Moçambique: bispos denunciam “autoritarismo” e ameaças à democracia
Maputo (RV) – Em nota pastoral em que assinala 20 anos do Acordo Geral de Paz,
a Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) denuncia "práticas autoritárias" nos partidos
moçambicanos e considera que a paz e a democracia podem estar em perigo devido à "intolerância"
entre as duas principais formações políticas, Frelimo e Renamo.
Na "Nota Pastoral
às Comunidades Cristãs e aos Homens e Mulheres de Boa Vontade", a CEM alerta ainda
para o risco de os recursos naturais que estão sendo descobertos no país se tornarem
num pesadelo.
O documento, de 20 páginas, diz que o país vive o paradoxo de
ter partidos que se declaram democráticos, mas que pautam pelo autoritarismo na sua
vida interna. Para a CEM, a dinâmica dos partidos políticos moçambicanos, ou "de uma
boa parte deles", é imposta pelas lideranças, em detrimento do livre pensamento da
maioria dos membros.
“Não terão muitos membros dos partidos políticos medo
de expressar a própria opinião, quando difere da elite dirigente? Serão consistentes
e sustentáveis uma democracia e uma convivência pacífica fundadas no medo de pensar
diferente e de expor publicamente o próprio pensamento?” - questionam os bispos católicos
moçambicanos.
A CEM refere-se igualmente ao 20º aniversário do Acordo Geral
de Paz, que se assinala no próximo dia 04 de outubro, chamando a atenção para o fato
de que a intolerância entre a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido
no poder, e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido da oposição,
constituem uma ameaça à paz.
Os bispos moçambicanos lançam também um olhar
sobre as descobertas de recursos minerais em Moçambique e se dizem preocupados com
o risco de que essa riqueza se transforme em "pesadelo". (CM-Lusa)