Belo Horizonte (RV) - É uma convicção incontestável a importância de cuidar
do verde e de se investir em ideias que gerem valor. Mais importante ainda é situar
bem no centro dessas ideias a pessoa humana. Sem essa centralidade há sempre o risco
de se obter avanços pouco significativos. Também será mais difícil atingir metas ousadas
no contexto das urgências sociais e políticas desse tempo.
Ora, os graves problemas
ecológicos exigem uma mudança efetiva de mentalidade levando as pessoas a adotarem
novos estilos de vida. Se não houver uma evolução nesse caminho, não se avançará a
passos largos em nenhuma das direções apontadas por ideias inteligentes. Só a pessoa
detém a propriedade de buscar o verdadeiro, o belo e o bom, com a capacidade de gerar
comunhão com o outro, influenciando, consequente e determinantemente, sobre as opções
de consumo, poupança e investimentos.
Fica claro que se a economia verde se
pautar simplesmente na lógica do lucro não será possível alcançar os resultados que
a realidade contemporânea está urgindo. O comportamento de cada pessoa é determinante
para desacelerar o processo de esgotamento dos recursos naturais, exigindo da sociedade
contemporânea a revisão de conceitos sobre produção e consumo.
É óbvia a importância
da tecnologia e da inovação. Tem o seu lugar próprio o lucro. Contudo, não pode ser
a força que preside todos os processos sob pena de impedir aberturas e compreensões
que permitam situar e respeitar a centralidade da pessoa. É indispensável alavancar
a ciência da sustentabilidade com uma antropologia assentada em princípios e valores
consistentes para evitar decepções nas expectativas e nos compromissos de governos,
empresas e todos os segmentos que são decisivos nos rumos da sociedade.
A rentabilidade,
capítulo dessa questão, o respeito às leis e o arcabouço complexo dos engenhos técnicos
e estratégicos devem ter como raiz e horizonte uma antropologia que considera a pessoa
como referência central. É preciso evitar relativizações perigosas e altamente prejudiciais
à vida, que deve ser respeitada em todas as suas etapas, da fecundação ao declínio
com a morte natural.
É necessária uma antropologia que impulsione o desabrochamento
de uma autêntica espiritualidade. Nesse sentido, é importante compreender, admitir
e viver a vida como dom, relacionando-se com a natureza, bem da criação para todos,
segundo lógicas permeadas pelo sentido de gratuidade. A natureza deve ser tratada
como poderoso recurso social que pode alavancar, equilibradamente, um desenvolvimento
humano integral.
É interpelador saber que a atividade econômica não resolverá
todos os problemas sociais. A lógica mercantil não é suficientemente forte para isso.
O agir mercantil não pode seguir, neste caso, um caminho distante que desconhece a
força do agir político. A centralidade de cada pessoa evoca uma cidadania capaz de
produzir energias morais indispensáveis para se garantir a busca da sustentabilidade
na justiça.
Este é o olhar para a hermenêutica do documento final da Conferência
Rio+20 e dos clamores da Cúpula dos Povos. Um olhar emoldurado por uma adequada antropologia
para o caminho proposto. Com a autoridade e configuração, por exemplo, da antropologia
cristã, fica enfraquecido o volume significativo das presenças, nações e dirigentes,
passíveis de desculpas. Todos devem assumir as metas necessárias e mais corajosas.
Assim, com o passar do tempo, a Rio+20 poderá ser considerada o grande evento mundial.
A
economia verde, concebida à luz da centralidade de cada pessoa, deve ser agora uma
grande força de princípios no enfrentamento da crise vivida pela civilização atual.
Adverte bem o Santo Padre Bento XVI, na Encíclica Caritas in Veritate, quando diz
que é urgente repensar nossa relação com a natureza, dada por Deus como ambiente de
vida. Desejamos o exercício de um governo responsável para guardar a natureza, fazê-la
frutificar e cultivá-la, com formas novas e tecnologias avançadas.
Dom Walmor
Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)