Rio de Janeiro (RV) - "Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura,
batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Nosso Deus é Uno e Trino:
Pai, Filho e Espírito Santo. Um só Deus e três pessoas distintas, que agem com a mesma
força, intensidade e graça. Têm a mesma natureza e substância. Agem inseparavelmente,
na mais perfeita unidade. Estamos diante do mistério central de nossa fé: o mistério
da Santíssima Trindade. Muitos teólogos e estudiosos buscam palavras que possam expressar
e explicar tal mistério. Uma das histórias mais interessantes sobre essas tentativas
está em Santo Agostinho. Embora a Trindade seja um mistério a ser adorado, contemplado
mais que explicado, não se deve deixar de lado a busca de compreender ainda mais a
Deus, que não quis esconder-se, mas, em toda a história humana, se faz revelar. Conta
a história que certo dia, estando Santo Agostinho a meditar numa praia do norte da
África, encontrou um menino, ainda criança, com uma pequena conchinha, tentando colocar
o mar num buraquinho na areia. Após contemplar por um instante aquele esforço todo,
Agostinho vai até o menino e lhe diz que é impossível tal empreendimento, ao que lhe
responde o menino, retrucando-lhe, que também ele não conseguiria entender e explicar
o mistério da Trindade. Não conseguimos, de fato, explicar tudo de Deus. Se assim
o fizéssemos deixaríamos de ser criaturas e ocuparíamos o lugar de criador. Santo
Tomás de Aquino explica que não podemos conhecer tudo de Deus não por falta de luzes,
de explicações, mas, por excesso. A revelação de Deus é tão grande e profunda que
ultrapassa nossa capacidade de compreender em sua totalidade, visto que Deus é infinitamente
maior do que nós e seu conhecimento e bondade em muito nos ultrapassam. Deus é eterno,
infinito, ilimitado e tudo pode. Nós somos criaturas limitadas e condicionadas a captar
a realidade das coisas segundo nossos cinco sentidos. Certamente se tivéssemos outros,
compreenderíamos o mundo sob outros e diversificados enfoques que não aqueles que
até agora conhecemos. A fé em Deus Uno e Trino é afirmada com toda clareza no Concílio
Lateranense com as seguintes palavras: "Cremos firmemente e afirmamos simplesmente
que há um só verdadeiro Deus, eterno, imenso e imutável, Pai, Filho e Espírito Santo:
três pessoas mas uma só essência, uma substância ou natureza absolutamente simples.
Reconhecer a Deus Uno e Trino também implica em várias atitudes para o ser humano.
Significa conhecer a grandeza, a soberania e a majestade de Deus, que governa seu
povo com braço forte, mão poderosa e coração aberto. Significa viver em ação de Graças.
Tudo o que somos e temos Dele nos advém. Tudo que Ele nos oferece é dom gratuito de
sua bondade e misericórdia. Significa conhecer a unidade e a verdadeira dignidade
de todos os homens, pois todos fomos criados à imagem e semelhança de Nosso Senhor.
Significa usar corretamente das coisas criadas: fazer com que tudo nos aproxime de
Deus e não permitir que nada nos desvie Dele. São Nicolau reza assim: "Meu Senhor
e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo
o que me aproxima de vós. Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-me
inteiramente a vós". Essa pequena oração nos inspira confiar em Deus em qualquer circunstância,
mesmo na dor e na adversidade. Significa reconhecer que somos mais felizes e plenos
quando vivemos em íntima e perfeita união, amando a todos e querendo o bem de todos.
Significa que a Trindade é modelo de perfeição e de comunidade. Que nela encontramos
o exemplo das virtudes a que somos chamados a viver. Busquemos, portanto, na Trindade,
a unidade na diversidade; a coragem e a sabedoria para guiar nossos passos no caminho
da paz e que o amor seja sempre mais uma realidade em nossas vidas.
† Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ