Ulterior passo em direção à transparência: P. Lombardi sobre decisão de processar
Paolo Gabriele, por furto grave de documentos privados do Santo Padre
A sentença de remissão a julgamento que conclui uma parte da instrutória levada a
cabo pela magistratura do Vaticano sobre a questão da publicação de documentos privados,
não representa, certamente, a conclusão das investigações e das reflexões sobre o
que esta questão significa e em que contexto amadureceu. Refere-se, com efeito, a
uma crime específico e a duas pessoas (uma directamente responsável e outra envolvida
só de forma indirecta), e não a um conjunto articulado de eventos e relações sobre
a qual a própria magistratura e uma comissão cardinalícia foram chamadas a indagar,
com competências especificas e perspectivas diferentes.
No entanto, a publicação
da sentença e da requisitória que a precedeu não devem ser subestimadas, pois constituem
passos concretos, realizados com instrumentos e métodos jurídicos específicos, para
enfrentar os problemas com rigor e transparência, sem abreviar o caminho ou procurar
coberturas, mesmo que bem intencionadas.
Uma publicação ampla e completa como
a desta manhã [segunda-feira], omitindo apenas os nomes e apelidos de pessoas que
devem ser tuteladas, é um acto corajoso e até agora de certo modo, inusual, no Vaticano.
A decisão do Papa de encorajar o trabalho da magistratura tem um valor significativo,
de respeito escrupuloso em relação à competência e autonomia desta instituição, e
de confiança na contribuição que pode dar no difícil e árduo caminho de procura da
verdade e de estabelecimento da justiça com instrumentos humanos.
Trata-se
talvez duma aproximação corajosa, mas leva-nos a pensar que tal como o caso do confronto
com as instituições externas do Moneyval ajuda certamente a crescer em direcção à
transparência económica e financeira, assim também o maior reconhecimento do papel
da magistratura pode ajudar hoje em dia a crescer em direcção à transparência e à
coerência no campo da comunicação e da discussão doutras questões estritamente eclesiais.
O contributo da magistratura não basta, portanto, para enfrentar toda a gama
de problemas, mas é serio e empenhativo e pode fazer reflectir dum novo ponto de vista
sobre a seriedade das questões de fidelidade às instituições às quais se presta serviço,
do valor da comunicação confidencial, da solidariedade e da responsabilidade união
no serviço das instituições. Também esta é uma perspectiva através da qual se
pode ler a orientação adoptada conscientemente pelo Santo Padre no estabelecimento
dos tempos e modos para guiar os seus colaboradores com amplo respiro num serviço
cada vez mais eficaz e evangélico à Igreja.