“Rio + 20” e a questão do desenvolvimento. Que desenvolvimento sustentável para
a África?
O tema do desenvolvimento sustentável – no centro dos debates, na conferência “Rio
+ 20”, que teve lugar recentemente no Brasil – é muitas vezes considerado fruto da
inquietação dos Países do Norte, perante os danos ambientais causados pelas actividades
que permitiram o seu desenvolvimento.
No dizer de certos observadores, na conferencia
do Rio não foi possível individuar uma definição precisa dos objectivos em causa,
e foi alimentado um certo pessimismo relativamente à acção pública, de modo particular
no campo ambiental. Alguns participantes afirmaram que “os governos não podem resolver
sozinhos os problemas com que o mundo se vê obrigado a confrontar: desde a mudança
climática à consistente pobreza, passando pela escassez no sector energético…
Chegaram,
todavia, a acordo sobre o facto de que o imperativo da dimensão ambiental, sobretudo
por causa do aquecimento do Planeta e de todos os desastres a isso ligados, exige
a adopção de uma nova abordagem, nas actividades finalizadas à promoção de um crescimento
economicamente sustentável. Uma abordagem global que coloque no centro a pessoa humana
e o seu desenvolvimento integral, em conformidade com as recomendações da Santa Sé.
Nos diversos discursos pronunciados na conferência, o conceito de desenvolvimento
sustentável foi apresentado como principio de “bem universal”. Portanto, cada um é
chamado a fazer sacrifícios, para a protecção do que temos em comum: o nosso Planeta,
único habitável, e sem o qual até a nossa sobrevivência, enquanto família humana,
estaria comprometida. A relação entre o desenvolvimento sustentável e a redução da
pobreza, posta como princípio básico, não convenceu, todavia, a muitos, na medida
em que muitos países forneceram indicações vagas sobre as estratégias a adoptar, para
lutar contra a pobreza, promover um desenvolvimento coerente de todo o Planeta e,
ao mesmo tempo, proteger o ambiente.
Foram assumidas diversas posições contrastantes
sobre a questão do desenvolvimento sustentável e sobre a implementação de políticas
económicas adequadas, nos países em vias de desenvolvimento, em geral, e nos Estados
africanos, em particular.
Esta falta de coerência de fundo, entre os discursos
das Instituições Internacionais sobre o desenvolvimento sustentável e as políticas
económicas que têm sido activadas no “Sul do Mundo”, põe em evidência os conflitos
que se geram entre os actores e as instituições do sector, a vários níveis. Olhando
para as estratégias de luta contra a pobreza, em África, por exemplo, pode-se constatar
que a falta de segurança alimentar, no Continente, persiste, não obstante a abundância
de terras não cultivadas, e a tendência dos financiadores em promover, hoje, a produção
de bio-combustíveis!
No que concerne à gestão dos riscos ambientais, foi pedido
à África para proteger a floresta da bacia do Congo, sem oferecer, em troca, projectos
credíveis e alternativos de desenvolvimento para as populações, que fizeram dessa
floresta o próprio habitat, e para os próprios Estados que deveriam renunciar ao potencial
que essa bacia pluvial oferece, para o desenvolvimento interno. Com efeito, a floresta
do Congo apresenta-se como um verdadeiro capital natural e, ao mesmo tempo, como um
grande perigo, fonte indispensável de riquezas para os países interessados, cujas
populações são, todavia, paradoxalmente as mais pobres do mundo. É necessário, portanto,
repensar as estratégias da actividade humana, que sejam finalizadas a um crescimento
duradouro e coerente. Será necessário privilegiar mais o ideal de desenvolvimento
dos homens, do que o das economias; procurar e exprimir uma nova síntese entre desenvolvimento
económico, social e ambiental que possa conciliar o crescimento financeiro não só
graças à solidariedade, mas também através da participação de todos, sob a forma de
parceria. Em conformidade com essa prospectiva, a ONU lançou uma ambiciosa iniciativa
intitulada “Desafio Fome Zero”, que mira assegurar o direito à comida para todos,
num momento em que mil milhões de pessoas ainda sofrem de fome, no mundo.
A
Conferência “Rio + 20” pôs igualmente o acento sobre a necessidade de encorajar os
investimentos nas “eco-tecnologias” e nas energias renováveis, sem, todavia, indicar
como isso seja possível – sublinhamo-lo no início do texto – conciliar os objectivos
prefixados, ou seja, garantir, ao mesmo tempo, lucro económico, gerado pelas tecnologias
verdes e pela eliminação da fome.
Quanto a nós, tememos que - como foi no
passado - a adopção de novas estratégias responda à exigência de cobrir as necessidades
de uns, exigindo sacrifícios a uma parte da humanidade. Pensou-se, por muito tempo,
que a economia de mercado se desenvolveria em toda a parte no Mundo, e de maneira
coerente, passando pelas mesmas etapas de industrialização que caracterizaram a historia
dos Países ricos, mas, como é obvio, isto não se deu.
Para repensar a actividade
humana ter-se-á de se começar pela participação dos africanos na busca de soluções
urgentes, para os problemas que directamente lhes dizem respeito; destinar, antes
de mais, a utilização das terras do Continente àquilo que representa primeira urgência
para os africanos: isto é, a luta contra a fome. Seria, por outro lado, profundamente
injusto continuar a fazer esperar os pobres “os pobres da África”, enquanto que, como
está a acontecer, se explora o seu recurso principal, a terra, em prol da produção
dos bio-combustíveis ou em nome da conservação do eco-sistema, sem garantir às populações
do Continente uma solução alternativa para o próprio desenvolvimento. “A corrida
à procura de se apoderar de terrenos, em África, comprados ou arrendados pelos países
ocidentais para produzir bio-combustíveis, ou para produzir alimentos destinados
às populações asiáticas constitui uma bomba de relógio sobre um Continente, a África,
que já não consegue travar a própria fome”, afirmam hoje os observadores. Crise económica
mundial, insegurança alimentar, instabilidade social e degrado do ambiente são realidades
que dizem respeito a toda família humana; a busca de soluções não deve privilegiar
ninguém à custa de outros.
Po: Marie-José Muando Buabualo – Programa
Francês/África