátria onde todos se sentem acolhidos e podem participar
com sua presença e seu trabalho. Por isto, a seguinte dimensão se tornava
imprescindível para ir desenhando um sonho viável e justo de Brasil. De modo que a
ladainha dos valores prosseguia, dizendo que nós queremos um país “socialmente solidário”.
Por mais que a economia contribua para que todos tenham os recursos para a sua vida,
ela nunca resolve sozinha os problemas. A sociedade precisa se pensar e se organizar
de maneira fraterna, tendo presente que o valor de cada pessoa humana não se mede
em primeiro lugar por aquilo que produz, compra ou de vende, mas cada um vale em primeiro
lugar por aquilo que ele é. E isto postula uma sociedade solidária, onde os mais frágeis
têm precedência no atendimento de suas necessidades, independente de sua participação
na produção dos bens materiais e culturais. O mercado não esgota a economia, nem dispensa
a solidariedade. Assentados estes três pilares, da democracia, da justiça
e da solidariedade, foram emergindo outras dimensões, que também precisam integrar
nosso sonho de Brasil. Para formarmos uma Pátria de cidadãos livres, participativos,
responsáveis, abertos à convivência, é preciso contar com outras referências, cuja
importância foi aparecendo com clareza. Somos um país continental, onde
as regiões cumprem um papel decisivo. As regiões acabam proporcionando o contexto
para a expressão de valores culturais diversificados, que enriquecem a Pátria e proporcionam
novas oportunidades de fecunda convivência entre os cidadãos. Assim, fomos
nos dando conta que “o Brasil que nós queremos” precisa também ser “culturalmente
plural, regionalmente diversificado, ecologicamente sustentável, e religiosamente
ecumênico”. São tantos os ingredientes de um projeto de Pátria. Percebemos
a grande distância que existe entre a teoria e a prática, entre o sonho e a realidade.
Quem sabe, ao longo desta Semana da Pátria, renovemos o sonho do “Brasil
que nós queremos”, para saber por onde começar sua implementação. Depois conversaremos
de novo.