Nova Délhi (RV) - Tornar os abortos seletivos de meninas um crime penalmente
punível. A idéia está se alastrando entre governantes de vários estados na Índia,
onde o dramático aumento de feticídios femininos está alterando o equilíbrio demográfico.
A proposta tem o apoio da Igreja indiana, que há tempos está engajada contra
esta chaga. Para a Irmã Helen Saldanha, Secretária do Escritório para questões femininas
da Conferência Episcopal Indiana (Cbci), punir os abortos seletivos pode mudar a “atitude
homicida” da sociedade indiana, que discrimina as meninas em favor do herdeiro homem.
Legados culturais e religiosos fazem da Índia, e também de outros países,
uma sociedade patriarcal que considera as mulheres um peso econômico. “A preferência
por um filho menino é uma patologia que está abaixando a relação entre homens e mulheres,
e as estatísticas o confirmam. Infelizmente os progressos da medicina pré-natal são
usados para impedir o nascimento de milhões de bebês meninas” – explica a irmã.
Outro
problema é a questão do dote, frequente como o aborto seletivo (ilegal no país desde
1994). A cada ano, milhares de mulheres são mortas porque suas famílias não pagam
o dote pactuado no momento em que combinam o casamento de seus filhos.
“É
um problema cultural” – confirma o diretor da Associação Católica de Saúde, Padre
Tomi Thomas. “Nossa associação promove cursos especiais de formação para médicos,
enfermeiros e casais, para conscientizá-los”.
Os efeitos dos abortos seletivos
de meninas no equilíbrio demográfico mundial, especialmente na Ásia, foram já denunciados
também pelo Departamento ONU de Assuntos Econômicos e Sociais e pelo Escritório de
Programas dos EUA, as duas maiores instituições de estudo sobre o aumento populacional
no mundo.
Os últimos dados indicam que Índia e China são os maiores praticantes
de abortos de meninas, registrando uma proporção de 120 homens para 100 mulheres,
uma relação considerada ‘inatural’. (CM)