Cidade do Vaticano (RV) - Um lento pôr-do-sol foi a moldura da cerimônia presidida
pelo Papa Bento XVI na Basílica de São João de Latrão, na noite da quinta-feira, 7
de junho, solenidade de Corpus Christi. Três horas de intensa oração e devoção ao
Santíssimo, que incluía também a procissão até a Basílica de Santa Maria Maior.
Em
sua homília, o Papa falou de dois aspectos relacionados ao Mistério eucarístico: o
culto da Eucaristia e a sua sacralidade. É importante levá-los em consideração para
preservá-los de visões incompletas do próprio Mistério, como as que se verificaram
num passado recente.
Uma interpretação unilateral do Concílio Vaticano II penalizou
a adoração ao Santíssimo, restringindo a Eucaristia ao momento celebrativo.
Esse
desequilíbrio teve repercussões também na vida espiritual dos fiéis. De fato, concentrando
toda a relação com Jesus Eucaristia somente no momento da Santa Missa, corre-se o
risco de esvaziar de Sua presença o restante do tempo e do espaço existenciais. “O
Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida cotidiana”, recordou o Papa.
Não
se deve contrapor celebração e adoração, como se estivessem em concorrência uma com
a outra. É justamente o contrário: o culto do Santíssimo Sacramento constitui o “ambiente”
espiritual dentro do qual a comunidade pode celebrar bem e em verdade a Eucaristia.
Somente se for precedida, acompanhada e seguida por essa atitude interior de fé e
de adoração, a ação litúrgica poderá expressar seu pleno significado e valor.
“Estar
todos em silêncio prolongado diante do Senhor presente no seu Sacramento é uma das
experiências mais autênticas do nosso ser Igreja, que acompanha de modo complementar
a celebração da Eucaristia, ouvindo a Palavra de Deus, cantando, aproximando-se junto
da ceia do Pão da Vida.”
Comunhão e contemplação não podem se separar, vão
juntas. Para comunicar realmente com outra pessoa, afirmou o Pontífice, devo conhecê-la,
saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la, olhá-la com amor. O verdadeiro amor
e a verdadeira amizade vivem sempre desta reciprocidade de olhares, de silêncios intensos,
eloquentes, repletos de respeito e de veneração, de modo que o encontro seja vivido
profundamente, de modo pessoal e não superficial.
O Papa também acentuou a
sacralidade da Eucaristia. Jesus Cristo não aboliu o sagrado, mas o levou a cabo,
inaugurando um novo culto, que é sim plenamente espiritual, mas que todavia, até que
estejamos em caminho no tempo, se serve ainda de sinais e de ritos, que desaparecerão
somente no fim, na Jerusalém celeste, onde não haverá mais nenhum templo. “Não
basta observar o rito, mas se requer a purificação do coração e o envolvimento da
vida. Apraz-me sublinhar que o sagrado possui uma função educativa, e seu desaparecimento
inevitavelmente empobrecerá a cultura, de modo particular a formação das novas gerações.”
Bento
XVI concluiu sua homilia definindo a Eucaristia, o “Sacramento do Amor”, como o centro
de nossa vida e coração do mundo.
Após a liturgia eucarística, o Papa guiou
a procissão com velas no carro-andor pela “Via Merulana”, a rua que liga a Basílica
de S. João de Latrão até a Basílica de Santa Maria Maior, seguido por cardeais, entre
eles o Cardeal brasileiro João Braz de Aviz, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas
e fiéis. A procissão com a hóstia consagrada e as leituras dos textos litúrgicos desta
solenidade foram preparados por Santo Tomás de Aquino, e datam do ano de 1274. A procissão
se concluiu com a Bênção Eucarística.