Rio de Janeiro (RV)* - Neste dia 26 de julho, a Igreja celebra Santana e São
Joaquim, que, segundo a tradição cristã, são os pais de Maria, a mãe de Jesus. Eles
exercem importância na história da salvação: deram à luz Maria que viria a se tornar
o tabernáculo vivo de Deus feito homem. Foi o exemplo de seus pais que Maria deve
ter seguido em sua vida e com este exemplo também ensinou seu filho Jesus. Foi esta
fé que a colocou na coragem para assumir, mais tarde, a cruz que seu filho carregou.
Santana foi homenageada desde os primeiros tempos do cristianismo. Igrejas
foram dedicadas em sua honra, e os Padres, especialmente das Igrejas Orientais, exaltavam
a sua santidade de vida. Ela é padroeira secundária de nossa arquidiocese. Por sua
vez, também São Joaquim tem devoção comprovada desde o Século VI, e é venerado em
diversos países. É o padroeiro da residência dos arcebispos do Rio de Janeiro. O Palácio
São Joaquim completa este ano o seu centenário de inauguração.
Na iconografia
cristã, o casal é frequentemente retratado com Maria e segurando um livro das Escrituras,
ensinando sua filha a ler. Há centenas de imagens da Virgem com sua mãe, entre elas
uma pintura de Rafael retratando Santana sob uma palmeira, empenhada em ensinar a
ler a jovem Maria enquanto um anjo a coroa, e ao fundo São Joaquim assiste à cena.
Nesse
dia, dia dos avós de Nosso Senhor, a Igreja recorda a importante, e até mesmo fundamental
missão, que os avós exercem no seio das famílias.
O Santo Padre, Bento XVI,
em sua mensagem do ângelus do ano passado, já recordava que “nas famílias os avós
são muitas vezes testemunhas dos valores fundamentais da vida”. Dizia o Santo Padre
naquela ocasião: “o papel educativo dos avós é sempre muito importante e torna-se
ainda mais quanto, por várias razões, os pais são incapazes de dedicar um tempo adequado
para seus filhos. Confio à proteção de Santana e São Joaquim todos os avós do mundo”.
Hoje
enraizar crenças e valores, principalmente entre os mais jovens, não é tão fácil
como era a 50 ou 60 anos atrás. Com a mudança dos tempos e mudança das mentalidades,
mesmo as crianças têm começado a questionar a autenticidade de tudo, inclusive as
verdade de fé. Daí vem a importância do testemunho de vida dos mais velhos que passam
a fé aos mais jovens.
A cultura contemporânea corroeu o sentimento de pertença
e de identidade das pessoas e dos grupos sociais, dentre eles a família. A magnitude
da ciência e da tecnologia leva-nos a tudo questionar. Cria-se um ambiente de instabilidade,
em que, por vezes, a verdade e o absoluto passam a ser ameaças ao nosso suposto direito
ao livre pensamento e ao império da liberdade absoluta.
Neste contexto, surgem
os avós como uma força, um tesouro, e dentro deste quadro também de insegurança, de
uma importância vital para a felicidade e para o bem estar da família.
Muitas
vezes, as antigas tradições e memórias da família podem ser compartilhadas e transferidas
para as novas gerações, certamente pela presença acolhedora dos avós. Um relacionamento
amoroso entre avós e crianças ajuda a cultivar a confiança e uma autoimagem positiva
para a geração mais jovem. Como não lembrar a figura da avó ou do avô que ensina o
neto ou a neta as orações e os princípios basilares da vida de fé, ou mesmo recordando
passagens significativas da vida de Jesus.
Os avós trazem o sentido da continuidade
e da estabilidade numa sociedade onde os jovens convivem cotidianamente com o descartável
e com a falta de compromisso e de palavra.
Pesquisa recente na França revela
que dos cerca de sete milhões de avós, dois terços deles gastam mais da metade de
seu tempo livre com os netos. Muitas crianças passam mais tempo com os avós do que
com os próprios pais, que levam uma vida agitada e trabalham fora maior parte do dia.
Ora, isso revela, como amostragem, como hoje a presença viva dos avós na educação
dos netos tem bastante vulto e ganha especial significado sociológico. No Brasil onde
o envelhecimento da população caminha a passos largos o quadro não será diferente.
Uma
segunda reflexão que fazemos neste dia dos avós é a questão do respeito aos idosos,
e principalmente a sua acolhida no ambiente familiar. Os filhos devem propor às gerações
mais novas uma atitude de sincero respeito pelos mais velhos. Assim, constrói-se um
ambiente propicio à acolhida, ao carinho e desperta nos jovens sentimentos de bondade
e de atenção em relação aos idosos.
O Papa João Paulo II dirigindo-se aos
idosos em audiência pública de 23 de março de 1984, disse: “Não seja pego pela atração
da solidão interior. Apesar da complexidade de seus problemas, as forças gradualmente
a enfraquecer e apesar das insuficiências das organizações sociais, os atrasos da
legislação oficial, incompreensões de uma sociedade egoísta, você não está e você
não deve se sentir à margem da vida da Igreja, como elemento passivo em um mundo em
movimento excessivo, mas sujeitos ativos de uma espiritualidade fecunda dentro da
existência humana. Você ainda tem uma missão a cumprir e uma contribuição a dar”.
No
documento “Dignidade e Missão dos Idosos na Igreja e no Mundo”, emitido pelo Pontifício
Conselho para os Leigos, datado de outubro de 1998, explicita-se muito bem que a “a
comunidade eclesial é chamada a responder a uma maior participação dos idosos”. O
documento enumera algumas destas participações: a atividade caritativa; uma vida de
apostolado, principalmente na catequese e no testemunho de vida cristã; nos diversos
movimentos eclesiais e na vida da comunidade paroquial. E também na Liturgia onde
contribuem efetivamente para uma sadia manutenção de muitos lugares de culto. Não
se pode esquecer a dimensão da oração e da contemplação em que os idosos dão excelente
testemunho na vida da Igreja.
Ainda João Paulo II destacamos a sua fala aos
participantes do Fórum Internacional sobre o Envelhecimento, em 1980: “as pessoas
mais velhas, por sua sabedoria e experiência, fruto de uma vida, entram numa fase
de extraordinária graça, abrindo-lhes novas oportunidades de oração e de união com
Deus. Novas virtudes espirituais são concedidas que os disponham a pô-los a serviço
dos outros, tornando sua vida uma oferta ao Senhor e fervoroso doador de vida”. Assim,
portanto desejamos celebrar este dia dedicado aos avós e avôs de nossa Arquidiocese.
Que todos possam estar mobilizados no acolhimento dos idosos, seja no seio na família,
seja no meio eclesial. Que Santana e São Joaquim sejam intercessores de todos os avós
para que estes cumpram com vigor e com graça de Deus a sua fundamental missão junto
aos jovens e a seus parentes.
De uma maneira muito especial quero elevar a
Deus, por intercessão de Santana, padroeira secundária da Arquidiocese do Rio de Janeiro,
em favor de todos os avôs e avós de nossa Igreja Particular e de todo o Brasil. Aqui
no Rio de Janeiro, convido os devotos de Santana, a visitarem a sua Igreja, no centro
do Rio de Janeiro, Santuário de Adoração Perpétua, onde 24hs por dia, se faz a adoração
ao Santíssimo Sacramento. Sejamos adoradores de Jesus Eucarístico rezando pelas nossas
famílias e pela JMJ Rio 2013 da qual estamos a um ano de distância. Santana e São
Joaquim, rogai por nós!
*Orani João Tempesta Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ