Nova Evangelização e Redemptoris missio: testemunhar a fé e a vida cristã como
serviço aos irmãos e resposta devida a Deus
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, a você que nos acompanha semanalmente neste espaço
dedicado à nova evangelização, eis-nos de volta para prosseguirmos nosso percurso
preparatório para o Sínodo dos Bispos de outubro próximo cuja XIII Assembléia Geral
Ordinária será, justamente, norteada pela nova evangelização, com o tema "A nova evangelização
para a transmissão da fé cristã".
É tendo em vista a realização de tal evento
de primeira importância para a Igreja no mundo inteiro, que temos procurado lançar
um olhar sobre alguns documentos magisteriais pertinentes à ação evangelizadora da
Igreja – a partir do Concílio Vaticano II – recorrendo assim ao rico patrimônio magisterial
de que dispomos. É o que temos feito, nesta fase, com a revisitação à Redemptoris
missio, Carta encíclica de João Paulo II, de 1990, sobre a validade permanente
do mandato missionário.
Nesta edição, com o nº 11, concluímos o primeiro capítulo
– "Jesus Cristo único Salvador". Nessa parte do importante documento magisterial,
a encíclica trata da unicidade do Salvador e da destinação universal da salvação.
Considerando
o tempo de que dispomos e a extensão do nº 11, passemos imediatamente ao texto, intitulado
« Não podemos calar-nos » (At 4, 20):
11. "Que dizer então das objeções, atrás
referidas, relativamente à missão ad gentes? Respeitando todas as crenças e todas
as sensibilidades, devemos afirmar antes de mais, com simplicidade, a nossa fé em
Cristo, único Salvador do homem — fé que recebemos como um dom do Alto, sem mérito
algum da nossa parte. Dizemos com S. Paulo: « eu não me envergonho do Evangelho, o
qual é poder de Deus para salvação de todo o crente » (Rm 1, 16). Os mártires cristãos
de todos os tempos — também do nosso — deram e continuam a dar a vida para testemunhar
aos homens esta fé, convencidos de que cada homem necessita de Jesus Cristo, o Qual,
destruindo o pecado e a morte, reconciliou os homens com Deus. Cristo proclamou-se
Filho de Deus, intimamente unido ao Pai e, como tal, foi reconhecido pelos discípulos,
confirmando as suas palavras com milagres e, sobretudo, com a ressurreição. A Igreja
oferece aos homens o Evangelho, documento profético, capaz de corresponder às exigências
e aspirações do coração humano: é e será sempre a « Boa Nova ». A Igreja não pode
deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e
ressurreição, a salvação para todos os homens. À pergunta porquê a missão?, respondemos,
com a fé e a experiência da Igreja, que abrir-se ao amor de Cristo é a verdadeira
libertação. N'Ele, e só n'Ele, somos libertos de toda a alienação e extravio, da escravidão
ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente « a nossa paz » (Ef 2,14),
e « o amor de Cristo nos impele » (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria à nossa vida.
A missão é um problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e no Seu amor
por nós. A tentação hoje é reduzir o cristianismo a uma sabedoria meramente humana,
como se fosse a ciência do bom viver. Num mundo fortemente secularizado, surgiu uma
« gradual secularização da salvação », onde se procura lutar, sem dúvida, pelo homem,
mas por um homem dividido a meio, reduzido unicamente à dimensão horizontal. Ora nós
sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que abrange o homem todo e todos
os homens, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da filiação divina. Porquê a missão?
Porque a nós, como a S. Paulo, « nos foi dada esta graça de anunciar aos gentios a
insondável riqueza de Cristo » (Ef 3, 8). A novidade de vida n'Ele é « Boa Nova »
para o homem de todos os tempos: a ela todos são chamados e destinados. Todos, de
fato, a buscam, mesmo se às vezes confusamente, e têm o direito de conhecer o valor
de tal dom e aproximar-se dele. A Igreja, e nela cada cristão, não pode esconder nem
guardar para si esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser comunicada
a todos os homens. Eis por que a missão, para além do mandato formal do Senhor,
deriva ainda da profunda exigência da vida de Deus em nós. Aqueles que estão incorporados
na Igreja Católica devem-se sentir privilegiados, e, por isso mesmo, mais comprometidos
a testemunhar a fé e a vida cristã como serviço aos irmãos e resposta devida a Deus,
lembrados de que « a grandeza da sua condição não se deve atribuir aos próprios méritos,
mas a uma graça especial de Cristo; se não correspondem a essa graça por pensamentos,
palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrem num julgamento ainda mais severo
»."
Amigo ouvinte, como já vimos neste espaço, a Igreja existe para evangelizar:
por isso, por sua natureza, é missionária.
Como ressalta João Paulo II no texto
exposto – intitulado Não podemos calar-nos –, "a Igreja não pode deixar de proclamar
que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a salvação
para todos os homens"... "não pode esconder nem guardar para si esta novidade e riqueza,
recebida da bondade divina para ser comunicada a todos os homens". Por hoje nosso
tempo já acabou. Semana que vem tem mais, se Deus quiser!