"Em que ponto vai a noite?" - Editorial de Padre Lombardi. Não esquecer a Síria!
(16/06/12) Há um texto bíblico em que o Senhor pergunta ao seu profeta, colocado como
sentinela que vela sobre o povo: “Em que ponto vai a noite?” Este o título escolhido
pelo nosso diretor, Padre Lombardi, para o Editorial desta semana, dedicado à tragédia
que se consuma na Síria. “A partir de
diversas localidades da Síria continuam a chegar, cada dia, notícias de um massacre
de pessoas inocentes de todas as idades e credos religiosos, num crescendo que não
se detém, desde pelo menos, há 15 meses. Neste momento, são cada vez mais numerosos
os que consideram que se deve falar de uma verdadeira situação de guerra civil. Um
país caracterizado pela convivência entre componentes diversas do mundo muçulmano
e onde mesmo as relações ecuménicas entre os cristãos de diversas confissões e ritos,
e as relações inter-religiosas entre cristãos e muçulmanos, eram tradicionalmente
serenas (inesquecível a belíssima viagem de João Paulo II em 2001) – precipita agora
na violência, no caos e no risco de desintegração, sem que se veja uma via de saída:
uma “lenta descida aos infernos” disse o Núncio apostólico, o arcebispo Zenari. As
esperanças de liberdade e de maior participação na vida política presentes em tantos
jovens sírios, como também nos outros países abrangidos pelo vento de mudança da região
não foram devidamente escutadas pelos governantes, ao passo que no campo dos opositores
se inseriram e deram azo a componentes violentas. Não obstante os repetidos apelos
do Papa, assim como de tantos líderes religiosos e civis, a comunidade internacional
aparece, até agora, incapaz de agir eficazmente. Influi sem dúvida o facto de a Síria
se encontrar precisamente na área de fricção entre as esferas de influência russa
e ocidental. O plano de Kofi Annan não achou espaço, e a hipótese de uma intervenção
internacional armada é imensamente preocupante. Até quando continuará a crescer a
dinâmica da violência enquanto as pessoas continuam a morrer e a fugir das suas casas? Para
os crentes é tempo de compaixão, de oração, de socorro a fornecer, na medida do possível,
aos que sofrem; de convite e de apoio às iniciativas de diálogo a todos os níveis,
frágeis sinais de esperança. Não esqueçamos, não abandonemos a Síria.”