Rio de Janeiro (RV) - A vocação para o sacerdócio – como nos lembra o beato
João Paulo II em seu livro por ocasião dos 50 anos de sua ordenação sacerdotal – é
um dom e mistério! É o primeiro presente! Ninguém pode reclamar o direito a ser padre.
O sacerdócio é um dom extraordinário do amor de Deus. É o fruto da graça de Deus.
O sacerdócio é também um mistério! É uma reunião secreta de duas liberdades:
a liberdade de Deus que chama, e a liberdade do homem que responde a este apelo. Muitas
vezes, “chamou a si mesmo” não pode explicar até o fim em si, como aconteceu com ele,
que descobriu e percebeu a vocação para o sacerdócio.
A vocação é, portanto,
um dom e um mistério! É possível definir e descrever as verdades fundamentais que
se aplicam a uma vocação para o sacerdócio. Por um lado podem definir-se os critérios
básicos e sinais de o fato de uma pessoa ser chamada para o sacerdócio. Da mesma forma,
podem especificar-se os requisitos básicos relacionados com a preparação adequada
para o sacerdócio. Finalmente, podemos descrever com precisão as funções relevantes
que dizem respeito à essência de ser um sacerdote e a substância do ministério sacerdotal.
A condição necessária para alcançar uma vocação é o encontro com Cristo, uma
amizade pessoal com o nosso Redentor. Um adolescente ou jovem que não é amigo de Cristo
não é capaz de ouvir a chamada da voz do Senhor e, assim, não pode colocar em prática
o plano que Deus tem para ele. Cristo é aquele que chama, e sua voz pode ser ouvida
apenas no encontro direto com o Salvador. No encontro com Cristo na oração pessoal
e da liturgia da Igreja, especialmente na Eucaristia e no sacramento da Penitência.
A amizade com Cristo é o desejo sincero de cumprir os mandamentos de Deus para a formação
da consciência nobre no espírito do Evangelho, e crescer no conhecimento do mistério
de Deus na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Um profundo conhecimento de
Deus é feito especialmente por meio da leitura das Escrituras, através da catequese,
liturgia, retiros paroquiais, ou ainda através de peregrinações. Se alguém descobre
que existe em seu coração a vocação para uma especial consagração, antes de tomar
uma decisão sobre entrar no seminário deve participar ativamente da vida da sua paróquia
e/ou de um movimento católico, do grupo vocacional, da formação para os jovens...
para aprofundar a sua amizade com Cristo e ter uma chance de fazer uma verificação
preliminar da sua vocação.
Outro requisito importante para a descoberta e implementação
de uma vocação sacerdotal é viver a sua vida na perspectiva da chamada universal à
santidade dos batizados. Cada um de nós foi dotado por Deus com a razão e a liberdade.
Cabe a nós decidir como vamos usar esses dons de Deus. A condição para a descoberta
de uma vocação para o sacerdócio é acreditar que Deus tem uma ideia melhor para a
minha vida. Na verdade, Ele me conhece melhor do que eu. Compreender que a realização
do chamado de Deus não é a renúncia à felicidade e realização pessoal, mas o melhor
caminho para a felicidade e alegria duradoura. Daí vem a certeza de estar disponível
para a formação no seminário, com um coração puro, indiviso, aberto e responsável. Uma
condição básica para uma preparação sincera e fecunda para o sacerdócio é o aprofundamento
contínuo da amizade pessoal com Cristo. Um candidato ao sacerdócio é alguém que aprende
a maneira mais completa de pensar como Cristo, e amar como Ele é. Portanto, um pré-requisito
para o crescimento e, simultaneamente, testar a vocação, é viver na presença de Cristo;
é uma oração pessoal de louvor, agradecimento e súplica; a alegria da Eucaristia diária;
a comunhão e a utilização proveitosa do sacramento da penitência; a participação ativa
no culto. Um fator importante é a busca regular da ajuda ou direção espiritual.
Deve-se
atingir a maturidade humana e cristã. O padre é alguém que é um testemunho de Deus;
que reforça os nossos irmãos e irmãs na fé, na esperança e no amor. Por esta razão,
o sacerdote deve ser maduro e forte.
Para servir bem ao povo, como padre,
é também necessário alcançar uma formação intelectual integrada. Necessita-se compreender
o seu tempo e as pessoas nesta época plural que ora vivemos. Esta formação ocorre
principalmente através de estudos no seminário e na universidade, principalmente na
Filosofia e Teologia.
Também é muito importante um amor especial pelos pobres,
doentes, perdidos ou excluídos. Um candidato ao sacerdócio é alguém que – como Cristo
– tem um coração grande e bondoso. Ele é um homem que pode parar e se compadecer para
derramar o amor que cobre a todos. Um candidato a padre é alguém que, especificamente,
é capaz de amar aqueles a quem ninguém ama; é alguém que é totalmente desinteressado.
Este é alguém que ama aqueles que não podem pagar por seu amor. Um profundo reconhecimento
e sincera preocupação pelo destino dos pobres materialmente, espiritualmente e moralmente,
é a condição necessária de fidelidade à missão de Cristo, que veio buscar em primeiro
lugar os doentes e aqueles que estão doentes. Por isso, quem ama consegue ser padre!
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ