Rio de Janeiro (RV) - Às 22h30 desta segunda-feira, a Igreja perdeu o Cardeal
Dom Eugênio de Araújo Sales. Ele morreu na Residência Assunção, onde morava, no Sumaré,
por infarto agudo do miocárdio.
Dom Eugênio, que tinha 91 anos, será velado
a partir de meio-dia desta terça-feira na Catedral Metropolitana, onde será enterrado,
na quarta-feira, às 15h. Durante o velório, haverá missas a cada duas horas. Por meio
de nota divulgada na madrugada desta terça-feira, o governador Sergio Cabral decretou
luto oficial de três dias.
Dom Eugênio faria 69 anos de sacerdócio, 58 de
episcopado, 43 de cardinalato, em seus quase 92 anos de vida. Ele sagrou 22 bispos
e ordenou 215 sacerdotes.
O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta,
“Ele era um homem de Deus e serviu a Jesus Cristo. Sempre esteve presente nos momentos
importantes do Brasil, principalmente na questão dos refugiados e na defesa dos perseguidos
e teve presença marcante na Igreja do Brasil e do Vaticano. Trabalhou em educação
de base e na evangelização nas arquidioceses do Rio, Natal e Bahia. Viveu quase 92
anos principalmente por presença significativa na Igreja e no Brasil. Ele foi alguém
que sem dúvida soube viver dando continuidade aos ensinamentos.”
O lema de
Dom Eugênio era: "Impendam et Superimpendar" (2Cor 12,15) “De mui boa vontade darei
o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais,
seja menos amado por vós”).
Nascido em Acari, no Rio Grande do Norte, no dia
8 de novembro de 1920, Dom Eugênio de Araújo Sales fez seus primeiros estudos em Natal,
no Rio Grande do Norte, e ingressou, em 1931, no Seminário Menor. Estudou Filosofia
e Teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Dom Eugênio foi ordenado sacerdote
no dia 21 de novembro de 1943.
Em 1954, aos 33 anos, foi nomeado bispo auxiliar
de Natal pelo papa Pio XII. Em 1962 foi designado administrador apostólico da Arquidiocese
de Natal, função que exerceu até 1965. Em 1964, tornou-se administrador apostólico
da Arquidiocese de Salvador e, quatro anos depois, arcebispo de Salvador e Primaz
do Brasil, pelo Papa Paulo VI.
Dom Eugênio foi o criador das Comunidades Eclesiais
de Base e da Campanha da Fraternidade.
Em 1969, Dom Eugênio de Araújo Sales
foi feito cardeal pelo Papa Paulo VI. No dia 13 de março de 1971, o papa o nomeou
arcebispo do Rio de Janeiro, função que exerceu até 2001, quando sua renúncia foi
aceita.
Dom Eugênio foi um dos primeiros bispos brasileiros a implantar o Diaconato
Permanente, o ministério clerical que pode ser concedido a homens casados, segundo
a restauração do Concílio Vaticano II. Foi também membro de onze congregações no Vaticano.
Dom
Eugênio Sales possuía os títulos de cardeal protopresbítero (o mais antigo em idade
e/ou nomeação entre os cardeais presbíteros) e arcebispo emérito da Arquidiocese de
São Sebastião do Rio de Janeiro.
Ele chegou a ser surpreendido, às vésperas
de completar 90 anos, por uma carta de felicitações assinada por Bento XVI. Para Dom
Eugênio, o documento não foi sinal de prestígio, mas o reconhecimento de uma vida
dedicada à fé.
Um capítulo importante da vida de Dom Eugênio remonta à ditadura,
quando atuou de maneira silenciosa, abrigando no Rio mais de quatro mil pessoas perseguidas
pelos regimes militares do Cone Sul, entre 1976 e 1982, especialmente argentinos.
Para dar conta de tanto pedidos, autorizou o aluguel de quartos e depois apartamentos.
A ajuda incluía dinheiro para gastos pessoais, assistência médica e auxílio jurídico.
Em entrevista ao GLOBO em 2008, Dom Eugênio contou por que agiu nos bastidores:
“Se
eu anunciasse o que estava fazendo, não tinha chance. Muitos não concordavam, mas
eu preferia dialogar e salvar — disse. — Eu não tinha nem nunca tive interesse em
divulgar nada disso. Queria que as coisas funcionassem, e o caminho naquele momento
era esse, o caminho de não pisar no pé do governo”. (CM)