2012-06-02 17:16:14

Bento XVI encontra autoridades civis: "nenhum poder do homem pode ser considerado divino"


Milão (RV) - O Papa Bento XVI encontrou-se no final da tarde deste sábado com as autoridades civis, empresários e trabalhadores da região de Milão na Sala do Trono do Arcebispado da cidade. No seu discurso aos presentes o Santo Padre recordou a figura de Santo Ambrósio e alguns princípios que ele seguia e que ainda hoje são preciosos para aqueles que são chamados a administrar a coisa pública.

Em seu comentário sobre o Evangelho de Lucas, Ambrósio recorda – disse o Papa - que “a instituição do poder deriva tão bem de Deus, que aquele que o exerce é ele mesmo ministro de Deus”. Essas palavras – continuou Bento XVI -, podem parecer estranhas aos homens do terceiro milênio, mas elas indicam claramente uma verdade central sobre a pessoa humana, que é a base sólida da convivência: nenhum poder do homem pode ser considerado divino, e, portanto, nenhum homem é dono de outro homem. Ambrósio recordará isso de modo corajoso ao imperador escrevendo-lhe: “Também você, ó augusto imperador, é homem” (Epistula 51,11).

Outro elemento que se pode tirar do ensinamento de Santo Ambrósio - destacou o Santo Padre -, diz respeito a primeira qualidade do governante, ou seja, a justiça, virtude pública por excelência, porque diz respeito ao bem de toda a comunidade. No entanto, não é suficiente. Ambrósio acrescenta outra qualidade: o amor à liberdade, que ele considera fator de separação entre os líderes bons e maus, porque, como afirmou em outra carta, “os bons amam a liberdade, os réprobos amam a servidão”(Epistula 40, 2).

A liberdade - continuou Bento XVI -, não é um privilégio para alguns, mas um direito de todos, um direito precioso que o governo deve garantir. No entanto, a liberdade não significa arbitrariedade do indivíduo, mas sim a responsabilidade de cada um. Encontra-se aqui um dos elementos principais da laicidade do Estado: garantir a liberdade para que todos possam propor a sua visão da vida comum, sempre, no entanto, no respeito pelo outro e no contexto de leis que buscam o bem de todos.

Bento XVI recorda depois que o Estado está a serviço e tutela da pessoa e do seu “bem estar” em seus múltiplos aspectos, começando pelo direito à vida, que jamais poderá ser permitida a deliberada supressão. Cada um pode então ver como a legislação e o trabalho das instituições do Estado devem estar, em particular, a serviço da família.

O Estado – frisou o Papa - é chamado a reconhecer a identidade da família fundada sobre o matrimônio e aberta à vida, e também ao direito primário dos pais à livre educação e formação dos filhos, de acordo com o projeto educacional que eles consideram válido e pertinente. Não se faz justiça à família, se o Estado não apóia a liberdade de educação para o bem comum de toda a sociedade.

Neste existir do Estado para os cidadãos, parece valiosa uma colaboração construtiva com a Igreja, certamente não para uma confusão de finalidades e papéis diferente e distintos do poder civil, mas pela contribuição que ela ofereceu e ainda pode oferecer à sociedade com a sua experiência, a sua doutrina, a sua tradição, as suas instituições e suas obras com as quais se colocada ao serviço do povo.

O Papa concluiu seu discurso às autoridades civis milanesas afirmando que “o tempo de crise que estamos atravessando tem necessidade, além de corajosas escolhas técnicas e políticas, de gratuidade, como tive ocasião de observar: “A cidade do homem” não é promovida apenas por relações de direitos e deveres, mas antes de tudo, por relações de gratuidade, de misericórdia e de comunhão”. (SP)








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