Rio de Janeiro (RV) - Os 193 países que participam da Rio+20 aprovaram nesta
terça-feira o documento que será apresentado aos chefes de Estado e de governo na
reunião de alto nível desta semana, texto que foi elogiado pela ONU e pelo Brasil
e duramente criticado por organizações civis.
Com o sinal verde final de todas
as delegações, o documento, denominado "O Futuro Que Queremos", será apresentado aos
cerca de 100 chefes de Estado e de governo que a partir de quarta, 20, até sexta-feira,
22, participarão da Rio+20.
A União Europeia (UE), que nos últimos dias havia
considerado pouco ambicioso o documento, aprovou o texto pactuado, apesar de não conter
várias de suas reivindicações.
O texto estipulado se baseia na proposta brasileira,
que reduziu significativamente o número de parágrafos do original que vinha sendo
negociado em Nova York e eliminou as partes que geravam mais divergências.
O
assunto que mais gerava divergências era o dos "meios de implementação", ou seja,
os recursos necessários para financiar os projetos de desenvolvimento sustentável
e a transferência de tecnologia.
Após descartar-se uma proposta dos países
pobres para a criação de um fundo com US$ 30 bilhões anuais, o texto cita fundos de
múltiplas origens, como privados e de instituições multilaterais, para não limitar
o financiamento às ajudas dos países ricos aos pobres.
Sobre a Economia Verde,
outro tema polêmico pelas distintas concepções sobre o assunto, o documento reconhece
que "existem diferentes abordagens, visões, modelos e ferramentas disponíveis para
cada país, de acordo com suas circunstâncias e prioridades nacionais para alcançar
o desenvolvimento sustentável".
Alguns países pobres, assim como as ONGs, consideram
a Economia Verde uma ferramenta do capitalismo para se apropriar e comercializar os
recursos naturais, como água e florestas. O ministro das Relações Exteriores do
Brasil, Antonio Patriota, qualificou o documento como "satisfatório", apesar de admitir
que se sente frustrado com alguns pontos modificados ou não aprovados.
As ONGs
que participam da Cúpula dos Povos, principal paralelo à Rio+20, reagiram imediatamente
com duras críticas ao documento aprovado.
"A Rio+20 se transformou em um fracasso
épico. A conferência falhou em termos de igualdade, de ecologia e de economia", afirmou
Daniel Mittler, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace. Para o WWF, o documento
está "longe de ser satisfatório de qualquer ponto de vista", enquanto a Oxfam fez
um alerta sobre a pobreza extrema. "Esta cúpula poderia ter terminado antes de começar.
Os líderes mundiais que chegam nesta noite devem começar de novo. Quase 1 bilhão de
pessoas que passam fome merecem algo melhor".
Em entrevista em Los Cabos,
no México, onde participou da Cúpula do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo,
a Presidente Dilma Rousseff declarou que a aprovação do documento base da Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, antes da chegada dos
chefes de Estado ao Rio de Janeiro, é uma “vitória do Brasil”.
Entre outros
pontos, o documento destaca a importância do uso sustentável da biodiversidade marinha,
mesmo além das áreas de jurisdição nacional. Há o compromisso de se trabalhar, em
caráter de urgência, nessa questão, e a intenção de se desenvolver um instrumento
internacional para lidar com o assunto, sob a Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar. (CM)