Cidade do Vaticano (RV) – O mundo
segue com apreensão o que está ocorrendo na Síria com o conflito interno que já virou
– nas palavras da Cruz Vermelha – uma guerra civil. De um lado, as forças leais ao
Presidente Bashar al-Assad, e do outro, grupos da oposição que tentam derrubar o atual
regime. Nessa queda de braço, no meio, está o povo inocente, obrigado a pagar um alto
preço, até mesmo com a vida, as decisões de líderes que lutam para mudar um poder
ou para permanecer nele. A semana que passou foi uma semana extremamente difícil
na Síria: na quarta-feira, um atentado suicida contra o Edifício da Segurança Nacional
em Damasco resultou na morte do Ministro sírio da Defesa, Daoud Rajiha, do seu Vice-Ministro,
Assef Shawkat, e do Chefe da célula de controle de crises, Hassan Turkomani; na quinta-feira,
mais de 300 pessoas, em sua maioria civis, morreram no dia mais sangrento em 16 meses
de revolta. As Nações Unidas estimam que cerca de 20 mil pessoas já tenham perdido
a vida em conseqüência do conflito. As lutas que até poucos dias atrás se consumavam
longe da capital síria agora estão nas ruas de Damasco. A esse quadro de dor, morte
e tristeza somam-se – segundo cálculos da ONU – 112 mil pessoas que deixaram o país
para fugir do horror da guerra; três quartos são mulheres e crianças que tentam atravessar
a fronteira para chegar à Turquia, Jordânia, Líbano e Iraque. Depois dos eventos desta
semana a expectativa é que esse número aumente ainda mais. A Santa Sé segue com
grande atenção o desenrolar-se da situação que horas após horas apresenta novos cenários,
ceticismos e esperanças. O Núncio Apostólico na Síria, Dom Mario Zenari falando à
Rádio Vaticano disse que Damasco vive nestes dias uma situação muito grave. “Esperamos
ajuda da comunidade internacional, que tem que encontrar uma unanimidade para ajudar
a Síria a sair desta terrível espiral de violência. As pessoas estão com medo e se
vê pelas ruas caminhões repletos de gente fugindo.” Mas a comunidade internacional
não chega a um consenso. Ainda nesta semana o projeto de resolução das Nações Unidas
para a Síria, escrito pelos britânicos e subscrito por Portugal, Alemanha, França
e EUA não foi adotado “devido aos vetos da Rússia e da China, membros permanentes
do Conselho de Segurança”. Mas a preocupação pelos irmãos que vivem na Síria chega
à realidade da Igreja Católica presente em todo o mundo; através de orações nos lugares
mais remotos do planeta se reza para que no conflito sírio seja dado espaço a um diálogo
de paz, e que as armas se calem. Este conflito trouxe e está trazendo dor e destruição
para um país de cultura milenar. João Paulo II, quando falava da então guerra no Golfo
afirmou: “a guerra é uma aventura sem retorno”, e mais difícil ainda de se aceitar,
uma guerra de irmãos contra irmãos; a guerra é certamente um beco sem saída. Uma
solução para essa crise é possível, mas deve ser justa e construtiva, respeitando
os interesses de todos. Uma solução é possível quando se tem ao centro a dignidade
do homem e quando ela é tomada em conjunto, sem arbitrariedades e imposições. O povo
da Síria quer somente uma vida digna na qual poder olhar para o futuro com confiança.
Para isso é preciso o fim das violências e o início do diálogo. (Silvonei José)