Santa Sé: contenção de despesas sem corte de pessoal. Ouça Dom Odilo Scherer
Cidade
do Vaticano (RV) – A Santa Sé encerrou 2011 com perdas de quase 15 milhões de
euros, enquanto o Estado da Cidade do Vaticano registrou resultado positivo num valor
de quase 21 milhões de euros, graças, sobretudo, à receita das bilheterias dos museus.
As
despesas com pessoal (2.832 funcionários) e em investimentos na comunicação social
são as mais dispendiosas – refere o comunicado emitido nesta quinta, 05, sobre as
contas da Santa Sé. Flutuações no mercado financeiro impediram que “os objetivos previstos
no orçamento fossem alcançados” - justifica a nota.
O balanço foi aprovado
nas reuniões mantidas nos dias 3 e 4 de julho pelo Conselho cardinalício para o estudo
dos problemas organizativos e econômicos da Santa Sé, presidido pelo Cardeal-Secretário
de Estado, Tarcisio Bertone.
Para este ano, os cardeais aconselham prudência
e limitação de custos, e a este respeito, em coletiva à imprensa, o Diretor da Sala
de Imprensa, Padre Federico Lombardi, comentou a contenção de despesas, descartando,
no entanto, o cenário de cortes no pessoal.
Membro do Conselho de Cardeais,
Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, falou em exclusiva à RV sobre o andamento
destas reuniões, ressaltando o incremento nas entradas do “Óbolo de São Pedro”, ou
seja, doações de fiéis de todo o mundo ao Papa.
“O teor geral é esse: apesar
do período de crise econômico-financeira que se está atravessando no mundo, e em particular
aqui na Europa, a gestão administrativa e financeira da Santa Sé conseguiu equilibrar
razoavelmente bem a situação sem haver grande choque, grandes problemas, para a realização
do orçamento. Isto é resultado também de um caminho que vem sendo feito nestes últimos
anos justamente de uma gestão bem mais prudencial, para que se esteja muito atento
nas variações no mundo financeiro, na aplicação em valores que não sejam tão arriscados.
Tivemos também nesta reunião a apresentação do parecer do grupo ‘de conselho fiscal’,
de revisores internacionais, formado por 4 ou 5 pessoas de grande capacidade, reconhecimento
e conhecimento do mundo financeiro: são banqueiros ou pessoas que lidam com administração.
Portanto, o parecer dado pelo Conselho Fiscal foi bastante favorável, sinalizando
que a administração está sendo bastante cuidada e encaminhada”.
Os projetos
continuam? Não há previsão de cortes ou redução de pessoal?
“Evidentemente,
se recomenda administrar bem os meios e recursos que se tem. Aconselhou-se a solidariedade
e a generosidade dos fiéis. Observou-se também o crescimento das entradas, das coletas
universais. Interessante, o Óbolo de São Pedro, a coleta missionária dos lugares santos,
as contribuições espontâneas de fiéis, de fundações, as contribuições também de ordens,
congregações e institutos de vida consagrada para o trabalho da Santa Sé tiveram um
crescimento do ano passado para cá. De modo que isso dá a entender que há uma resposta
positiva por parte da população na compreensão de que a Igreja precisa de recursos
e da solidariedade de todos.
Há indicações de reorientação de métodos
de trabalho. Em relação à Rádio Vaticano, foi relatado o fato de que, por exemplo,
a transmissão em Ondas Curtas e Ondas Médias para a Europa e a América já foi desativada
porque já se pode fazer bem mais uso da transmissão quer por satélite, como já se
fazia, mas muito mais por Internet, hoje. As Américas e a Europa já estão bem servidas
pela Internet. Portanto, a diminuição dos custos de transmissão de Ondas Curtas para
a Europa e as Américas é algo significativo na reorientação do trabalho da Rádio Vaticano.
Trabalha-se de uma forma nova, que acaba sendo mais econômica, com a redução de custos.
Assim pode-se, contudo, manter seu trabalho sem desativar a transmissão mais custosa,
a de Ondas Curtas e Médias para África e Ásia, onde ainda è necessário”.