Segunda-feira, em Milão as exéquias do card.Martini, arcebispo emérito da arquidiocese.
"Um grande evangelizador" (padre Lombardi)
Terão lugar na catedral de Milão, segunda-feira, às 16 horas, as exéquias do cardeal
Carlo Maria Martini, falecido na tarde desta sexta-feira, 31 de agosto, com 85 anos
de idade (foto, 2005, com Bento XVI, neo-eleito). A emoção suscitada por esta
morte vai bem para além da arquidiocese de que foi pastor ao longo de 22 anos (1979-2002)
Com a sua palavra, os seus numerosos escritos e inovadoras iniciativas pastorais,
o cardeal Martini soube testemunhar e anunciar eficazmente a fé aos homens do nosso
tempo, merecendo a estima e o respeito de próximos e distantes, inspirando no exercício
do seu ministério tantos irmãos no episcopado, em muitas partes do mundo”.
O
seu perfil era o de um jesuíta estudioso de Sagrada Escritura, para quem a Palavra
de Deus era o ponto de partida e o fundamento da sua abordagem de qualquer aspeto
da realidade e de cada uma das suas intervenções. A sua espiritualidade era a de uma
relação contínua e concreta entre a leitura da Palavra de Deus e a vida, à busca de
um discernimento espiritual e decisão à luz do Evangelho.
Foi uma corajosa
intuição de João Paulo II tirar partido da riqueza cultural e espiritual daquele que
tinha sido até então um biblista, Reitor do Instituto Bíblico e, depois, da Universidade
Gregoriana, para o colocar à frente da arquidiocese de Milão, uma das maiores do mundo.
Grande
era o seu amor à Terra Santa, onde sempre desejou passar os últimos anos de vida,
para aí ser sepultado. Foi a gravidade da doença que o obrigou a regressar à Itália
em 2007. Vivia numa casa dos jesuítas, dos arredores de Roma.
A comunidade
de Santo Egídio recorda o seu grande testemunho de pastor e o amor pela Palavra de
Deus, assim como pelos mais débeis e pobres, a sua paixão pela paz e pelo diálogo.
Natural
de Turim, Piemonte, norte da Itália, Carlo Maria Martini, ingressou na Companhia de
Jesus em 1944, com 17 anos. Ordenado padre em 1952. Doutorado em Sagrada Escritura,
foi nomeado reitor do Instituto Bíblico de Roma em 1969. Em 1978, reitor da Universidade
Gregoriana. Foi o único membro católico do Comité Ecuménico para a preparação da edição
crítica grega do Novo Testamento.
Em 1978, a convite de Paulo VI, pregou os
Exercícios Espirituais no Vaticano. Em Dezembro de 1979, João Paulo II nomeou-o Arcebispo
de Milão, aonde deu entrada em Fevereiro seguinte. Logo neste primeiro ano de ministério
episcopal introduziu na diocese a “Escola da Palavra”, para ajudar o povo de Deus
a abordar a Sagrada Escritura segundo o método da “Lectio divina”.
Foi ao
cardeal Martini que o padre Lombardi dedicou o costumado Editorial desta semana:
“A
morte do cardeal Carlo Maria Martini é um acontecimento que suscita grande emoção,
bem para além dos confins da aliás vastíssima arquidiocese de Milão, que governou
ao longo de 22 anos. Trata-se, de facto, de um bispo que com a sua palavra, os seus
numerosos escritos, as suas inovadoras iniciativas pastorais soube testemunhar e anunciar
eficazmente a fé aos homens do nosso tempo, granjeando a estima e o respeito de próximos
e distantes, inspirando no exercício do seu ministério tantos irmãos no episcopado,
em muitas partes do mundo. A formação e a personalidade de Martini
eram as de um jesuíta estudioso da Sagrada Escritura. A Palavra de Deus era o ponto
de partida e o fundamento da sua abordagem a cada aspeto da realidade e de cada uma
das suas intervenções; os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola eram a
matriz da sua espiritualidade e da sua pedagogia espiritual, da relação contínua,
direta, concreta, entre a leitura da Palavra de Deus e a vida, do discernimento espiritual
e da decisão à luz do Evangelho. Foi uma corajosa intuição de João
Paulo II colocar a riqueza cultural e espiritual daquele que tinha sido até então
um estudioso, Reitor do Instituto Bíblico e depois da Universidade Gregoriana ao serviço
do governo pastoral de uma das maiores dioceses do mundo. Caraterístico foi o seu
estilo de governo. No seu recente, último, livrinho – “o Bispo” – escreve Martini:
“Não pense o bispo poder guiar eficazmente as pessoas a ele confiadas com proibições
e juízos negativos. Preocupe-se, isso sim, com a formação interior, com o gosto e
a fascinação da Sagrada Escritura, apresente as motivações positivas do nosso agir
segundo o Evangelho. Obterá assim muito mais do que com rígidas chamadas à observância
das normas”. É uma herança preciosa, sobre a qual refletir seriamente
quando procuramos as vias da nova evangelização”.