Cidade
do Vaticano (RV) - Neste domingo somos chamados a refletir sobre o papel do profeta
no ambiente religioso. O Profeta Ezequiel nos fala sobre a necessidade de o profeta
deixar-se conduzir pelo Espírito e ser presença onde está exercendo sua missão, que,
diga-se de passagem, não foi pedida, mas recebida.
No exercício da missão,
o profeta não anuncia o que quer, o que gosta, o que valoriza, mas sim o que o Espírito,
que o enviou, inspira.
O conteúdo da inspiração nem sempre é agradável. Lemos
no próprio Ezequiel, mais adiante, que profetizar se assemelha a engolir um livro
doce, mas que amarga quando chega ao estômago, ou seja, é doce receber a mensagem
de Deus, mas anunciá-la e viver a reação das pessoas a quem a mensagem é enviada,
geralmente é difícil. (Cf. Ez 3, 1-4)
Também sabemos que o fato de o profeta
ser rejeitado por aqueles a quem anuncia a Palavra, longe de fazê-lo refletir sobre
“em que eu errei para ser reprovado em minha missão junto a esse povo”, o profeta
deverá ver nessa reação a legitimação e comprovação da missão. Significa que ele tocou
no ponto nevrálgico e a Comunidade reage porque vê que deve mudar, mas não quer. Assim
aconteceu com João Batista, com os demais profetas e com Jesus Cristo.
Assim
acontece hoje com tantos profetas que nos são, ou melhor, nos eram conhecidos. Foram
rejeitados, mortos, porque sua palavra exigia sair de si, mudar de vida, converter-se
à Vida! Poderíamos citar uma ladainha muito longa: Irmã Dorothy, os jesuítas da Universidade
de El Salvador, Dom Oscar Romero, e outros tantos.
Por outro lado, lendo o
trecho do Evangelho de domingo, Mc 6, 1-6, podemos observar que o Senhor é rejeitado,
também por causa de sua origem humilde e conhecida por todos, além, é claro, por causa
do que fala.
Concluímos que a missão do Profeta é grandiosa, não por sua causa,
mas por causa d’Aquele que o enviou. Essa missão é espinhosa, mas ele deverá corresponder
à confiança de Deus e anunciar o que foi pedido e só o que foi pedido, mesmo com o
risco da própria vida.
Sua escolha não é mérito seu, como vemos na segunda
leitura – 2Cor 12, 7-10 –, mas desígnio de Deus, apesar do “espinho” que está espetado
em sua carne.
Quem escuta o Profeta não escuta o homem ou a mulher que fala,
mas Deus que o enviou.
Quem o rejeita não rejeita o mensageiro, mas Deus,
autor da mensagem.