Rio de Janeiro (RV) - Estamos em várias regiões de nossa Arquidiocese com a
“missão popular”. Algumas em regiões mais amplas e outras em diversas situações e
locais. Umas com tempo mais amplo, outras mais direcionadas para o final de semana.
Algumas aqui na cidade, outras além fronteiras. Sabemos, porém, que a Missão deve
ser permanente. Esses momentos missionários são importantes para despertar o que se
deveria ser um modo habitual de vida do católico: discípulo-missionário na bela expressão
cunhada no Documento de Aparecida.
Nos últimos domingos deste mês de julho,
escutamos muito sobre a missão. O envio, o retorno, a partilha, o descanso, as necessidades
do povo. Agora que os domingos seguintes nos fazem entrar no capítulo 6º de João,
que vai nos iluminar sobre o “pão da vida”, seria bom dar um olhar retrospectivo sobre
o nosso trabalho missionário à luz daquilo que ouvimos nos domingos anteriores.
Eu
creio que a liturgia dominical nos aponta direcionamentos importantes para nossas
vidas e caminhadas. Principalmente quando procuramos atualizar a Palavra de Deus,
pois o Senhor nos fala hoje ao nosso coração e, como consequência, deve nos levar
a comportamentos e ações consequentes.
No Evangelho de Marcos (6, 30-34), os
apóstolos chegam até Jesus empolgados e cheios de alegria pelas muitas obras e bençãos
acontecidas durante a missão. Isso demonstra que o missionário tem uma “base” ou comunidade
para retornar e partilhar suas experiências. De fato, os discípulos estão empolgados
e cheios de vontade de proclamar a verdade, que é Cristo, o caminho que conduz à salvação,
o autor da verdadeira Vida. Porém, Jesus os convida para estar sós, no silêncio, reabastecendo
o coração para a missão que deve continuar por toda a vida. No fundo, convida-os a
repousar do trabalho com um tempo de oração. Isso demonstra um jeito de ser missionário.
A missão acontece também quando paramos para estar a sós com o mestre, longe
das multidões e das demandas dela, que são muitas e são tantas. O anunciador deve
estar em sintonia com o mestre, com o coração descansado no Senhor para compreender
bem aquilo que ele deve anunciar. A missão não pode ser uma rotina. Veja bem, uma
dica especial de Jesus: não se vai ao Pai apenas quando tudo está dando errado. É
preciso estar a sós com Ele mesmo quando a missão é fecunda. A demanda, como nos nossos
tempos, era grande. Diz o evangelho que os discípulos não tinham tempo nem para comer.
Jesus lhes ensina que mesmo sendo grande a demanda é preciso cuidar do interior. Sem
a vida interior poderíamos correr o risco de estar na missão apenas tecnicamente e
cansados, esgotados e depois chegarmos cheios de reclamações de que não damos conta.
Para bem conduzir a Palavra é necessário estar bem e com o coração ligado ao mestre
Jesus. Nós nos reabastecermos para oferecer o melhor. O melhor nós já temos: o próprio
Jesus! Nada há que supere este dom precioso que temos para oferecer. Ele tudo pode
e nós com Ele tudo podemos! Basta acreditar, confiar, lançar-se e comprometer-se com
Ele. Porém, as necessidades são muitas: quando a multidão percebeu que Jesus havia
se retirado com seus discípulos, correu, chegou antes e os esperou na margem. Jesus,
ao vê-los, sentiu compaixão por que eram como ovelhas sem pastor.
Aí estão
os sentimentos que perpassam o coração do missionário: ver e comover – sentir-se impelido
a ir ao encontro das necessidades do outro! Ele deseja anunciar Cristo o tempo todo,
porque sabe que não há e nem haverá nada melhor que possa satisfazer as necessidades
humanas mais profundas.
Estamos chegando ao mês vocacional. Rezemos pelas vocações,
sejam elas sacerdotais, religiosas, leigas e missionárias. Quanto mais homens e mulheres
se despertarem no anúncio da Palavra mais pessoas serão pastoreadas. Jesus entendia
e sabia da necessidade de seu povo. Sabia que muitos se perdiam porque lhes faltava
orientação. Até hoje, dois mil anos depois, ainda temos um longo caminho a percorrer!
Faltam pastores, anunciadores, batizados comprometidos com a missão. Quem sabe não
é agora o momento que você será despertado e oferecerá um pouco mais da sua vida,
consagrando o seu tempo para a promoção do bem e da paz, para anunciar o Kerigma,
a boa notícia da salvação!
Eis a época e a nossa missão permanente! Ofereça
a Deus o seu tempo e sua vida mesmo que pareça pouco, mas, consagrados por Cristo,
tudo se multiplicará como ouviremos na liturgia dos próximos domingos. O Senhor é
suficientemente capaz e misericordioso para encher nossas mãos das mais ricas bênçãos
que nos chegam através da Palavra. Quem anuncia a Palavra de Cristo nunca está de
mãos vazias. Terá sempre algo de bom a oferecer a quem lhe pedir.
† Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro